SÃO GIL (01/09)

SÃO GIL, Abade – Comemoração
Durante longos séculos, São Gil [também conhecido como Egídio] gozou de celebridade generalizada. Tanto as inúmeras obras de arte que o representam ou que recordam algum episódio da sua legenda, como as igrejas, capelas, altares colocados sob o seu patrocínio, atestam o quão caro era o seu culto à piedade cristã. Entre os santos auxiliares, ele foi um dos mais invocados.
O ermitão – Sua vida era muito simples. Acredita-se que seja de origem grega; e a coisa parece duvidosa.
O que apresenta maiores garantias de certeza é a sua vida solitária numa gruta às margens do Gardón, onde São Fredemo, seu antecessor como eremita, o instruiu nos segredos da contemplação. Então, São Gil deixou seu mestre. Estabeleceu-se um pouco mais ao sul, na floresta que se estendia ao longo da margem direita do Pequeno Ródano, não muito longe da costa do Mediterrâneo.
E ali permaneceu ignorado até que um dia alguns caçadores atacaram uma corça e descobriram o seu retiro. O animal, ao latido dos cães, agachou-se no mato, ali ao lado do santo; a matilha não se atreveu a se aproximar; um arqueiro disparou a sua flecha e os seus companheiros, abrindo caminho entre os arbustos, descobriram São Gil com a mão flechada de um lado para o outro.
O que foi dito aconteceu no ano de 673, ou pouco depois, quando o rei dos visigodos, Wamba, chamado Flávio, por confusão com o seu sucessor, acabava de atravessar os Pirenéus: ia fazer valer os seus direitos no país que chegava o Ródano, a Septimania. Os caçadores eram oficiais do rei; o próprio Wamba os acompanhou.
Este incidente, pelo menos pitoresco e trágico sob certos aspectos, tornou-se um tema frequentemente proposto aos artistas. No início foi a oportunidade de fundar um mosteiro. E, de fato, esse é o destino de muitos eremitas: fogem para mergulhar no infinito; mas “como a lâmpada não pode ficar debaixo do alqueire”, eles se tornam líderes; sua fama se espalha por muito tempo e às vezes por todo o mundo.
Não foi exatamente isso que aconteceu no caso de São Gil, pelo menos durante a sua vida terrena. A história não preservou nada dele, pois a história das suas viagens a Orleans, perto do rei dos francos, ou a Roma, para ver o Papa Bento II, presta-se a sérias críticas. A primeira destas viagens gozou de grande fama: sob o nome de Missa de São Gil, dizia-se que, ao celebrar o Santo Sacrifício do altar, um Anjo lhe revelou um pecado secreto do Rei; o Anjo acrescentou que a culpa seria perdoada pelas orações do Santo, pois “todo aquele que o invoca obterá o perdão”.
O mosteiro de São Gil – O mosteiro, tal como o seu titular, permaneceu nas trevas até que se organizaram as grandes peregrinações da Idade Média. A sua posição geográfica colocou-o ao mesmo tempo numa das várias estradas para Santiago, e fez dele um itinerário para a Terra Santa: como albergue e porto de embarque, participou nessas grandes correntes de intercâmbio, ao longo das quais se desenvolveu a épica legenda de Carlos Magno.
O próprio São Gil foi incluído no ciclo, e é justamente isso que torna hoje tão difícil conhecer com exatidão a sua vida, ao mesmo tempo que é ela que constitui a sua glória. O seu mosteiro situava-se entre as grandes abadias, e o que resta da igreja com as magníficas esculturas nas portas é suficiente para nos dar uma ideia da sua importância.
O Santo Auxiliar – Antes de embarcar numa longa e perigosa viagem, o peregrino confia-se a São Gil; nele deposita a sua confiança o homem de armas, que vem a Espanha para lutar contra os mouros. Visitavam frequentemente o mosteiro ou simplesmente uma das muitas capelas que se erguem por toda a cristandade em homenagem a São Gil, os desafortunados, os aflitos, os pobres, até os titereiros. Febres, convulsões, epilepsia correm por conta própria; aqui ele protege o colono; protege mendigos e aleijados; Menestréis e charlatões são seus clientes: “gentil São Gil, padroeiro dos infelizes”. Mas o seu favorito é um senhor poderoso: o líder do Languedoc tolosano leva o título de Conde de São Gil, desde que Ramón, o primeiro entre os grandes senhores feudais, tomou a cruz para libertar a Terra Santa.
Mas a areia invadiu o porto; mais perto da costa, São Luís constrói Aiguesvives. As peregrinações não são menos brilhantes por isso. Mais tarde, a abadia começou a declinar, mas São Gil continuará a ser popular por muito tempo. Os modernos esqueceram-no em grande parte, embora o seu túmulo tenha voltado a ganhar uma certa celebridade devido à peregrinação vizinha de Santa Maria que hoje atrai para lá aquela multidão heterogênea de boêmios e acrobatas. E apesar disso, como a Igreja preserva o culto a São Gil, não haveria algum benefício ou favor para quem o invocasse e isto principalmente nas igrejas e oratórios colocados sob o seu nome, onde tantas gerações pediram a proteção de Deus por seus santos?
(GUERANGER, Dom Prospero. El Año Litúrgico: tomo V, ano 1954, pp. 315-319)

