SANTA MARGARIDA DA ESCÓCIA (10/06)

SANTA MARGARIDA DA ESCÓCIA, Rainha e Viúva – 3ª classe
Margarida era uma das filhas de Eduardo d’Outremer (“O Exilado”), um parente muito próximo de Eduardo, o Confessor, e irmã do Príncipe Edgardo. Este último, ao fugir da perseguição de Guilherme, o Conquistador, refugiou-se com a irmã na corte do rei Malcolm Canmore, na Escócia. Uma vez lá, Margarida, tão bonita quanto boa e modesta, conquistou o coração de Malcolm e, no ano de 1070, quando tinha vinte e quatro anos, casou-se com o rei no Castelo de Dunfermline.
Esse casamento trouxe muitos benefícios para Malcolm e para a Escócia. O rei era um homem rude e sem instrução, mas de boa disposição, e Margarida, consciente da grande influência que exercia sobre ele, suavizou-lhe o carácter, educou-lhe os modos e transformou-o num dos monarcas mais virtuosos daqueles que ocuparam o trono da Escócia.
Graças a essa mulher admirável, os objetivos do reino foram, a partir de então, estabelecer a religião cristã e fazer felizes os seus súditos. “Ela incitou o monarca a realizar obras de justiça, caridade, misericórdia e outras virtudes”, escreveu um autor antigo, “e em todas elas, pela graça divina, conseguiu fazê-lo realizar seus piedosos desejos. Porque o rei presentia que Cristo estava no coração de sua rainha e estava sempre disposto a seguir seus conselhos.”
Este foi certamente o caso, uma vez que ele não só deixou a administração total dos assuntos internos nas mãos da rainha, mas também a consultou continuamente sobre assuntos de Estado. Margarida fez tanto bem ao marido como à sua pátria adotiva, onde deu impulso às artes da civilização e incentivou a educação e a religião.
A Escócia foi vítima da ignorância e de muitos abusos e desordens, tanto entre padres como entre leigos; mas a rainha organizou e convocou sínodos que tomaram medidas para pôr fim a esses males. Ela própria esteve presente nessas reuniões e participou nos debates. Foi imposta a obrigação de celebrar domingos, feriados e jejuns. Todos foram recomendados a participar da comunhão pascal, e muitas práticas escandalosas, como simonia, usura e incesto, foram estritamente proibidas.
Santa Margarida esforçou-se constantemente para obter bons padres e professores para todas as regiões do país e formou uma espécie de associação de costura entre as damas da corte, a fim de fornecer paramentos e adornos para as igrejas. Juntamente com o marido, fundou e construiu diversas igrejas, entre as quais a de Dunfermline, dedicada à Santíssima Trindade, se destaca pela sua grandiosidade.
Deus abençoou os reis com seis filhos e duas filhas, que sua mãe educou com escrupuloso cuidado; ela mesma os instruiu na fé cristã e, nem por um momento, deixou de acompanhar seus estudos. Sua filha Matilda casou-se mais tarde com Henrique I da Inglaterra e entrou para a história com o apelido de “a boa Rainha Maud”,[1] enquanto três de seus filhos, Edgardo, Alexander e Davir, ocuparam sucessivamente o trono da Escócia. O último dos citados é venerado como santo.
O cuidado e a preocupação de Margarida foram dispensados aos servos do palácio, na mesma medida que à sua própria família. E ainda assim, apesar dos assuntos de Estado e das obrigações domésticas que tinha de cumprir, manteve o seu espírito em total desapego das coisas deste mundo e inteiramente recolhido em Deus.
Na sua vida privada, observava extrema austeridade: comia frugalmente e, para ter tempo para as suas devoções, roubava-o ao sono. Cada ano celebrava duas Quaresmas: uma na data correspondente e outra antes do Natal. Nessas ocasiões, levantava-se da cama à meia-noite e ia à igreja ouvir as matinas; o rei frequentemente a acompanhava. Ao retornar ao palácio, lavava os pés de seis pobres e lhes dava esmolas.
Também durante o dia passava algumas horas em oração e, sobretudo, na leitura das Sagradas Escrituras. O livrinho em que lia os Evangelhos caiu certa vez no rio; mas não estava nem um pouco danificado, exceto por uma mancha de água na capa; Esse mesmo volume ainda está preservado entre os tesouros mais preciosos da Biblioteca Bodleian de Oxford.
Talvez a maior virtude da rainha Margarida fosse o seu amor pelos pobres. Muitas vezes saía para visitar os doentes e cuidava deles e os limpava com as próprias mãos. Mandou construir pousadas para peregrinos e resgatou inúmeros cativos, principalmente os de nacionalidade inglesa. Sempre que aparecia em público, o fazia rodeada de mendigos e nenhum deles ficava sem uma recompensa generosa. Ela nunca se sentava à mesa sem antes ter alimentado nove crianças órfãs e vinte e quatro adultos. Muitas vezes, especialmente durante o Advento e a Quaresma, o rei e a rainha convidavam trezentos pobres para comer no palácio e eles próprios os serviam, às vezes de joelhos, e com pratos e talheres semelhantes aos que usavam na sua mesa.
Em 1093, o rei Guilherme Rufus tomou o Castelo de Alnwick de surpresa e matou toda a guarnição. No decorrer do conflito que se seguiu a esse evento, o rei Malcolm foi traiçoeiramente morto e seu filho Eduardo foi assassinado. Naquela época, a Rainha Margarida estava deitada em seu leito de morte. Ao saber do assassinato de seu marido, ela foi tomada por uma profunda tristeza e, em meio às lágrimas, disse aos que estavam com ela: “Proavelmente hoje é o dia do maior infortúnio que se abateu sobre a Escócia, desde há muito tempo.”
Quando seu filho Edgardo voltou do campo de batalha de Alnwick, ela, em sua alucinação, perguntou-lhe como estavam seu pai e seu irmão. Com medo de que a má notícia pudesse afetá-la, Edgardo respondeu que estavam bem. Então a rainha exclamou em voz alta: “Eu sei o que aconteceu!”
Então ergueu as mãos para o céu e murmurou: “Agradeço-vos, Deus onipotente, porque ao me enviardes tão grandes aflições na última hora da minha vida, me purificaiss das minhas culpas. Assim espero de vossa misericórdia”. Pouco depois, ela repetiu estas palavras uma e outra vez: “Ó meu Senhor Jesus Cristo, que com a vossa morte destes a vida ao mundo, livrai-me de todo o mal!”
Em 16 de novembro de 1093, quatro dias após a morte de seu marido, Margarida faleceu aos quarenta e sete anos. Ela foi enterrada na Igreja da Abadia de Dunfermline, que ela e seu marido fundaram. Santa Margarida foi canonizada em 1250 e tornada padroeira da Escócia em 1673.
As belas memórias de Santa Margarida, que provavelmente devemos a Turgot, prior de Durham e mais tarde bispo de Saint Andrews, que conheceu bem a rainha, pois ouviu as suas confissões ao longo da vida, dão-nos uma descrição inspirada da influência que exerceu sobre a rude corte escocesa. Ao nos contar sobre sua preocupação constante em ter as igrejas bem abastecidas com toalhas de altar e enfeites para os altares e paramentos para os sacerdotes, ele diz:
Essas tarefas foram confiadas a certas mulheres de linhagem nobre e comprovada virtude, que eram dignas de participar nos serviços da rainha. Nenhum homem tinha acesso ao local onde as mulheres costuravam, a menos que a própria rainha trouxesse um acompanhante em suas visitas ocasionais.
Não havia inveja ou rivalidade entre as damas, e nenhuma delas se permitia familiaridade ou leviandade com os homens; tudo isso, porque a rainha combinava com a doçura de seu caráter um estrito senso de dever e, mesmo dentro de sua severidade, era tão gentil que todos ao seu redor, homens ou mulheres, instintivamente passavam a amá-la, ao mesmo tempo em que a temiam, e porque a temiam, eles a amavam.
Acontecia então que, quando ela estava presente, ninguém ousava levantar a voz para pronunciar uma palavra dura e muito menos praticar qualquer ato desagradável. Mesmo no seu próprio contentamento havia uma certa gravidade e a sua raiva era majestosa. Ante ela, o contentamento nunca se expressava em risadas, nem o descontentamento se transformava em fúria.
Às vezes, ela apontava as faltas dos outros – sempre as suas próprias – com aquela severidade aceitável temperada pela justiça que o salmista recomenda que usemos sempre, dizendo-nos: “Irai-vos, mas não pequeis”. Todas as ações de sua vida foram reguladas pelo equilíbrio da mais gentil das discrições, qualidade que colocou um selo distintivo em cada uma de suas virtudes.
Enquanto falava, sua conversa era temperada com o sal da sua sabedoria; quando ficava em silêncio, seu silêncio estava cheio de bons pensamentos. Seu porte e aparência correspondiam tão completamente à firme serenidade de seu caráter, que bastava vê-la para sentir que ela foi feita para levar uma vida de virtude.
Em suma, posso dizer que cada palavra que ela pronunciou, cada ação que realizou, parecia mostrar que a rainha meditava nas coisas do céu.
(BUTLER Alban de, Vida de los Santos: vol. II, ano 1965, pp. 511-514)
[1] Por este casamento, a atual Casa Real Britânica descende dos reis pré-conquista de Wessex e da Inglaterra.


1 Comentário
Maria das Mercês de Lima Leite Soares
Fico feliz, me sinto bem, quando leio relatos assim, demonstrações de que as pessoas, nós, podemos ser melhores, podemos ou poderíamos, ter vidas mais santas, poderíamos ser algo melhor do que somos.