SÃO CIPRIANO e SANTA JUSTINA (26/09)
SÃO CIPRIANO, Mártir e SANTA JUSTINA, Virgem e Mártir – Comemoração
As “Atas” de São Cipriano – As Atas de São Cipriano nos contam que ele era um mágico. Ele se comunicou com o diabo e pediu-lhe que seduzisse uma jovem, chamada Justina, para que ela concordasse em se casar com um de seus clientes. O diabo não conseguiu nada e, quando lhe pediu explicações, confessou que a jovem o fez fugir com o sinal da cruz.
Cipriano foi convertido por esta revelação e, na sua Confissão, estava determinado a provar que o diabo, que parece tão temível, na verdade vale muito pouco contra uma alma que confia na cruz do Salvador.
Se os historiadores não aceitam as Atas ou a Confissão de Cipriano, podemos pelo menos reter a lição que estes dois documentos nos ensinam sobre o diabo. E talvez esta lição seja hoje mais atual do que nunca, pois parece que muitos estão se esforçando para lançar o diabo no esquecimento, ao mesmo tempo que a bruxaria, a magia e o satanismo se intensificam, e alguns negam a existência do inferno, como contrário à infinita bondade de Deus.
Satanás – Não se pode negar que o diabo existe, pois as Sagradas Escrituras demonstram a sua existência e a sua ação em todos os lugares. Mas é preciso conhecê-lo para combatê-lo bem, desmascará-lo e derrotá-lo: esta é a vitória de Deus, assim como a nossa…
Seu poder e sua fraqueza – “Nas Escrituras o diabo nos é representado, forte, poderoso e temível por natureza, que é sempre derrotado pelo homem frágil e desarmado, se ele depositar sua confiança em Deus. E até se vê claramente que Deus, para humilhá-lo ainda mais, tem o prazer de derrubar o seu orgulho com os instrumentos mais fracos. Deus quer essa luta: cabe a Ele cobrar essa glória, que tem um sabor especial para Ele…”
“Desprezando aquele monstro, o Espírito Santo nos dá a conhecer a sua natureza temível, podendo assegurar que não há poder no mundo que se compare a ele… Mas este poder tem o seu limite; nossa alma é um santuário que guarda a vontade e ninguém pode penetrá-la através da violência. O pai da mentira não pode trabalhar diretamente na parte superior da nossa alma; a ação sobre ela ocorre apenas por meio de ressonância. As tentações que pode criar afetam apenas a parte sensível do nosso ser, uma parte que é indignamente usada em seu próprio benefício e, assim, perturbando a nossa inteligência e vontade através dela.”
Nossas armas – “É, portanto, de grande importância que a divisão entre nós e o diabo seja perfeita e que a alma se torne seu antagonista determinado. Nessa parte não há solução possível; é preciso derrotar ou ser vítima deste inimigo, a quem Nosso Senhor chamou de homicida.”
“A vigilância e a oração são as duas armas preventivas que nem sequer deixam entrar a tentação; porque se ela se infiltra disfarçada na nossa indolência, quando queremos perceber, é quase a dona do campo. A vigilância é para a nossa alma uma sentinela que a avisa do perigo, enquanto a oração nos aproxima de Deus, que é o nosso verdadeiro muro de defesa inexpugnável… Eis uma verdade certa e muito consoladora que não há nada no mundo que possa roubar de nós. Nunca é demais repetir: toda a força do inimigo consiste no nosso conluio com ele. Se formos fiéis em nos cobrir com o escudo da fé, em todas as circunstâncias nos tornaremos invulneráveis”.[1]
Vida – O fato de São Gregório de Nazianzo e, mais tarde, Prudêncio, terem mesclado o que sabemos de São Cipriano de Antioquia com outros atos do seu homônimo de Cartago, e o fato de os gregos nunca terem celebrado mais do que um santo com este nome, além de a falta de indicações satisfatórias sobre o local para onde foram transferidas as relíquias do mártir de Antioquia, induziram-nos a pensar se talvez não houve aqui uma transformação de São Cipriano, um retórico pagão antes da sua conversão, num Cipriano dedicado à magia; posteriormente dividido em dois personagens distintos e, por fim, atribuição de um deles a Antioquia. As listas episcopais desta cidade não incluem o seu nome nem o dos outros bispos mencionados nas Atas. Os Bolandistas (Ann. Bol., XXXIX, 314332) acreditam que são um único personagem.
Não sabemos nada sobre Santa Justina. O culto em homenagem aos santos Cipriano e Justina entrou em Roma na Idade Média, alegando que suas relíquias haviam sido encontradas próximo ao Latrão. Depois sua festa foi introduzida no Breviário Romano.
Oração – Favoreça-nos, Senhor, a contínua proteção dos Vossos Bem-aventurados Mártires Cipriano e Justina, porque não deixais de acolher benignamente aqueles aos quais concedeis a assistência de tais auxílios. Por Cristo Nosso Senhor.
(GUERANGER, Dom Prospero. El Año Litúrgico: tomo V, ano 1954, pp. 473-477)
[1] Mme. Cécile Bruyère: La Vie spirituelle et l’Oraison, c. XIII.


