Oratório São José

SÃO FILIPE E SÃO TIAGO (11/05)

Santo do dia

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SÃO FILIPE E SÃO TIAGO, Apóstolos – 2ª classe

São Filipe era originário de Betsaida da Galiléia. Aparentemente, ele fazia parte do pequeno grupo de judeus piedosos que seguiam São João Batista. Os Evangelhos Sinóticos apenas mencionam Filipe na lista dos Apóstolos, mas São João fala dele várias vezes e narra, em particular, que o Senhor chamou Filipe no dia seguinte às vocações de São Pedro e Santo André. Um século e meio depois, Clemente de Alexandria afirmou que Filipe foi o jovem que respondeu ao chamado do Senhor com estas palavras: “Deixai-me ir, primeiro, enterrar meu pai”. Ao que Cristo respondeu: “Deixai que os mortos enterrem seus os mortos; vós, vinde pregar o Reino de Deus” (Lucas 9, 60). É provável que Clemente de Alexandria não tivesse outro argumento senão o fato de que o Senhor havia dito em ambos os casos: “Siga-me.”

Em todo o caso, tanto no Evangelho de São Lucas como no de São Mateus, o incidente parece ter ocorrido algum tempo depois de Cristo ter começado a sua vida pública, quando os Apóstolos já estavam com ele. Por outro lado, sabe-se que São Filipe foi chamado antes das bodas de Caná, embora, como disse o próprio Cristo, ainda não tivesse chegado a sua hora, ou seja, ainda não tivesse iniciado a sua vida pública.

Da narrativa evangélica fica claro que Filipe respondeu sem hesitação ao chamado do Senhor. Embora ainda não conhecesse a fundo Cristo, pois afirmava ser “filho de José de Nazaré”, imediatamente foi em busca de seu amigo Natanael (quase certamente o apóstolo Bartolomeu) e disse-lhe: “Nós encontramos Aquele de quem escreveu Moisés, no livro da Lei, e os Profetas”. Isto prova que Filipe já estava plenamente convencido de que Jesus era o Messias. Porém, seu zelo não foi indiscreto, pois não tentou impor sua descoberta pela força. Quando Natanael objetou: “Mas pode sair alguma coisa boa de Nazaré?”, ele não gritou aos céus, mas convidou o amigo a se convencer: “Vinde e vede”.

Filipe também figura na cena da multiplicação dos pães: “Jesus, levantando os olhos, viu a grande multidão que o seguia e disse a Filipe: Onde podemos comprar pão suficiente para você comer? porque Ele sabia o que iria fazer”. Mais uma vez, o bom senso de Filipe ficou evidente e ele respondeu: “Duzentos denários não seriam suficientes para dar um pedaço de pão a cada pessoa”.

Adapta-se perfeitamente ao caráter de Filipe, que se esquivava um pouco às responsabilidades, ao seu modo de agir quando alguns gentios que estavam a caminho para celebrar a Páscoa em Jerusalém se aproximaram dele e disseram: “Senhor, queremos ver Jesus”. Em vez de responder imediatamente, foi pedir um conselho: “Filipe foi falar com André; e André e Filipe conversaram com Jesus”.

Outra cena mostra a seriedade e lealdade de Felipe e, ao mesmo tempo, sua falta de intuição. Na véspera da Paixão, o Senhor disse aos seus discípulos: “Ninguém vai ao Pai senão por Mim.” Filipe lhe disse: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta”. Jesus disse-lhe: “Há tanto tempo que estou convosco e ainda não me conheces! Filipe, quem me vê, vê o Pai” (João, 14, 6-9).

Nada mais sabemos sobre Filipe, exceto que ele estava com os outros discípulos no Cenáculo, aguardando a vinda do Espírito Santo, no Pentecostes.

Por outro lado, Eusébio, o historiador da Igreja, e alguns escritores da Igreja primitiva, preservaram-nos alguns detalhes sobre a tradição relativa à vida posterior de Filipe. O mais plausível destes detalhes é que ele pregou o Evangelho na Frígia e morreu em Hierápolis, onde também foi sepultado. Sir W. M. Ramsay encontrou, nos túmulos daquela cidade, um fragmento de inscrição referente a uma igreja dedicada a São Filipe.

Sabemos também que Polícrates, bispo de Éfeso, escreveu ao Papa Vítor no final do século II para lhe contar sobre duas filhas do Apóstolo que viveram virgens até uma idade muito avançada em Hierápolis e também menciona outra filha de Filipe que havia sido sepultado, em Éfeso.

Papias, que era bispo de Hierápolis, aparentemente conhecia pessoalmente as filhas de São Filipe e soube delas que o milagre da ressurreição de um morto era atribuído ao Apóstolo. Por volta do ano 180, Heracleon, o gnóstico, sustentou que os apóstolos Filipe, Mateus e Tomé haviam morrido de morte natural; mas Clemente de Alexandria afirmou o contrário, e a opinião predominante é que Filipe foi crucificado, de cabeça para baixo, durante a perseguição de Domiciano. Um detalhe que obscurece muito a questão é a confusão que sem dúvida existiu entre o apóstolo Filipe e o diácono Filipe, às vezes também chamado de Evangelista, que ocupa lugar de destaque no capítulo 8 dos Atos dos Apóstolos.

Afirma-se que ambos os Pilipes tiveram filhas que gozaram de consideração especial na Igreja primitiva. A tradição diz que os restos mortais de São Filipe foram trasladados para Roma e repousam na Basílica dos Apóstolos, desde a época do Papa Pelágio (561 p. c.). Um documento grego apócrifo, datado pelo menos do final do século IV, pretende narrar as atividades de evangelização de São Filipe na Grécia, entre os partos e em outras regiões; quanto à morte e sepultamento de Filipe em Hierápolis, este documento está em conformidade com a tradição recebida.

O Apóstolo Tiago, o Menor (ou o jovem), que a liturgia associa a São Filipe, é normalmente considerado o personagem designado pelos nomes de “Tiago, filho de Alfeu” (Mt. 10, 3; Atos 1, 13) e “Tiago, o irmão do Senhor” (Mt. 13, 55; Gal. 1, 19). Talvez ele também seja identificado com Tiago, filho de Maria e irmão de José (Mc 15, 40). Mas não vamos discutir aqui o complicado problema dos “irmãos do Senhor”, nem as questões a ele relacionadas. Podemos supor, como faz Alban Butler, que o apóstolo Tiago, que foi bispo de Jerusalém (Atos 15 e 21, 18), era filho de Alfeu e irmão (isto é, primo-irmão) de Jesus Cristo. Embora os Evangelhos mal falem deste Apóstolo, São Paulo diz que ele foi favorecido com uma aparição particular do Senhor, antes da Ascensão.

Além disso, quando São Paulo foi a Jerusalém, três anos depois da sua conversão e os apóstolos que ainda estavam na cidade o olharam com alguma desconfiança, Tiago e São Pedro acolheram-no cordialmente. Sabemos também que, depois de escapar da prisão, Pedro enviou esta notícia a Tiago, o que parece indicar que ele era uma figura importante entre os cristãos em Jerusalém.

No Concílio de Jerusalém, onde foi determinado que os gentios não precisavam ser circuncidados para serem admitidos como cristãos, Tiago tomou para si, depois de ouvir a opinião de São Pedro, formular a decisão da assembleia com estas palavras: “Pareceu ao Espírito Santo e a Nós…” (At 15). Clemente de Alexandria e Eusébio afirmam explicitamente que Tiago era o bispo de Jerusalém. O mesmo historiador judeu, Josefo, testemunha a grande estima em que Tiago era tido e declara – segundo Eusébio – que as terríveis calamidades que a cidade sofreu foram apenas um castigo pela forma infame como tratou “o melhor dos homens”. Eusébio preservou-nos, no parágrafo que citamos a seguir, o relato que Hegésipo fez do martírio de Tiago, no final do século II:

“Tiago, irmão de Nosso Senhor, recebeu junto com os outros Apóstolos o encargo de governar a Igreja. Desde o tempo do Senhor até os dias de hoje, todos o chamam de ‘o Justo’ para distingui-lo de muitos outros Tiagos. Era santo desde o ventre de sua mãe. Ele não bebia vinho nem bebidas embriagantes, nem comia nenhum alimento proveniente de um ser vivo. A navalha nunca tocou sua cabeça, não usava túnica de lã, mas sim de linho (isto é, paramentos sacerdotais). Ele entrou sozinho no santuário e caiu de joelhos para orar pelo povo, de modo que seus joelhos ficaram tão insensíveis quanto os de um camelo, pois continuamente se ajoelhava para adorar a Deus e pedir perdão pelos pecados do povo. Sua grande justiça lhe rendeu o nome de ‘o Justo’. Também foi chamado de ‘Oblías’, ou seja, protetor do povo. Muitos dos que criam deviam sua fé a Tiago. Como muitos dos líderes se converteram, os judeus, os escribas e os fariseus começaram a murmurar: ‘Em algum tempo, todos acreditarão em Jesus’. Então foram à procura de Tiago e disseram-lhe: ‘Rogamos-te que moderes o povo, porque se voltam para Jesus, imaginando que ele é o Messias. Rogamos-te que fales claramente de Jesus a todos os que vêm à festa, pois todos temos confiança em ti; todos confessamos, juntamente com o povo, que tu és justo e que não és um aceitador de pessoas. Então, convença a multidão a não se deixar desviar por Jesus, pois verdadeiramente, nós com todas as pessoas temos confiança em ti. Suba, portanto, ao pináculo do templo para que todas as pessoas possam te ver e ouvir facilmente, já que todas as tribos e os próprios gentios se reuniram por ocasião da festa. Então, os mencionados escribas e fariseus conduziram Santiago ao pináculo do templo e disseram-lhe em voz muito alta: ‘Ó tu, Justo, em quem todos temos plena confiança; vendo que todo o povo se desvia por causa de Jesus, o crucificado, explica-nos qual é a porta de Jesus!’ (cf. João, 10, 1-9). E ele respondeu, também em voz muito alta: ‘Por que me perguntas sobre o Filho do Homem, que está sentado à direita do Todo-Poderoso e um dia descerá sobre as nuvens do céu?’ Como muitos acreditaram e deram glória a Deus por este testemunho de Tiago, gritaram: ‘Hosana ao Filho de David!’, os escribas e fariseus disseram a si mesmos: ‘Erramos ao permitir este testemunho sobre Jesus. Vamos jogá-lo do pináculo do templo para que o povo tenha medo e não acredite no seu testemunho’. Então eles gritaram: ‘Meu Deus, então, o Justo também se deixou enganar?’ E cumpriram a palavra de Isaías na Escritura: ‘Suprimamos o Justo, porque ele é um estorvo. Assim terão que comer do fruto das suas próprias ações’. E, subindo ao pináculo, de lá lançaram o Justo. E disseram entre si: ‘Vamos apedrejar Tiago, o Justo’. E começaram a apedrejá-lo, porque ainda não estava morto. Tiago ajoelhou-se e disse: ‘Pai, rezo para que os perdoe, pois eles não sabem o que fazem’. Enquanto continuavam a apedrejá-lo, um dos sacerdotes dos filhos de Recabe, filho de Recabim, de quem o profeta Jeremias havia testemunhado, gritou-lhes: ‘O que estão fazendo? Parem de apedrejá-lo! O Justo está orando por vós!’ E um deles, que era lavandeiro, pegou o bastão com que batia as roupas e o lançou na cabeça do Justo. Foi assim que Santiago foi martirizado. O povo o enterrou ali mesmo, próximo ao templo e seu túmulo ainda está próximo ao templo.”

Josefo conta o evento de forma um pouco diferente e não diz que Tiago foi atirado do pináculo do templo. Mas ele relata que foi apedrejado até a morte e situa os acontecimentos no ano 62. É interessante notar, em relação à festa litúrgica da Cátedra de São Pedro, que Eusébio diz que os cristãos de Jerusalém ainda preservavam e veneravam o trono ou cátedra de São Tiago. Tiago é normalmente considerado o autor da epístola do Novo Testamento que leva o seu nome, cuja insistência no valor das boas obras incomodava tanto aqueles que pregavam a justificação somente pela fé.

(BUTLER Alban de, Vida de los Santos: vol. II, ano 1965, pp. 256-259)

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