OS SETE IRMÃOS MÁRTIRES E SANTA FELICIDADE (10/07)

OS SETE IRMÃOS MÁRTIRES E SANTA FELICIDADE
A festa de Santa Felicidade, viúva e mártir, é celebrada no dia 23 de novembro. No entanto, parecia justo falar dela ao mesmo tempo que seus sete filhos.
Segundo a legenda, Felicidade era uma nobre cristã que se consagrou a Deus na viuvez e viveu dedicada à oração e às obras de caridade. O seu exemplo e o da sua família converteram à fé numerosos idólatras. Isto irritou os sacerdotes pagãos, que reclamaram ao imperador Antonino Pio que as numerosas conversões que Felicidade realizou provocariam a ira dos deuses e, como consequência, a cidade e todo o país sofreriam terrível desolação.
O imperador deixou o assunto nas mãos de Públio, prefeito de Roma, que ordenou que a santa e seus filhos comparecessem diante dele. Ele chamou Felicidade em particular e tentou por todos os meios induzi-la a oferecer sacrifícios aos deuses para não ser forçado a impor castigos a ela e a seus filhos.
Mas a santa respondeu: “Não tente me assustar com suas ameaças ou me conquistar com suas lisonjas, porque o Espírito de Deus, que habita em mim, não permitirá que você me derrote, mas me tirará vitorioso de todos seus ataques.” Públio respondeu: “Infeliz de ti! Se o que você quer é morrer, morra na hora certa, mas não mate seus filhos!” Respondeu Felidiade: “Meus filhos viverão eternamente se permanecerem fiéis à fé, mas se oferecerem sacrifícios aos ídolos, a morte eterna os aguarda”.
No dia seguinte, o prefeito mandou chamar novamente Felicidade e seus filhos e disse-lhe: “Tem pena dos teus filhos, Felicidade, porque estão na flor da juventude”. A santa respondeu: “Sua piedade é ímpia e suas palavras cruéis”. Depois voltou-se para os filhos e disse: “Meus filhos, levantem os olhos para o céu, onde Jesus Cristo e os seus santos os esperam. Permaneçam fiéis ao seu amor e lutem corajosamente pelas suas almas”.
Públio ficou furioso ao ouvir isso e respondeu com raiva: “É uma insolência você falar assim com seus filhos na minha presença, assim como sua desobediência às ordens do soberano, portanto, você será punida”. Ele então ordenou que ela fosse açoitada. O prefeito então chamou cada um dos jovens separadamente e tentou fazê-los adorar os deuses, com promessas e ameaças.
Como todos se recusaram, ele ordenou que fossem açoitados e trancados em uma masmorra. O prefeito relatou o caso ao imperador, que ordenou que fossem julgados por diferentes juízes e condenados a vários tipos de morte.
Genaro [ou Januário] morreu destruído pelos chicotes; Félix e Felipe morreram espancados com marreta; Silvano foi jogado no Tibre; Alejandre, Vidal e Marcial conquistaram a coroa pela espada. A mãe também foi decapitada, após ter visto os filhos morrerem.
A respeito da morte de Santa Felicidade, Santo Agostinho diz:
“É magnífico o espetáculo que se apresenta aos olhos da nossa fé. Ouvimos e vimos com a nossa imaginação aquela mãe que, contra todos os seus instintos humanos, prefere que os seus filhos morram em sua presença. Mas Felicidade não abandonou os filhos, apenas os mandou adiante, porque considerava a morte não o fim, mas o começo da vida. Estes mártires renunciaram a uma existência que tinha necessariamente de acabar, para passarem a uma vida que nunca acaba. Mas Felicidade não se contentou em ver os seus filhos morrerem, mas encorajou-os a fazê-lo e, ao fazê-lo, tornou a sua coragem ainda mais fecunda do que o seu ventre. Ao vê-los lutar, ela lutou com eles e a vitória de cada um de seus filhos foi a sua própria vitória.”
São Gregório Magno pregou uma homilia na festa de Santa Felicidade, na igreja que foi construída sobre o túmulo da santa na Via Salária. Nesta homilia ele diz que Felicidade,
“que tinha sete filhos, temia que um sobrevivesse a ela, como outras mães temem sobreviver a seus filhos. Seu martírio foi maior, pois, ao ver morrer todos os seus filhos, sofreu o martírio em cada um deles. Felicitas foi a última a morrer, mas desde o primeiro momento sofreu, de modo que o seu martírio começou com o do seu primeiro filho e terminou com a sua morte. Assim ela conquistou não apenas a sua própria coroa, mas a de todos os seus filhos. Presenciando seus tormentos, ela permaneceu constante, sofreu, porque era mãe, mas alegrou-se porque possuía esperança. Em Santa Felicitas a fé triunfou sobre a carne e o sangue, quando em nós não é capaz de vencer as paixões e arrancar os nossos corações deste mundo corrompido.”
(BUTLER Alban de, Vida de los Santos: vol. III, ano 1965, pp. 65-66)

