Oratório São José

HIERARQUIA X ANARQUIA

Dom Fernando Rifan

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HIERARQUIA X ANARQUIA

Hierarquia, etimologicamente, vem do grego “hierós”, sagrado, e “arkhein”, governar. É o poder de mandar e governar. O provérbio popular diz: “Manda quem tem poder, obedece quem tem juízo”. O contrário de hierarquia é anarquia (“an” prefixo negativo), ausência de poder e, consequentemente, de ordem. Sem governo temos uma situação anárquica. “Onde todos mandam, ninguém manda, e onde ninguém manda temos o caos, a anarquia”.

O livro bíblico dos Juízes (capítulos 20 e 21) narra que houve uma guerra civil entre as tribos de Israel e a tribo de Benjamim. Houve massacres, raptos etc. E conclui: “Nesse tempo não havia rei em Israel, e cada um fazia o que queria, o que lhe parecia correto”. Uma anarquia.

Por isso, para evitar uma anarquia, Jesus, ao fundar a sua Igreja, constituiu uma hierarquia, com um superior com poder, Pedro, e os Apóstolos: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Ide, pois, e fazei discípulos todos os povos…” (Mt 28,18). “Quem vos ouve, a mim ouve” (Lc 10,16). Ele transferiu seu poder a Pedro, aos Apóstolos e seus sucessores. Na sua Igreja, há ordem, porque há autoridade e hierarquia, há quem manda e quem deve obedecer.

Na Igreja, devemos atacar os erros e criticar seus promotores, mas com prudência. Com cuidado para, com o espírito de crítica, atacando as autoridades, não diminuir o respeito a elas devido. Cuidado para, ao atacar os erros, não destruir a autoridade da hierarquia. Como dizem os franceses, atenção para não jogar fora a criança junto com a água suja do banho (!).

Há pessoas, carentes de caridade, prudência e visão cristã, que se arvoram como juízes de tudo e de todos. Assim nos ensina São Francisco de Sales, doutor da Igreja: “Todas as coisas aparecem amarelas aos olhos dos achacados de icterícia… A malícia do juízo temerário, dum modo semelhante a esta doença, faz aparecer tudo mau aos olhos dos que a apanharam… Eis aí como devemos julgar do próximo: o melhor possível; e, se uma ação tivesse cem aspectos diferentes, deveríamos encara-la unicamente pelo lado mais belo…”.

A Igreja é nossa família. Nela também há falhas. Em nossa família natural, se um pai, um tio ou irmão comete um deslize, eu logo vou colocar na internet tal notícia?! Posso falar até com meus íntimos, nas não divulgar, pois estaria difamando o nome da minha família.

O grande mal que fazem certos grupos até ditos católicos é, com suas contínuas críticas e exposições, minar a autoridade na Igreja, a confiança no seu magistério, sua autoridade, necessária para a ordem e a instituição feita por Nosso Senhor. As pessoas incautas perdem o completo respeito e mesmo a fé na Igreja como instituição. Claro que as falhas de certas pessoas da hierarquia podem até as justificar, mas o espírito de crítica e a ânsia de expor as falhas podem contribuir enormemente para diminuir e até destruir a autoridade, favorecendo a anarquia no ambiente católico, onde cada um quer fazer o que “acha” melhor, o que bem entende. Daí surgem grupos independentes da autoridade, os pretensos salvadores da Igreja, sem a hierarquia, com o subentendido orgulho de se acharem melhores, os únicos fiéis.

Dom Fernando Arêas Rifan, Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

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