A SEGUNDA-FEIRA DA IV SEMANA DA QUARESMA

A SEGUNDA-FEIRA DA IV SEMANA DA QUARESMA
Ano Litúrgico – Dom Próspero Gueranger
A estação é realizada no Monte Coelius, em uma igreja construída no século VII em homenagem a quatro oficiais do exército romano, Severo, Severiano, Carpóforo e Victorino que, recusando-se a adorar uma estátua de Esculápio, receberam a coroa do martírio. Estes eram os Quatro Coroados cujas relíquias são veneradas neste santuário, bem como a cabeça do Mártir São Sebastião, oficial do exército de Diocleciano. É uma das 25 paróquias romanas do século V.
COLETA – CONCEDEI-NOS, ó Deus onipotente, a graça de praticarmos anualmente estas santas observâncias com religiosa fidelidade e de Vos agradarmos corporal e espiritualmente. Por Nosso Senhor.
EPÍSTOLA – Leitura do primeiro livro dos Reis.
NAQUELES dias, duas mulheres de má vida vieram ao rei Salomão para submeterem-lhe uma causa. Uma das mulheres disse: “Desculpa-nos, Senhor! Esta mulher e eu habitamos na mesma casa; e dei à luz num quarto, junto dela. Três dias depois, teve também um filho. Estávamos as duas, e não havia ninguém mais em casa. Ora, o filho desta mulher morreu, quando ela dormiu, certa noite, em cima dele. Levantou-se então em plena noite, tirou o meu filho de junto de mim enquanto a tua serva dormia, e o deitou no seu colo; seu filho, que estava morto, ela o deixou sobre mim. De manhã, levanto-me para dar leite a meu filho: estava morto! Olhei-o bem na luz, e não era o meu filho, aquele que eu pusera no mundo!” A outra mulher disse: “Mentira! Meu filho está vivo, o teu é que está morto!” A primeira replicou: “Mentira! Teu filho está morto, o meu é que está vivo!” E discutiam assim diante do rei. Então o rei falou: “Uma diz: meu filho está vivo, o teu é que está morto; e a outra diz: não, o teu é que está morto, o meu está vivo!” Ele acrescentou: “Tragam-me uma espada!” Trouxeram a espada perante o rei; e o rei disse: “Parti em duas partes a criança viva: dai metade a uma e a outra metade a outra.” Mas a mulher cujo filho estava vivo voltou-se para o rei, pois seu coração se comovera por causa de seu filho e disse: “Por favor, meu Senhor, dá-lhe a criança viva; não a faças morrer!” Mas a outra dizia: “Não será meu nem teu. Seja dividido!” O rei retomou a palavra: “Dai àquela o menino vivo; não o façais morrer. Ela é a mãe verdadeira!” Israel inteiro soube deste julgamento que o rei fizera. E ficaram cheios de respeito pelo rei: viam que possuía uma sabedoria divina, para fazer justiça.
Nossa Mãe a Igreja – São Paulo nos explicou, na Epístola de ontem, o antagonismo que existe entre a sinagoga e a Igreja. Ele nos mostrou como o filho de Sara, que era o favorito do pai, foi perseguido pelo filho de Agar. As duas mulheres, que se apresentam diante de Salomão, são outra figura da mesma verdade. A criança que as duas reivindicam é o povo gentil, que foi levado ao conhecimento do verdadeiro Deus. A Sinagoga, prefigurada pela mulher que causou a morte a seu filho, enganou o povo confiado aos seus cuidados; e agora injustamente reivindica um que não pertence a ela. E considerando que não é de qualquer afeição maternal, mas apenas do orgulho, que ela apresenta tal afirmação, pouco importa para ela o que acontece com a criança, desde que não seja dada à verdadeira mãe, a Igreja. Salomão, o rei da paz que é uma das figuras escriturísticas de Cristo, julga a criança para aquela que lhe deu nascimento e o nutriu; e as pretensões da falsa mãe são rejeitadas. Vamos, então, amar a nossa mãe, a Santa Igreja, a Esposa de Jesus. É ela que nos fez filhos de Deus pelo batismo, nos alimentou com o Pão da Vida, nos deu o Espírito Santo e, quando tivemos a infelicidade de voltar à morte pelo pecado, a Igreja, pelo poder divino que lhe foi dado, nos restaurou à vida. Um amor filial pela Igreja é o sinal dos eleitos; obediência a seus mandamentos é a marca de uma alma na qual Deus estabeleceu seu reino.
EVANGELHO – Continuação do santo Evangelho segundo São João.
NAQUELE tempo, a Páscoa dos judeus estava perto, e Jesus subiu a Jerusalém. Ele encontrou no Templo, mercadores de bois, de ovelhas e de pombas, e cambistas com suas bancas. Fez um chicote de cordas e expulsou-os todos para fora do Templo, com suas ovelhas e seus bois; jogou por terra a moeda dos cambistas, derrubou suas bancas, e disse aos mercadores de pombas: “Tirai isto daqui; não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio.” Seus discípulos se lembraram que está escrito: O zelo da tua casa me devora. Os judeus tomaram a palavra e lhe disseram: “Que sinal nos apresentas, para agires assim?” Jesus lhes respondeu: “Destruí este templo, e em três dias o erguerei de novo!” Disseram, então, os judeus: “Foi preciso quarenta e seis anos para erguer este Templo, e tu, em três dias, o erguerás de novo?” Mas ele falava do templo do seu corpo. Quando, afinal, ressuscitou dos mortos, recordaram os discípulos que dissera isso; e creram na Escritura e na palavra que Jesus dissera. Enquanto estava em Jerusalém para a festa da Páscoa, muitos creram em seu nome, vendo os sinais que realizava. Mas Jesus não confiava neles, porque os conhecia todos, e não era preciso que lhe dessem testemunho do homem. Ele próprio sabia o que existe no homem.
A alma, templo de Deus – Lemos no Evangelho da primeira terça-feira da Quaresma, que Jesus expulsou do Templo os que o estavam transformando em um lugar de comércio. Duas vezes Ele mostrou seu zelo pela casa de seu Pai. Ambas ocasiões nos apresentadas neste tempo da Quaresma, porque esta conduta de nosso Salvador nos mostra com que severidade ele tratará uma alma que abriga o pecado em si. Nossas almas são o Templo de Deus, criado e santificado por Deus até o fim para que Ele possa morar lá, e Ele não quer que nossa alma seja usada fora de sua finalidade, que nada indigno esteja nela. Este é o tempo do autoexame, se descobrirmos que alguma paixão está profanando o santuário de nossas almas, devemos rejeitá-las; supliquemos a Nosso Senhor que as expulse, pois, talvez sejamos brandos de mais com esses intrusos sacrílegos. O dia do perdão está próximo, tornemo-nos dignos de recebê-lo. Há uma expressão em nosso Evangelho que merece uma atenção especial.
Conversão profunda – O evangelista está falando daqueles judeus que eram mais sinceros do que os outros e acreditavam em Jesus, por causa dos milagres que Ele realizou; ele diz: Jesus não confiava neles porque os conhecia a todos muito bem. Há pessoas que creem e reconhecem Jesus, mas cujos corações não mudaram! Oh! a dureza do coração do homem! Ó tormento cruel para a consciência dos ministros de Deus! Pecadores e mundanos estão agora se aglomerando em torno do confessionário, eles têm fé e confessam seus pecados, mas a Igreja desconfia de seu arrependimento, pois ela sabe que, pouco tempo depois da Festa da Páscoa, voltarão ao mesmo estado em que estavam no dia em que ela marcou sua fronte com cinzas. A Igreja se preocupa com essas almas estão divididas entre Deus e o mundo, que correm o perigo de em breve receber a Sagrada Comunhão sem a devida preparação, sem uma verdadeira conversão. No entanto, por outro lado, ela lembra como está escrito, que a cana ferida não deve ser quebrada, nem o linho que ainda fumega deve ser extinto (Is 42,3). Rezemos por estas almas, cujo estado é tão cheio de dúvidas e perigos. Rezemos também pelos sacerdotes da Igreja para que possam receber de Deus abundantes raios daquela luz pela qual Jesus conhecia o íntimo de cada homem.
ORAÇÃO SOBRE O POVO – Oremos. Humilhai as vossas cabeças diante de Deus.
NÓS Vos imploramos, Senhor, ouvi benigno os nossos rogos e socorrei com o vosso auxílio aqueles a quem concedeis o fervor da humilde súplica. Por Nosso Senhor.

