SÃO JOÃO DE SÃO FACUNDO (12/06)

SÃO JOÃO DE SÃO FACUNDO, Confessor – 3ª classe
Na antiga Espanha houve um mártir chamado Facundo que parece ter sido adotado como padroeiro da abadia de Sahagún ou São Facundo, no reino de Leão. Essa cidade foi a cidade natal de João e dela deriva seu sobrenome. Os monges beneditinos do referido mosteiro educaram-no durante os seus primeiros anos. Ainda era criança quando seu pai, Don Juan González de Castrillón, lhe proporcionou um pequeno benefício eclesiástico.
Aos vinte anos, o bispo de Burgos, por sua vez, concedeu-lhe o canonicato na sua catedral, apesar de o abade de Sahagún já lhe ter concedido três outros benefícios. O pluralismo foi um dos grandes abusos da época, mas em muitos círculos foi tolerado com complacência, como um mal necessário, tendo em vista a suposta escassez de estipêndios.
Ora, João, desde os primeiros anos da sua juventude, levou uma vida de absoluta retidão moral, verdadeiramente exemplar aos olhos dos cristãos comuns. À medida que envelhecia e raciocinava melhor, percebeu as muitas imperfeições de sua conduta e, auxiliado pela graça divina, decidiu seriamente consertar seus caminhos.
Em 1445, havia recebido ordens sacras e, desde então, sua consciência o repreendia por desobediência às ordenações da Igreja contra as pluralidades e assim, segundo seu critério, renunciou a todos os seus benefícios, com exceção da capela de Santa Ágata, em Burgos. Ali celebrava Missa diariamente, catequizava periodicamente os ignorantes e pregava, enquanto, em particular, levava uma existência de piedade e mortificação, dentro da estrita pobreza evangélica.
Foi nessa época que compreendeu que para melhor servir a Deus precisava de um conhecimento mais amplo de teologia e, imediatamente, obteve autorização do seu bispo para ir estudar na Universidade de Salamanca. Em quatro anos completou o curso e já conquistou magnífica reputação como pregador e diretor de almas, na paróquia de São Sebastião, em Salamanca, onde exerceu o seu ministério, ao mesmo tempo que na capelania da Colégio de São Bartolomé. Nove anos se passaram assim.
Então, São João adoeceu e teve que enfrentar a alternativa de passar por uma delicada operação cirúrgica ou perder a vida. Ele decidiu fazer a operação e jurou que, se isso salvasse sua existência, adotaria o hábito religioso. Como no final se saiu bem, pediu ingresso na comunidade dos frades agostinianos de Salamanca. O superior o admitiu imediatamente porque seus méritos eram bem conhecidos.
Um ano depois, em 28 de agosto de 1464, fez a profissão. Ele já havia adquirido tão completamente o espírito de seu governo que nenhum dos outros frades ficou mais mortificado, nem foi mais obediente, mais humilde ou mais desapegado do que João. Quando pregava, fazia-o com tanta eloquência e com tanto fervor que os seus sermões e exortações privadas realizaram o milagre de reformar completamente os costumes em toda Salamanca.
Teve o maravilhoso dom de reconciliar quem discordava e restaurar a harmonia em inúmeras disputas familiares que eram o assunto da sociedade, principalmente entre os jovens da nobreza. Ele não apenas induziu seus penitentes a perdoar as injúrias e a esquecer a vingança, mas também levou muitos deles a retribuir o mal com o bem.
Pouco depois da profissão, São João foi nomeado mestre de noviços, cargo que desempenhou com notável habilidade. Por sete vezes consecutivas foi o decisor e também ocupou o cargo de prior em Salamanca. O convento agostiniano era famoso pela sua disciplina e essa regra foi mantida e aumentada por São João, mais pelo seu exemplo do que pela sua severidade, pois a opinião sincera que todos tinham da sua santidade dava peso extraordinário aos seus conselhos e admoestações.
De resto, era dotado de um discernimento criterioso e de um notável poder de ler os pensamentos dos seus penitentes. Ouviu as confissões de todos os que o solicitaram, mas foi muito rigoroso ao negar, ou pelo menos adiar a absolvição, nos casos de pecadores reincidentes, ou de eclesiásticos que não viviam de acordo com o espírito da sua profissão.
O seu fervor na celebração do divino Sacrifício edificava todos os presentes, apesar de os seus superiores por vezes o repreenderem pelo longo tempo que passava celebrando a Missa. Diz-se também que São João foi um daqueles seres privilegiados a quem foi dada a graça de contemplar, com os olhos, a forma humana de Nosso Senhor no momento da Consagração.
As graças que recebeu pelas suas orações e comunhões investiram-no de coragem e eloquência no púlpito. Independentemente do grau ou da qualidade das pessoas, ele lutou contra o vício com tal vigor que muitas vezes levou à perseguição e até à violência física.
Certa vez, ele fez um sermão em Alba, no qual denunciou e condenou firmemente os ricos proprietários de terras que oprimiam os seus trabalhadores pobres; a pregação tocou tão profundamente o duque de Alba que, cego pela fúria, pagou dois assassinos profissionais para matar o ousado pregador. No entanto, os dois capangas, ao estarem na presença da suposta vítima, sentiram-se tomados por um profundo remorso, e naquele momento confessaram as suas intenções e pediram humildemente perdão.
Noutra ocasião, uma certa mulher cuja frivolidade o santo reprovava, começou a atirar-lhe pedras ao encontrá-lo na rua e, se não lhe causou ferimentos graves, foi porque oportunamente apareceu uma ronda de arqueiros que a deteve.
Um personagem proeminente, cujas relações vergonhosas com uma mulher que não era sua esposa causaram o maior escândalo de Salamanca, rompeu abrupta e definitivamente a sua relação ilícita, graças às admoestações de São João. A mulher abandonada jurou que se vingaria do santo homem; e é crença geral que a dolorosa doença estomacal que o levou ao túmulo foi causada pelo veneno que lhe foi administrado por instigação da mulher desprezada.
São João morreu em 11 de junho de 1479. Numerosos milagres lhe deram glória, antes e depois de sua morte. Ele foi canonizado em 1690.
(BUTLER Alban de, Vida de los Santos: vol. II, ano 1965, pp. 524-526)

