SÃO COSME E SÃO DAMIÃO (27/09)

SÃO COSME E SÃO DAMIÃO, Mártires – 3ª classe
Honra aos médicos – “Honra o médico, por causa da necessidade; com efeito, foi o Altíssimo que o criou. O Altíssimo produziu da terra os medicamentos; o homem prudente não os aborrecerá. Porventura não foi por meio dum lenho que se tornou doce a água amargosa? Ao conhecimento dos homens chegou a virtude dos medicamentos. O Altíssimo deu aos homens a ciência para ser por eles honrado nas suas maravilhas. Com eles cura e mitiga a dor; o farmacêutico faz compostos agradáveis, compõe unguentos salutares, de forma que as criaturas de Deus não pereçam. Filho, não te descuides na tua enfermidade, mas faze oração ao Senhor, e ele te curará. Aparta-te do pecado, endireita as tuas mãos, purifica o teu coração de todo o delito. Oferece um (incenso de) cheiro suave, uma lembrança de flor de farinha imola vítimas pingues; (depois disto) dá lugar ao médico, pois para isso é que o Senhor o estabeleceu. E não se aparte de ti, porque te é necessária a sua assistência. Virá tempo em que cairás nas mãos deles, e eles mesmos rogarão ao Senhor que envie por meio deles o alívio e a saúde, em atenção à sua vida reta.[1]
Palavras de Sabedoria que convém citar nesta festa. Fiel ao preceito divino antes de qualquer outra pessoa, a Igreja hoje honra em Cosme e Damião esta carreira da medicina na qual tantos outros alcançaram a santidade.[2]
Jesus Cristo e o sofrimento – Seria um grande erro pensar que a Igreja, preocupada com a salvação das almas e convencida de que o sofrimento é para elas fonte de imensos méritos, se desinteressa do corpo dos fiéis e das misérias que os afligem.
Não foi Nosso Senhor Jesus Cristo o primeiro que se manifestou no Evangelho como Médico das almas e dos corpos? A maioria de seus milagres visava curar doenças e enfermidades e até mesmo ressuscitar os mortos. Se a piedade do seu coração chegava até a alma daqueles infelizes que existiram antes dele, e aí ele levava o remédio dando a graça da contrição e do perdão dos pecados, ele não esqueceria a doença física, pelo contrário, também a cura com o mesmo poder e com a mesma bondade.
A Igreja e o sofrimento – Depositários do poder dos milagres, os Apóstolos continuaram a missão do seu Mestre e o livro dos Atos nos conta que o primeiro milagre de São Pedro foi curar um pobre homem, coxo de nascença.
Desde quando a Igreja obteve liberdade, fundou não só escolas para a instrução e educação dos jovens, mas também hospitais para idosos e enfermos. Através da sua doutrina, de toda caridade e mansidão, através do seu exemplo de abnegação e sacrifício, ela incutiu em muitos dos seus filhos o pensamento e o desejo de se entregarem ao serviço dos atribulados.
Com o tempo, foram fundadas numerosas Congregações para cuidar dos enfermos: Irmãos de São João de Deus, Irmãs de São Vicente de Paulo, etc., e há milhares de hospitais em nossas regiões e nos países de Missões, os dispensários. onde religiosos e religiosas curam, com uma indiscutível abnegação que provoca admiração geral, todas as misérias da pobre raça humana.
Jesus Cristo e seus irmãos sofredores – É verdade que esta atividade generosa se exerce por um amor desinteressado pelos pobres enfermos; mas também é verdade que a razão principal é o amor a Cristo, que continua a sofrer nos seus infelizes membros.
Ao curar os enfermos, o enfermeiro e a enfermeira olham mais longe: olham para o Senhor que sofre: por amor desprezam a repugnância natural, ignoram o cansaço que os cuidados e as vigílias lhes causam, ignoram todas as dificuldades que encontram no paciente ou no que o rodeia; e não pedem remuneração nem recompensa.
Mas a recompensa é certa: muitas vezes a dos homens, mas principalmente e infalivelmente, a de Deus. O contato com Deus é saudável, santificador. O próximo age como Deus. E é por isso que Ele é servido no próximo, e até Ele aumenta o carinho que é dispensado ao próximo. Um copo de água que se oferece em seu nome não ficará sem recompensa: a partir de agora as suas graças cairão abundantemente sobre aqueles que assim o servem e, no dia do julgamento, ouvirão com alegria o que o Supremo Juiz lhes diz: “Eu estava doente e tu me visitaste!”[3]
Os Santos médicos – Portanto, não é de admirar que uma grande multidão de almas tenha sido santificada no exercício constante da caridade fraterna. A Ladainha dos Santos Médicos lista 57 nomes e ainda está muito incompleta, pois seria necessário acrescentar os nomes dos Santos que, sem terem obtido o diploma ou o título de doutor em medicina, ainda assim dedicaram suas vidas ao cuidado dos enfermos.
Devem também ser incluídos os nomes dos missionários mártires que, com a sua fé, levaram a regiões distantes a decisão de se dedicarem a aliviar todos os sofrimentos físicos. Os anjos mantêm atualizada a lista deste Livro Dourado, onde leremos na eternidade as maravilhas que a caridade operou nas almas generosas e as que realizou, que são ainda maiores.
Vida – Seria mais fácil contar a história do culto dos santos Cosme e Damião do que dar detalhes de sua vida e morte. A tradição nos conta que eram irmãos, médicos, árabes e, em suma, que deram a vida por Jesus Cristo. Começou seu culto em Ciro, cidade no norte da Síria; no século V ali tinham uma basílica e, em 530, o peregrino Teodósio constata que também foram martirizados naquela cidade.
A sua fama espalhou-se rapidamente e vestígios do seu culto são encontrados na Cilícia, em Edessa, no Egito. O Papa Símaco (498-514) dedicou-lhes um oratório em Roma e Pulgência um mosteiro na Sardenha, em 520.
No século VIII, Gregório II instituiu uma Missa estacional para a quinta-feira da terceira semana da Quaresma, e fixou-a na igreja dedicada a estes Santos, que, nos nossos dias, foram declarados Padroeiros de uma associação de médicos católicos e também de escolas médicas.
Oração a São Cosme e São Damião – Extraímos do missal moçárabe uma magnífica oração para implorar a proteção de São Cosme e São Damião:
“Ó Deus, eterno Médico que nos curais, que tornastes Cosme e Damião inquebráveis na fé, invencíveis na coragem, para que através das suas feridas as feridas humanas tivessem remédio.
Antes da sua paixão, com a medicina deste mundo conseguiram saúde para as pessoas; nomeai-os, nós vos suplicamos, guardiões e médicos de nossas enfermidades. Que eles curem todas as nossas doenças. Graças a eles a cura não tenha recaída; por meio deles, corpos e almas encontrem o remédio. Ponham fim às enfermidades secretas da alma; outorguem rápida cura a enfermidades sensíveis.
Com sua intercessão limpem o pus das feridas. Com os dedos de sua oração purifiquem o interior dos feridos. Que se coloquem adiante das misérias humanas para remediá-las. Apressem-se em aliviar caridosamente os fardos que os homens colocam sobre si mesmos. E, deste modo, nos conservem completamente livres da doença do pecado e nos guiem à pátria celestial para ali sermos coroados. Amém.”
Oração a todos os Santos Médicos – Concluímos com uma oração a todos os Santos Médicos para nos recomendarmos à sua benévola solicitude:
“Ó todos vós, Santos de Deus, ilustres na profissão médica e na caridade com que cuidastes dos enfermos indigentes, sois honrados e venerados pela Igreja Católica! E, antes de tudo, vós, ó São Lucas, Evangelista de Nosso Senhor Jesus Cristo, príncipe e patrono dos Médicos cristãos; vós, ilustres médicos, Cosme, Damião, Pantaleão, Ursino, Ciro de Alexandria, César de Bizâncio, Codrato de Corinto, Eusébio o Grego, Antíoco de Sebaste, Zenóbio de Egeia; e vós também, santos e dulcíssimos consoladores dos enfermos, curadores das suas doenças, especialistas na arte da medicina: Teodósia, a ilustre mártir, mãe de São Procópio, também mártir, Nicerata de Constantinopla, Hildegarda, virgem de Mainz, Francisca Romana, a quem a vossa caridade para com os pobres enfermos e os vossos milagres tornaram tão gloriosamente famosa a vossa caridade para com os pobres enfermos e os teus milagres: intercedei por nós juntamente com Aquele por quem vivestes na fé e na caridade, e por cujo amor praticastes a medicina, para que doravante nós, vossos imitadores na santidade cristã e na caridade com que cuidastes dos pobres enfermos, passemos a vida na piedade e na paciência e considerando os magníficos e gloriosos honorários de bem-aventurança eterna que finalmente receberemos de nossos Generoso Jesus Cristo, que vive e reina para todo o sempre. Amém.”
(GUERANGER, Dom Prospero. El Año Litúrgico: tomo V, ano 1954, pp. 477-483)
[1] Eclesiástico 38, 1-15.
[2] Dom A. M. Fournier, Notices sur les Saints médicins.
[3] Mateus XXV, 36.

