SÃO BEDA O VENERÁVEL (27/05)

SÃO BEDA O VENERÁVEL, Confessor e Doutor – 3ª classe
Quase todos os dados que temos sobre São Beda provêm de um breve escrito do próprio santo e de uma emocionante descrição de suas últimas horas, escrita por um de seus discípulos, o monge Cutberto. No último capítulo da sua famosa obra, “História Eclesiástica do Povo Inglês”, o Venerável Beda diz:
“Eu, Beda, servo de Cristo e sacerdote do mosteiro dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, de Wearmouth e Jarrow, escrevi esta história eclesiástica com a ajuda do Senhor, baseando-me em documentos antigos, na tradição dos nossos antecessores e nos meus próprios conhecimentos.
Nasci no território do referido mosteiro. Aos sete anos, meus familiares me confiaram aos cuidados do reverendíssimo Abade Bento (São Bento Biscop) e, mais tarde, aos de Ceolfrido, para me educar. A partir de então morei sempre no mosteiro, dedicado ao estudo da Sagrada Escritura. Além da observância da disciplina monástica e do canto diário na igreja, meu maior prazer tem sido aprender, ensinar e escrever.
Aos dezenove anos recebi o diaconado e aos trinta o sacerdócio; ambas as ordens me foram conferidas pelo Reverendíssimo Bispo João (São João de Beverley), a pedido do Abade Ceolfrid. Desde então até hoje (atualmente tenho cinquenta e nove anos), dediquei-me, para meu próprio benefício e o dos meus irmãos, a anotar a Sagrada Escritura, com base nos comentários dos Santos Padres e de acordo com as suas interpretações.”
A seguir, o Venerável Beda faz uma enumeração de suas obras e conclui com estas palavras:
“Rogo-te, amando Jesus, que, assim como me concedeste beber as deliciosas palavras de tua sabedoria, me concedas um dia chegar até Ti, fonte de todo conhecimento e permanecer, para sempre, diante de tua face.”
Alguns dias do ano de 733 São Beda passou em York, com o Arcebispo Egbert; isto permite-nos supor que, de vez em quando, ia visitar amigos em outros mosteiros; mas, fora desses curtos períodos, sua vida foi dedicada à oração, ao estudo e à composição de livros. Duas semanas antes da Páscoa do ano 735, o santo foi acometido por uma doença respiratória e todos compreenderam que o seu fim se aproximava.
No entanto, os seus discípulos continuaram os seus estudos à beira do leito do santo, embora as lágrimas frequentemente abafassem as suas vozes durante as leituras. Por sua vez, o Venerável Beda dava graças a Deus. Durante os quarenta dias entre a Páscoa e a Ascensão, São Beda dedicou-se a traduzir para o inglês o Evangelho de São João e uma coletânea de notas de Santo Isidoro, sem interromper o ensino e o canto do ofício divino.
A respeito dessas traduções, o santo disse:
“Eu as faço porque não quero que meus discípulos leiam traduções imprecisas ou percam tempo traduzindo o original após a minha morte”.
Na Terça-feira de Rogação a sua doença piorou; porém, São Beda dava suas lições como de costume, embora dissesse, de vez em quando:
“Vá depressa, pois não sei até quando poderei resistir, nem se Deus logo me chamará para Si”.
Depois de passar a noite em oração, São Beda começou a ditar o último capítulo do Evangelho de São João. Às três da tarde chamou os padres do mosteiro, deu-lhes um pouco de pimenta, incenso e alguns pedaços de pano que tinha numa caixa e pediu-lhes que rezassem por ele. Os monges choraram muito quando o santo lhes disse que nunca mais os veria na terra, mas se alegraram quando pensaram que seu irmão iria ver Deus.
Ao anoitecer, o jovem que atuava como amanuense [secretário] disse-lhe: “Só lhe resta uma frase para traduzir”. Quando o amanuense anunciou que o trabalho estava concluído, Beda exclamou:
“Você disse bem; tudo está terminado. Segure minha cabeça para que eu possa sentar e olhar para o lugar onde eu costumava rezar e assim poderei invocar meu Pai.”
Poucos momentos depois deu o último suspiro, prostrado no chão da cela, enquanto cantava:
“Glória ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito Santo”.
Lendas fantásticas foram inventadas para explicar o título de “Venerável” dado a Beda. Na realidade, é um título de respeito que era frequentemente atribuído naquela época aos mais ilustres membros das ordens religiosas. O Concílio de Aquisgrão aplicou esse título a São Beda no ano de 836 e foi evidentemente aceito pelas gerações subsequentes, que o mantiveram em uso ao longo dos séculos. Embora Beda tenha sido oficialmente reconhecido como santo e doutor da Igreja em 1899, ele ainda é chamado de Venerável até hoje.
São Beda é o único inglês que mereceu o título de Doutor da Igreja e o único inglês que Dante considerou importante o suficiente para mencionar no “Paraíso”. A coisa não é surpreendente, pois, embora Beda vivesse recluso em seu mosteiro, tornou-se conhecido muito além das fronteiras da Inglaterra. A Igreja Ocidental incorporou algumas de suas homilias nas lições do Breviário.
A “História Eclesiástica” de Beda é praticamente uma história da Inglaterra antes do ano 729, “o ano dos cometas”. São Beda foi um dos pilares da cultura da época carolíngia, tanto pelos seus próprios escritos como pela influência que exerceu na Europa, através da escola de York, fundada pelo seu discípulo, o arcebispo Egberto.
É verdade que sabemos muito pouco sobre a vida de São Beda; mas o relato de sua morte, escrito por Cuthberto, é suficiente para nos lembrar que “a morte dos santos é preciosa aos olhos do Senhor”. São Bonifácio disse que São Beda foi “a luz com a qual o Espírito Santo iluminou a sua Igreja”. E a escuridão nunca conseguiu extinguir essa luz.
(BUTLER Alban de, Vida de los Santos: vol. II, ano 1965, pp. 385-386)

