Oratório São José

UM JUIZ INJUSTO

Dom Fernando Rifan

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UM JUIZ INJUSTO

A justiça se define como equidade: “cuique suum”, a cada um o que é seu. É a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a cada o que lhe é devido. É quase sinônimo de isonomia, princípio geral do direito segundo o qual todos são iguais perante a lei, não devendo ser feita nenhuma distinção entre pessoas que se encontrem na mesma situação. Assim, da justiça decorre logicamente a imparcialidade. Juiz não pode ser parcial, nem estar sujeito a pressões de quem quer que seja a não ser da justiça. O que mais revolta as pessoas de bom senso é a parcialidade do juiz.

Nas paredes dos tribunais de justiça, costuma estar a imagem de Jesus crucificado, lembrando a todos a maior injustiça cometida contra um inocente por um juiz fraco, parcial, temeroso de perder o cargo, injusto e sujeito a pressões dos partidos dos inimigos de Cristo, mesmo diante da verdade por ele mesmo reconhecida da inocência do réu: Pôncio Pilatos, o governador Romano a quem foi apresentado Jesus inocente, acusado pelos seus inimigos. Nos tribunais, está lá o crucifixo para que nunca mais se repita tal injustiça.

“Em João 18, 34-35, fica claro que, com base nas informações que possuía, Pilatos nada tinha que pudesse incriminar Jesus e constituir um risco para a lei e a ordem. A acusação vinha do próprio povo de Jesus, das autoridades do templo” (Bento XVI no livro “Jesus de Nazaré II”).

Quando Pilatos ouviu a ameaça de que ele poderia perder o seu cargo se não condenasse Jesus, que se proclamava rei, a preocupação com a sua carreira se revelou mais forte do que qualquer escrúpulo de consciência. Mas Pilatos ainda tentou alguns expedientes. Apresentou Jesus como um candidato à anistia da Páscoa, buscando libertá-lo. “Ao fazê-lo, ele se coloca em uma situação fatal. Qualquer pessoa apresentada como um candidato à anistia é em princípio já condenada”. Em seguida, Pilatos mandou flagelar Jesus, que ele proclamara inocente. Ele contava erradamente com a compaixão dos acusadores. Mas, no direito penal Romano, a flagelação era a punição que acompanhava a sentença de morte, que, por fim, ele pronunciou.

Embora tivesse declarado Jesus inocente – essa verdade ele sabia -, “a grande ‘Verdade’ de que Jesus tinha falado ficou inacessível a Pilatos. Ou seja, no final das contas, o conceito pragmático, a solução prática, prevaleceu, sendo, para ele, mais importante do que a verdade.

Quando Jesus afirmou diante dele que era rei e que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, Pilatos lhe perguntou: “o que é a verdade?” E saiu, sem esperar a resposta. “Pilatos não estava sozinho em afastar esta pergunta como irrespondível e irrelevante para seus propósitos. Também hoje, em assunto político e na discussão dos fundamentos da lei, ela geralmente é experimentada como perturbadora. Se o homem vive sem verdade, a vida fica sem sentido para ele. Finalmente ele se entrega a quem é o mais forte. ‘Redenção’, no pleno sentido da palavra, somente pode consistir em que a verdade se torne reconhecível. E ela se torna reconhecível quando Deus se torna reconhecível. Ela se torna reconhecível em Jesus Cristo”.

Dom Fernando Arêas Rifan, Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

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