SANTOS NEREU, AQUILEU, PANCRÁCIO | SANTA DOMITILA (12/05)

SANTOS NEREU, AQUILEU, PANCRÁCIO, MÁRTIRES
SANTA DOMITILA, VIRGEM E MÁRTIR – 3ª classe
O culto aos Santos Nereu e Aquiles é muito antigo, datando pelo menos do século IV. Na festa destes santos, celebrada em Roma com certa solenidade, São Gregório Magno proferiu a sua vigésima oitava homilia dois séculos depois: “Os santos diante dos quais estamos reunidos desprezaram o mundo e pisotearam a paz, a riqueza e o vida que lhes oferecia”. A igreja onde o santo fez esta homilia ficava no cemitério de Domitila, na Via Ardeatina, sobre o túmulo dos mártires.
Por volta do ano 800, Leão III construiu uma nova igreja; o Cardeal Batônio, seu proprietário, reconstruiu-a e trouxe para lá as relíquias de São Nereu e Santo Aquiles, que haviam sido transferidas para a igreja de Santo Adriano. Nereu e Aquiles eram soldados pretorianos, segundo a inscrição que o Papa São Dâmaso ordenou que fosse colocada no seu túmulo. As “atas” destes mártires, que são lendárias, dizem que eram eunucos e estavam ao serviço de Flávia Domitila, a quem seguiram até ao exílio. Eusébio escreve sobre esta senhora, que era sobrinha-neta do imperador Domiciano[1]: “No décimo quinto ano de Domiciano, por ter dado testemunho de Cristo, Flávia Domitila, sobrinha de Flávio Clemente, um dos cônsules de Roma, foi banida com muitos outros para a ilha Pôncia”, isto é, Ponza.
São Jerônimo descreve o exílio como um longo martírio. Provavelmente Nerva e Trajano não tinham intenção de tirar os parentes de Domiciano do exílio quando suspenderam a pena para os outros exilados. As “atas” relatam que Nereu, Aquiles e Domitila foram banidos para a ilha de Terracina; os dois primeiros foram decapitados ali durante o reinado de Trajano, enquanto Domitila morreu na fogueira por ter se recusado a oferecer sacrifícios aos ídolos. A legenda provavelmente se baseia no fato de que os corpos de Nereu e Aquiles foram queimados em um túmulo de família, localizado no que mais tarde se tornou o cemitério de Domitila.
Durante as escavações realizadas por Rossi em 1874, na referida catacumba, foi descoberto o seu túmulo vazio, na cripta da igreja que o Papa São Sirício construiu no ano 390. Assim, tudo o que podemos afirmar sobre os santos Nereu e Aquiles é o que está registado nas inscrições que São Dâmaso mandou colocar no seu túmulo no final do século IV.
O texto chegou até nós através de citações de viajantes que viram as inscrições ainda inteiras; mas os fragmentos que Rossi descobriu são suficientes para identificar perfeitamente a inscrição. Aqui está o texto, traduzido:
“Os mártires Nereu e Aquiles entraram voluntariamente no exército e cumpriram a cruel tarefa de cumprir as ordens do tirano. O medo lhes fazia executar todos os mandatos. Porém, por milagre de Deus, os dois soldados abandonaram a violência, converteram-se ao cristianismo e fugiram do acampamento do tirano cruel, deixando atrás de si escudos, armaduras e lanças ensanguentadas. Depois de confessarem a fé em Cristo, eles agora se alegram ao testemunhar o triunfo do Senhor. Que estas palavras de Dâmaso façam-te compreender, leitor, as maravilhas que a glória de Cristo é capaz de fazer”.
Não temos informações certas sobre São Pancrácio, cujo martírio é hoje celebrado. A versão que normalmente se dá da sua vida baseia-se nas chamadas “atas”, que foram achadas muito depois da morte do santo e contêm graves anacronismos. Segundo esses registros, São Pancrácio era órfão de origem síria ou frígia. Um tio seu levou-o consigo para Roma, onde ambos se converteram ao cristianismo. Pancrácio foi decapitado por causa da fé aos quatorze anos, na época de Diocleciano, e foi sepultado no cemitério de Calepódio, que mais tarde recebeu seu nome. Por volta do ano 500, o Papa Símaco construiu ou reconstruiu uma basílica sobre o túmulo de São Pancrácio.
Santo Agostinho de Cantuária consagrou-lhe a primeira igreja que construiu naquela cidade; cerca de cinquenta anos depois, o Papa São Vitaliano enviou a Oswy, rei da Nortúmbria, uma parte das relíquias do mártir, cuja distribuição ajudou a difundir o seu culto na Inglaterra. São Gregório de Tours, que chamou São Pancrácio de “o vingador do perjúrio”, afirmou que Deus operou o milagre perpétuo de punir visivelmente todos os falsos juramentos prestados na presença das relíquias de São Pancrácio.
O túmulo do santo ficava na Via Aurélia, a dois quilômetros de Roma. O Papa Honório (625-638) restaurou elegantemente a igreja que o Papa Símaco havia construído; a inscrição que ele colocou por esse motivo ainda está preservada. O Papa Gregório, o Grande, construiu um mosteiro beneditino em homenagem a São Pancrácio; provavelmente, Santo Agostinho de Cantuária dedicou ao santo a referida igreja, em memória do convento em que viveu em Roma. Outro cemitério conhecido que também levava o nome de São Pancrácio era o de Londres, onde foram sepultados muitos mártires católicos; o bairro e a estação ferroviária levaram o nome do santo daquela igreja.
(BUTLER Alban de, Vida de los Santos: vol. II, ano 1965, pp. 269-271)
[1] Atualmente a opinião mais comum é que existiram duas Flávias. A mais velha era filha de uma irmã de Domiciano e Tito, esposa de Flávio Clemente, que estava exilado na ilha de Pandatânia, segundo Cássio Dion. A outra Flávia Domitila era, por casamento, sobrinha de Domiciano; São Jerônimo considera seu exílio em Ponza um martírio.

