Oratório São José

DEGOLAÇÃO DE SÃO JOÃO BATISTA (29/08)

Santo do dia

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DEGOLAÇÃO DE SÃO JOÃO BATISTA – 3ª classe

A HISTÓRIA EVANGÉLICA. — “Naquele tempo, Herodes mandou prender João e o colocou na prisão por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe, com quem ele havia se casado. Pois João lhe dissera: ‘Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão’. E Herodias o vigiava e queria matá-lo, mas não podia. Pois Herodes respeitava João, sabendo que era um homem justo e santo, e o protegia, e fazia muitas coisas que ele ouvia com prazer. Quando chegou o dia marcado, Herodes ofereceu um grande jantar para os governantes, tribunos e primatas da Galileia no seu aniversário. E a filha de Herodias entrou e dançou, agradando a Herodes e aos convidados, de modo que o rei disse à moça: ‘Pede-me o que quiseres, e eu to darei’. E jurou-lhe: ‘Tudo o que me pedires, eu te darei, mesmo que seja metade do meu reino’. E ela saiu e disse à sua mãe: ‘O que devo Ela lhe disse: “A cabeça de João Batista”. E correu até o rei e lhe pediu: “Quero que me dês imediatamente a cabeça de João Batista numa bandeja”. O rei ficou triste, mas, por causa do juramento e dos outros convidados, não queria magoá-la. Então, enviou um guarda e ordenou que trouxesse a cabeça numa bandeja. E ele o matou na prisão. E trouxe a cabeça numa bandeja. Deu-a à moça, e a moça a deu à sua mãe. Quando os seus discípulos ouviram isso, foram, levaram o corpo dele e o depositaram num sepulcro.

ENSINAMENTO DOS SANTOS PADRES. — Assim, o maior entre os nascidos de mulher acabou, sem testemunhas, na prisão de um pequeno tirano, vítima da mais vil das paixões e ao preço de uma dançarina. A Voz do Verbo preferiu morrer a permanecer em silêncio diante do crime, mesmo que não houvesse esperança de corrigir o culpado; Ele preferiu morrer a renunciar à sua liberdade de falar, mesmo que tivesse que viver acorrentado. Uma bela liberdade de expressão, segundo a expressão de São João Crisóstomo, é na realidade a própria liberdade da Palavra de Deus, quando por ela não se interrompe a vibração aqui na terra dos ecos das colinas eternas. Então, é verdadeiramente uma pedra de tropeço para a tirania, bem como uma salvaguarda do mundo, dos direitos de Deus e da honra dos povos, no interesse do tempo e da eternidade. A morte não pode triunfar sobre ela; ao impotente assassino de João Batista, a todos os que desejam imitá-lo, mil bocas se repetirão contra uma, até o fim dos tempos, em todas as línguas e em todos os lugares: Não te é lícito possuir a mulher do teu irmão.

“Grande e admirável mistério!”, exclama Santo Agostinho. “Ele deve crescer, mas eu devo diminuir”, disse São João, “disse a Voz que personificou as vozes que a precederam, anunciando como Ele o Verbo do Pai encarnado em Cristo.” Cada palavra, na medida em que significa algo, permanece imutável e una na mente que a concebe, mesmo que haja muitas palavras que lhe dão forma externa, vozes que a propagam e línguas para as quais é traduzida. Para quem conhece a palavra, fórmulas e voz são inúteis. Os Profetas eram uma voz, os Apóstolos uma voz; uma voz nos Salmos, uma voz no Evangelho.

“Mas vem o Verbo, o Verbo que era no princípio, o Verbo que estava em Deus: quando o virmos como ele é, ouviremos ainda o Evangelho recitado? Ouviremos os Profetas? Leremos as Epístolas dos Apóstolos?” A voz enfraquece quando o Verbo cresce… Isso não significa que o Verbo em si diminua ou aumente. Mas diz-se que Ele cresce em nós, quando na realidade somos nós que crescemos nEle. Consequentemente, as palavras são menos úteis para aqueles que se aproximam de Jesus Cristo, para aqueles que progridem na contemplação da Sabedoria; e é necessário que as palavras desapareçam gradualmente. Desse modo, o ministério da voz diminui à medida que a alma se aproxima do Verbo; portanto, é necessário que Cristo cresça e que João diminua. Isso também é indicado pela decapitação de João e pela exaltação de Cristo na cruz, como vemos acontecer em suas datas de nascimento. Pois, desde o nascimento de João, os dias diminuem, e desde a data do nascimento do Senhor, aumentam.”

A ELEIÇÃO DESTA FESTA. — Uma lição útil é dada aos guias das almas nos caminhos da vida perfeita. Se, desde o início, devem observar respeitosamente a ação da graça em cada uma delas, para auxiliar a obra do Espírito Santo e não se impor a Ele; da mesma forma, à medida que as almas progridem, é necessário que evitem obstruir a Palavra com a abundância da sua própria palavra. Contentes, então, por terem conduzido a Esposa ao Esposo, sabem dizer com João: Ele deve crescer, mas eu devo diminuir.

E não nos sugere talvez uma lição semelhante a Liturgia, quando a vemos nos dias seguintes moderando os seus próprios ensinamentos com a diminuição do número?

De festas e a ausência prolongada de grandes solenidades, que só reaparecerão em novembro? A escola da Liturgia não tem outras pretensões senão dispor a alma de forma mais segura e perfeita, melhor do que qualquer outra escola, ao ensinamento interior do Esposo. A Igreja gostaria, como João, se possível, de deixar sempre Deus falar sozinho; pelo menos, perto do fim do caminho, gosta de moderar a voz, porque deseja dar aos seus filhos a oportunidade de demonstrar que sabem ouvir dentro de si Aquele que para ela e para eles é o único amor. Cabe aos intérpretes do seu pensamento compreender bem isso.

Este relato evangélico também destaca quão extraordinária é a vocação de João. “Ensina ao cristão que deve confessar a verdade e saber morrer por ela, mesmo que a sua palavra não seja ouvida e, no julgamento dos homens, a sua morte seja inútil. Deus pode aparentemente esbanjar os seus bens: tudo Lhe pertence; com os seus profetas e santos, Ele pode demonstrar a sua soberania absoluta; a verdade precisa apenas do nosso testemunho.”

A Festa da Decapitação de São João Batista pode ser considerada um dos marcos do Ano Litúrgico, da forma como acabamos de explicar. Os gregos a consideravam um dia santo de preceito. Sua grande antiguidade na Igreja Latina é comprovada pela menção a ela no Martirológio que chamam de São Jerônimo e pelo lugar que ocupa nos Sacramentários Gelasiano e Gregoriano. A santa morte do Precursor ocorreu perto da Festa da Páscoa; para honrá-lo mais livremente, foi escolhido este dia, que também comemora a revelação de sua gloriosa cabeça em Emesa.

AS RELÍQUIAS. — De Maqueronte até o outro lado do Jordão, onde seu mestre havia consumado seu martírio, os discípulos de João levaram seu corpo para Sebaste, antiga Samaria, além das fronteiras de Antipas; pois era urgente libertá-lo das profanações que Herodias não havia poupado à sua augusta cabeça. A vingança da infeliz mulher não foi, de fato, considerada satisfeita até que ela conseguiu enfiar um grampo de cabelo na língua que não temera censurá-la por sua falta de vergonha. Na época de Juliano, o Apóstata, os pagãos tentaram completar sua obra invadindo o túmulo de Sebaste para queimar e espalhar os restos mortais da santa. Mas este túmulo vazio continuou a ser um terror para os demônios, como Santa Paula, religiosamente comovida, confirmou alguns anos depois. Tendo preservado a maior parte dessas preciosas relíquias, elas se espalharam por todo o Oriente. Chegaram às nossas regiões, principalmente durante as Cruzadas, onde são a glória de muitas igrejas.

(GUERANGER, Dom Prospero. O Ano Litúrgico: Volume V, 1954, pp. 228-280)

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