SÃO BERNARDO (20/08)

SÃO BERNARDO, Abade e Doutor – 3ª classe
Glórias de São Bernardo – “Eis que a Rainha sentou-se depois de seu único Filho no festim eterno. Então, como o nardo que espalha seu perfume, Bernardo entregou sua alma a Deus”. Sem dúvida foi para recompensá-lo por ter sido seu fiel cavaleiro e tão amoroso e eloquente cantor de toda a sua grandeza, que Maria veio procurar Bernardo durante a Oitava da sua gloriosa Assunção.
O Menológio cisterciense lembra todos os anos aos seus filhos a figura gloriosa e os méritos do primeiro Abade de Claraval: “No claustro ele se exercita maravilhosamente no jejum, na oração, nas vigílias, levando uma vida completamente celestial na terra. Sem descuidar da obra da sua perfeição, trabalha com zelo e sucesso na santificação dos seus; ele também é forçado a se apresentar ao mundo. Aconselhar os Papas, pacificar os reis, converter os povos; ele extermina a heresia, abole o cisma, prega a cruzada, recusa bispados, faz milagres incontáveis, escreve obras admiráveis e mil cartas. Aos 63 anos, quando morreu, já havia fundado 150 mosteiros, e 700 religiosos choraram por ele em Claraval. O Papa Alexandre III inscreveu-o no catálogo dos Santos e Pio VIII, em 1830, conferiu-lhe o título de Doutor da Igreja Universal. Os elogios são grandes, mas não exagerados”.
Inumeráveis são os títulos que foram dados àquele que veio a Claraval para buscar na humildade da vida monástica, o silêncio, a facilidade de fazer penitência e de rezar enquanto chegava a morte que o unisse ao seu Deus. Aquele que procurava ser esquecido por todos tornou-se, a despeito de si mesmo, o homem de quem o seu século não poderia prescindir, aquele que iria exercer uma influência ímpar sobre os seus compatriotas e que na história continuaria a ser uma das figuras mais importantes nobres e mais atraentes da Igreja e de sua pátria.
Bossuet, num famoso panegírico, representou-o na sua cela estudando a cruz de Jesus, depois na cadeira sagrada e ao longo das estradas da Europa, pregando essa mesma cruz.
Mas, antes dele, Alexandre III o chamou de “a luz de toda a Igreja de Deus pela tocha da sua fé e da sua doutrina”; São Tomás de Aquino: “O escolhido de Deus, a pérola, o espelho e o modelo de fé; a coluna da Igreja, o vaso precioso, a boca de ouro que embriagou o mundo inteiro com o vinho da sua doçura”; e São Boaventura o chamou de: “o grande contemplativo, de máxima eloquência, cheio de espírito de sabedoria e de eminente santidade”; e demoraríamos muito se citemos o nome e o louvor dos Santos que o veneraram e saborearam a sua doutrina “melíflua”, de Santa Gertrudes e Santa Mectildis a Santo. Luís Gonzaga e Santo Afonso Ligório.
O cavaleiro de Nossa Senhora – Mas o que nos deveria impressionar especialmente nos dias de hoje, o que deveria bastar para dar glória a São Bernardo, é que ele foi o cantor e cavaleiro de Nossa Senhora. “Ele foi, diz Bossuet, o mais fiel e o mais casto de seus filhos; aquele que mais honrou a sua maternidade gloriosa entre todos os homens, aquele que acreditou devia aos seus cuidados e à sua caridade materna a influência contínua das graças que recebeu do seu divino Filho”.
A legenda conta que um dia os Anjos lhe ensinaram na Igreja de São Benigno em Dijon, a Salve Regina, e que certa vez a Virgem deixou correr até seus lábios algumas gotas do leite com que Jesus havia se alimentado. Mas seja o que for, Bernardo nunca foi mais eloquente ou mais persuasivo do que quando falou de Maria.
Os seus discursos a apresenta-nos em todos os mistérios da nossa salvação, ocupando ao lado do Senhor a posição que Eva ocupou junto do nosso primeiro pai; falou dela com termos tão ternos e comoventes que fez vibrar o coração dos monges e das multidões que o ouviam com o grande amor que sentia por esta Mãe divina, e contribuiu poderosamente para torná-la amada na sua nação.
Os seus sermões sobre a Anunciação tornaram-se famosos e pode-se dizer que sobre o mistério da Assunção vieram depois da definição do dogma que tanta alegria trouxe ao mundo. Talvez seja isso que lhe trouxe tanta popularidade. Porque São Bernardo não é admirado apenas por aqueles que estudam a história do século XII e o encontram em tudo de grande e grave que então acontece, ou também pelos monges e teólogos que estudam a sua doutrina; São Bernardo é amado, e “o segredo da sua popularidade e do amor que lhe temos está no amor que teve por Jesus e na ternura com que amou Maria, ternura profunda, amor ardente que nos aquece mesmo depois de oito séculos”.
“Jesus e Maria: dois nomes, dois amores que se fundem num só e fazem do teu coração um forno. O amor de Maria dá movimento e o amor de Jesus abre-se nele como um lírio no seu caule. Este amor o persegue pelos caminhos da Escritura, pelas duras montanhas da vida monástica, pela prática assídua das virtudes mais viris, mas sempre por meio de Maria; ele se esforça para cantar a Palavra, acompanhado por Maria como se fosse uma lira”.
Passados oito séculos, as orações que São Bernardo escreveu ou delineou servem como forma de as almas rezarem a Maria, de expressarem a sua confiança e o seu amor. Repetimo-las todos os dias, valorizadas com o fervor de todos aqueles que as pronunciaram antes de nós: a Salve Regina, o Memorare. Não conhecemos melhor maneira de homenagear este grande Santo, de lhe agradar e de lhe agradecer, do que repetir, seguindo o seu exemplo, as orações que brotavam do seu coração e sobretudo louvar Nossa Senhora com as suas próprias palavras.
Vida – Bernardo nasceu em Fontaine-lez-Dijon em 1090. Aos 16 anos ficou sem mãe. Pouco depois pensou em ingressar na Ordem Cisterciense, onde o Abade Estévão Harding estava desanimado por não ter vocações. Mas ele não veio sozinho. Na Páscoa de 1112 apareceu com trinta parentes ou amigos, a quem encorajou a abraçar a vida perfeita. Permaneceu neste mosteiro durante três anos, dedicado à oração e às mais severas penitências. Em 1115 tornou-se abade de Claraval.
A fama da sua doutrina e da sua santidade logo lhe trouxe postulantes em grande número; logo teve que fundar mosteiros e aceitar a direção daqueles que solicitavam sua ajuda. Tudo para todos, teve que deixar muitas vezes o seu mosteiro para combater o cisma de Anacleto II na Itália, a heresia no sul da França, ou para pregar a cruzada a pedido de Eugênio III. Para este filho, que se tornou Papa, escreveu o tratado Sobre a Consideração e para os seus monges a Apologia do Ideal Cisterciense, o Tratado do Amor de Deus e o Comentário ao Cântico dos Cânticos.
Exausto pelo trabalho e pelo cansaço, consumido por penitências excessivas, finalmente encerrou seus dias em seu mosteiro, em 20 de agosto de 1153. Foi canonizado vinte anos depois e declarado por Pio VIII Doutor da Igreja Universal em 23 de julho de 1830.
(GUERANGER, Dom Prospero. El Año Litúrgico: tomo V, ano 1954, pp. 228-233)

