Oratório São José

A TERÇA-FEIRA DA II SEMANA DA QUARESMA

Ano Litúrgico - Dom Próspero Gueranger

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A TERÇA-FEIRA DA II SEMANA DA QUARESMA

Ano Litúrgico – Dom Próspero Gueranger

A Estação é celebrada em Santa Balbina.

COLETA – NÓS Vos rogamos, Senhor, continuai a assistir-nos com a vossa bondade durante a observância deste santo jejum, a fim de com o vosso auxílio cumprirmos o dever que de Vós mesmo aprendemos. Por Nosso Senhor.

EPÍSTOLA (1Rs 17,8-16) – Leitura do primeiro livro dos Reis.

NAQUELES dias, a palavra do Senhor foi dirigida a Elias para dizer-lhe: “Levanta-te, parte para Sarepta de Sidon; tu permanecerás ali, porque eu dei ordem a uma viúva que te alimente.” Ele se levantou, partiu para Sarepta, e chegou à entrada da cidade. Uma viúva colhia lenha. Erguendo a voz, ele disse: “Por favor, apanha para mim, na tua ânfora, um pouco d’água para que eu beba.” Quando a mulher ia buscá-la, ele a chamou dizendo: “Por favor, traze também em tua mão, um pedaço de pão.” Ela, porém, respondeu: “Pelo Senhor teu Deus, não há pão em minha casa. Tenho apenas, num vaso, com que encher de farinha o côncavo da mão e, numa ânfora, um restinho de óleo. Colho dois pedaços de lenha, e vou em casa preparar o que resta, para mim e meu filho. Vamos comer, e morrer em seguida.” Elias disse então: “Não temas; vai e faze como dizes. No entanto, cozinha antes para mim um pãozinho; em seguida cozerás o resto para ti e teu filho. Assim falou o Senhor, Deus de Israel: “O vaso de farinha não se esgotará, a ânfora de óleo não ficará vazia, até o dia em que o Senhor conceder abundante chuva sobre a face da terra.” Ela se foi, e fez segundo a palavra de Elias; e tiveram o que comer, ele, ela e seu filho, dia após dia. E o vaso de farinha não se extinguiu, e a ânfora de óleo não se esvaziou segundo a palavra do Senhor transmitida por Elias.

 

O Profeta Elias – A instrução dos Catecúmenos é continuada por meio dos fatos do Evangelho, que são trazidos todos os dias; e a Igreja lê para eles as profecias do Antigo Testamento, que devem ser cumpridas pela rejeição dos judeus e pela vocação dos gentios. Elias, que é nosso companheiro fiel durante a Quaresma, nos é apresentado hoje como prenúncio, em sua própria conduta, do tratamento que Deus um dia mostrará a seu povo ingrato. Uma seca de três anos havia sido enviada ao reino de Israel, mas o povo continuou obstinado em seus pecados. Elias sai em busca de alguém que lhe dê comida. É um grande privilégio receber o Profeta, porque Deus está com ele. Então, para onde ele irá? Será para alguma família do reino de Israel? Ou ele passará para a terra de Judá? Ele negligencia os dois e dirige seus passos para a terra dos gentios. Ele entra no país de Sidon, e chegando às portas de uma cidade chamada Sarepta, vê uma pobre viúva, é para ela que ele transfere a bênção que Israel havia rejeitado. Nosso próprio Senhor tomou conhecimento deste evento na vida do Profeta, que retrata, em cores tão vivas, a justiça de Deus para com os judeus, e sua misericórdia para com os gentios: “Em verdade vos digo: muitas viúvas havia em Israel, no tempo de Elias, quando se fechou o céu por três anos e meio e houve grande fome por toda a terra; mas a nenhuma delas foi mandado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia” (Lc 4,25-26).

Desolação do mundo pagão – Então, esta pobre mulher é uma figura dos gentios que foram chamados à fé. Vamos estudar as circunstâncias desse evento profético. A mulher é viúva, não tem ninguém para defendê-la ou protegê-la; ela representa os gentios, que foram abandonados por todos e não tinham ninguém que pudesse salvá-los do inimigo da humanidade. Tudo o que a mãe e seu filho tinham para viver era um punhado de farinha e um pouco de azeite: é uma imagem da terrível escassez de verdade em que os pagãos viviam na época em que o Evangelho lhes foi pregado. Apesar de sua extrema pobreza, a viúva de Sarepta recebe o Profeta com bondade e confiança, acredita no que ele diz, e ela e seu filho são salvos: foi assim que os gentios deram as boas-vindas aos apóstolos, quando estes sacudiram o pó de seus pés e deixaram a Jerusalém sem fé.

O Pão da vida – Mas o que significam os dois pedaços de madeira que a viúva segura em suas mãos? Santo Agostinho, São Cesário de Áries e Santo Isidoro de Sevilha (que, afinal, estão apenas repetindo o que era a tradição da Igreja primitiva) nos dizem que esta madeira é uma figura da Cruz. Com esta madeira a viúva assa o pão que a sustenta: é da cruz que os gentios recebem vida por meio Jesus, que é o Pão vivo. Enquanto Israel morre de fome e seca, a Igreja dos gentios se alimenta abundantemente do trigo celestial e do óleo, que é o símbolo de força e caridade. Glória, então, seja Àquele que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz de fé! (1 Pedro 2,9). Mas, vamos tremer ao testemunhar os males que o abuso da graça trouxe a todo um povo. Se a justiça de Deus não poupou toda uma nação, mas a rejeita, por acso Ele poupará os que se atrevem a resistir ao Seu chamado?

EVANGELHO (Mt 23,1-12) – Continuação do santo Evangelho segundo São Mateus.

NAQUELE tempo, dirigindo-se às multidões e a seus discípulos, Jesus lhes disse: “Os escribas e os fariseus instalaram-se na cátedra de Moisés: tudo aquilo que vos disserem, fazei-o, pois, e observai-o; mas não imiteis suas ações: porque dizem e não fazem. Amarram pesados fardos, que colocam sobre os ombros dos homens, mas não os querem mover com um só dedo. Fazem todas as suas ações, para serem vistos pelos homens: usam largas filatérias e longas franjas, gostam do primeiro lugar nos banquetes, das primeiras cadeiras nas sinagogas, das saudações nas praças públicas e de que os chamem: Rabi. Quanto a vós, não vos façais chamar Rabi, pois, não tendes senão um só mestre, e sois todos irmãos. O nome de Pai, não o deis na terra a ninguém, pois, não tendes senão um Pai, que está no céu. Não vos façais chamar de Guia, porque não tendes senão um Guia, que é o Cristo. O maior entre vós será o vosso servo. Todo aquele que se elevar será abaixado, e todo aquele que se abaixar será elevado.”

A Igreja, mestra da verdade – Os doutores da lei estavam sentados na cadeira de Moisés, por isso, Jesus pede que as pessoas respeitem seus ensinamentos. Mas esta cadeira, que, apesar da indignidade dos que nela se sentam, é a cadeira da verdade, e não deve permanecer por muito tempo em Israel. Caifás, porque é o sumo sacerdote daquele ano, profetizará; mas seus crimes o tornaram indigno de seu ofício, e a cadeira na qual se senta deve ser levada e colocada no meio dos gentios. Jerusalém, que está se preparando para negar seu Salvador, deve ser privada de suas honras; e Roma, o próprio centro do mundo pagão, é que possuirá dentro de seus muros a cadeira que era a glória de Jerusalém e da qual foram proclamadas as profecias tão visivelmente cumpridas em Jesus. De agora em diante esta cadeira nunca mais será movida, embora toda a fúria dos portões do inferno busque prevalecer contra ela; pois agora será a fonte infalível, na qual todas as nações devem receber o ensino das verdades reveladas. A tocha da fé foi removida de Israel, mas não foi extinta. Vivamos em sua luz e merecemos por nossa humildade que seus raios brilhem sempre sobre nós.

Cristo, a Verdade – O que foi que causou a perda de Israel? Seu orgulho! Os favores que Israel recebeu de Deus o excitaram para a autocomplacência, desprezou reconhecer como Messias um qualquer que não era grande na glória deste mundo; por isso ficou indignado ao ouvir Jesus dizer que os gentios deveriam participar da graça da redenção; por isso, procurou lavar suas mãos no sangue do Deus-Homem, e isto porque Ele o repreendeu pela dureza de seu coração. Esses judeus orgulhosos, mesmo quando viram que o dia do juízo de Deus estava próximo deles, mantiveram sua altivez teimosa. Desprezavam o resto do mundo como imundo e pecador. O Filho de Deus tornou-se o Filho do Homem. Ele é nosso Mestre e, no entanto, ministrou-nos como se fosse nosso Servo. Isso não nos mostra quão preciosa é a virtude da humildade? Se nossos companheiros, homens como nós, nos chamam de Mestre ou Pai, não nos esqueçamos de que ninguém, de fato, é Mestre ou Pai senão pela designação de Deus. Ninguém merece ser chamado de Mestre, mas por cujos lábios Jesus nos dá as lições da sabedoria divina; somente ele é verdadeiramente um Pai, que reconhece que sua autoridade paterna vem somente de Deus; pois, como o Apóstolo diz: “Por esta causa dobro os joelhos em presença do Pai, ao qual deve a sua existência toda família no céu e na terra” (Ef 3,14-15).

ORAÇÃO SOBRE O POVO – Oremos. Humilhai as vossas cabeças diante de Deus.

SEDE propício às nossas súplicas, Senhor, e curai as enfermidades de nossas almas, a fim de que, obtido o perdão, sempre nos alegremos com a vossa bênção. Por Nosso Senhor.

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