A QUARTA-FEIRA DE CINZAS

A QUARTA-FEIRA DE CINZAS
Ano Litúrgico, Dom Próspero Gueranger
INTRODUÇÃO AO DIA
O convite do Profeta – Ontem o mundo fervia nos prazeres, e até mesmo cristãos se entregaram a expansões permitidas; mas já de madrugada ressoou aos nossos ouvidos a trombeta sagrada de que nos fala o Profeta. Anuncia a solene abertura do jejum quaresmal, o tempo da expiação, a proximidade mais iminente dos grandes aniversários da nossa Redenção. Avante, pois, cristãos, preparemo-nos para combater as batalhas do Senhor.
Armadura espiritual – Nesta luta, entretanto, do espírito contra a carne, devemos estar armados, e eis aqui que a Igreja nos convoca em seus templos para adentrarmos nos exercícios, na esgrima da milícia espiritual. São Paulo nos deu a conhecer os pormenores das partes de nossa defensa: “Ficai alerta, à cintura cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz. Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a Palavra de Deus.”[1]
O Príncipe dos Apóstolos vem ainda nos dizer: “Assim, pois, como Cristo padeceu na carne, armai-vos também vós desse mesmo pensamento: quem padeceu na carne rompeu com o pecado”[2] A Igreja nos recorda hoje estes ensinamentos apostólicos, mas ajunta por sua parte outra não menos eloquente, fazendo-nos subir até o dia da prevaricação, que fez necessários os combates aos quais iremos nos entregar, as expiações pelas quais devemos passar.
Os inimigos contra quem devemos lutar – São dois os tipos de inimigos que estão decididos a nos enfrentar: as paixões em nosso coração e os demônios do lado de fora. O orgulho acarretou essa desordem. O homem se negou a obedecer a Deus. Deus o perdoou, com a dura condição de que há de morrer. Disse-lhe, pois: “És pó, ó homem, e ao pó retornarás”[3]. Ai! como esquecemos este salutar aviso? Só ele já seria suficiente para nos fortalecer contra nós mesmos persuadidos de nosso nada, não teríamos nos atrevido a violar a lei de Deus. Se agora quisermos perseverar no bem, o qual a graça de Deus nos restabeleceu, humilhemo-nos, aceitando a sentença e consideremos a vida como caminho mais ou menos curto que acaba no túmulo. Com esta perspectiva, tudo se renova, tudo se explica. A bondade imensa de Deus que se dignou amar a seres condenados à morte se apresenta a nós ainda mais admirável; nossa insolência e nossa ingratidão contra quem desafiamos nos breves instantes de nossa existência nos parece cada vez mais sentida, e a reparação que podemos fazer e que Deus se digna aceitar, nos parece cada vez mais racional e salutífera.
A imposição das cinzas – Este é o motivo que decidiu a Igreja, quando julgou oportuno antecipar quatro dias o jejum quaresmal, para iniciar este santo tempo, marcando com cinzas a fronte culpável de seus filhos e repetindo a cada um as palavras do Senhor que nos condenam a morte. O uso, entretanto, como sinal de humilhação e penitência, é muito anterior a esta instituição e a encontramos praticada no Antigo Testamento. Jó mesmo, no seio da gentilidade, cobria de cinza sua carne ferida pela mão de Deus, e implorava deste modo sua misericórdia. Mais tarde o salmista na viva contrição de seu coração, misturava cinza com o pão que comia[4] e exemplos semelhantes são abundantes nos Livros históricos e nos Profetas do Antigo Testamento. É porque, então, já sentiam vivamente a relação que há entre o pó de um ser materialmente queimado e o homem pecador, cujo corpo será reduzido a pó no fogo da justiça divina. Para salvar prontamente a alma, o pecador recorria à cinza e reconhecendo sua triste fraternidade com ela, se sentia mais resguardado da cólera d’Aquele que resiste aos soberbos e tem prazer em perdoar aos humildes.
Os penitentes públicos – É provável que, quando esta cerimônia da quarta-feira da semana da Quinquagésima foi instituída pela primeira vez, não tenha sido pensada para todos os fiéis, mas apenas para aqueles que cometeram algum daqueles crimes pelos quais a Igreja infligiu uma penitência pública; e somente estes recebeiam as cinzas. Antes da Missa do dia começar, eles se apresentavam na igreja, onde as pessoas estavam reunidas. Os sacerdotes recebiam a confissão de seus pecados, e depois os vestiam de pano de saco, e borrifavam cinzas sobre suas cabeças. Depois desta cerimônia, o Clero e os fiéis se ajoelhavam e recitavam em voz alta os Sete Salmos Penitenciais. Seguia-se uma procissão na qual os penitentes andavam descalços; e no seu retorno o Bispo dirigia estas palavras aos Penitentes: “Eis que vos expulsamos do recinto da Igreja, por causa de seus pecados e crimes, assim como Adão, o primeiro homem, foi expulso do Paraíso por causa de sua desobediência”. O Clero então cantava vários responsórios extraídos do Livro de Gêneses, e no qual foi feita menção da sentença proferida por Deus quando condenou o homem a comer seu pão no suor de seu rosto, pois a terra foi amaldiçoada por conta do pecado. As portas eram, então, fechadas e os penitentes não deveriam passar o limiar até a Quinta-feira Santa, quando deveriam vir e receber absolvição.
Extensão do rito litúrgico – Datada do século XI, a disciplina da penitência pública começou a cair em desuso, e o santo ritual de colocar as cinzas sobre as cabeças de todos os fiéis indiscriminadamente tornou-se tão geral que, por fim, foi considerado como parte essencial da liturgia romana[5]. Antigamente, era prática aproximar-se com os pés descalços para receber essa solene lembrança do nosso nada; e descobrimos que, mesmo no início do século XII, o próprio Papa, ao passar da Igreja de Santa Anastácia para a de Santa Sabina, na qual a Estação estava reunida, percorreu toda a distância de pés descalços, como também os Cardeais que o acompanhavam. A Igreja não requer mais essa penitência exterior; mas ela está tão ansiosa como sempre, que a cerimônia santa, da qual estamos prestes a participar, deveria produzir em nós os sentimentos que ela sempre pretende transmitir. Não nos deixemos, pois, tristes porque devemos jejuar; fiquemos tristes apenas porque pecamos e tornemos o jejum uma necessidade.
A Estação da Missa é em Santa Sabina, do Monte Aventino, onde começamos os santos jejuns quaresmais. Façamos penitência e imploremos a misericórdia de Deus.
Pela imposição das cinzas recebemos hoje o convite oficial da Igreja, para fazermos penitência: “Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás de tornar”. A cinza é simbolo de penitêncía pelos pecados que trouxeram a morte para este mundo. As orações da bênção e imposição das cinzas e as da Missa nos fazem penetrar no espírito da penitência cristã: humilde submissão, unida a uma grande confiança na misericórdia de Deus (Intróito, Trato). Enquanto a Epístola nos põe diante dos olhos um exemplo comovente de penitência, o jejum, Jesus Cristo nos ensina no Evangelho que este jejum, deve ser, antes de tudo interior. Se antigamente só os pecadores públicos recebiam as cinzas, mais tarde foi estendida esta prática a todos os fiéis, pois todos devem sentir-se e confessar-se pecadores e fazer penitência.
COMENTÁRIOS SOBRE OS TEXTOS DA BÊNÇÃO DAS CINZAS
ANTIFONA – OUVI-NOS, Senhor, porque é benigna a vossa misericórdia; segundo a multidão de vossas comiserações, olhai para nós, Senhor. Ps. Salvai-me, ó Deus, porque as águas da tribulação penetram até a minha alma. Glória ao Pai. Ouvi-nos.
O sacerdote tendo no altar a cinza, pede a Deus que a faça instrumento de santificação em nosso favor.
ORAÇÃO – Ó Deus onipotente e eterno, perdoai aos penitentes, sede propício para com os suplicantes e dignai-Vos enviar do céu o vosso santo Anjo, que abençoe e santifique estas cinzas. Sejam elas remédio salutar para todos os que humildemente invocam o vosso santo Nome, e reconhecendo os seus delitos, a si mesmos se acusam, e deploram na presença de vossa divina clemência os seus crimes ou solicitam humilde e instantemente a vossa soberana misericórdia. Concedei, pela invocação do vosso santíssimo Nome, que todos os que forem aspergidos com estas cinzas além da remissão de seus pecados, recebam a saúde do corpo e a proteção da alma. Pelo Cristo, Senhor nosso. R. Amém.
ORAÇÃO – Ó Deus, que não desejais a morte, mas sim a penitência dos pecadores, olhai benigníssimo para a fragilidade da natureza humana e dignai-Vos, por vossa piedade, abençoar estas cinzas que desejamos sejam impostas às nossas cabeças em sinal de nossa humildade e do perdão que esperamos. Fazei que, reconhecendo que somos cinza e que em pó nos tornaremos em punição de nossa maldade, mereçamos alcançar de vossa misericórdia o perdão de todos os nossos pecados e as recompensas prometidas aos que fazem penitência. Pelo Cristo, Senhor nosso. R. Amém.
ORAÇÃO – Ó Deus, que Vos deixais abrandar pela humildade, e pela reparação Vos aplacais, inclinai os ouvidos de vossa misericórdia às nossas preces, e sobre as cabeças de vossos servos aspergidas com estas cinzas, derramai, propício a graça de vossa bênção. Dai-lhes o espírito de compunção, concedei-lhes eficazmente o que justamente pedirem, e conservai-lhes perpetuamente estável e intacto o que de vossa mão receberam. Pelo Cristo, Senhor Nosso. R. Amém.
ORAÇÃO – Ó Deus onipotente e eterno, que concedestes o remédio de vossa indulgência aos Ninivitas, que fizeram penitência sob a cinza e o cilício, concedei-nos, benigno, que de tal sorte os imitemos que como eles obtenhamos também o vosso perdão. Por Nosso Senhor. R. Amém.
Depois das orações, o sacerdote asperge com àgua benta a cinza e a incensa. Acabada a incensação recebe ele mesmo a cinza na cabeça das mãos do sacerdote mais digno; este a recebe por sua vez do celebrante, que depois de a impor sobre os ministros do altar e demais clero, faz a imposição ao povo.
Quando se aproxima o sacerdote para marcá-lo com o selo da penitência, aceita submisso a sentença de morte que Deus mesmo pronunciará sobre ti ao te dizer: “Lembra-te, ó homem, que és pó e ao pó retornarás”. Humilha-te e lembra que por ter querido ser como deuses, preferindo teus caprichos ao querer de teu Senhor, foste condenado a morrer. Pensemos na inacabável continuação de pecados que ajuntamos ao pecado de Adão, e admiremos a clemência de Deus que se contentará com uma só morte por tantas rebeldias.
Enquanto se distribui a cinza o coro canta as antífonas e responsórios seguintes:
ANTIFONAS – Mudemos de vestimenta e cubramo-nos com a cinza e o cilício; jejuemos e choremos diante do Senhor, pois nosso Deus é muito misericordioso e pronto a perdoar os nossos pecados. – Entre o vestíbulo e o altar chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, dizendo: Perdoai, Senhor, perdoai ao vosso povo, e não fecheis a boca dos que entoam os vossos louvores, ó Senhor.
RESPONSÓRIO – Emendemos para o bem, o mal que praticamos por ignorância; não seja que, surpreendidos pelo dia da morte, procuremos tempo de penitência, e não possamos achá-lo. * Atendei-nos, Senhor, e tende piedade de nós, porque pecamos contra Vós. V. Ajudai-nos, ó Deus, Salvador nosso, e pela glória de vosso Nome, livrai-nos, Senhor. * Atendei-nos, Senhor. V. Glória ao Pai. * Atendei-nos, Senhor.
Terminada a distribuição da cinza o Padre diz a oração seguinte:
ORAÇÃO – Permiti, Senhor, que iniciemos com santos jejuns o combate da milícia cristã, a fim de que, tendo que lutar contra os espíritos do mal, sejamos munidos dos auxílios da abstinência. Por Cristo Nosso Senhor. R. Amém.
COMENTÁRIOS SOBRE OS TEXTOS DA MISSA
Consolada pelo ato de humildade que acaba de realizar, a alma cristã se enche de ingênua confiança para com Deus misericordioso; se atreve a recordar-lhe seu amor para com os homens que criou, e a longanimidade com que se dignou esperar sua volta para Ele. Estes sentimentos são o tema do Intróito cujas palavras estão tiradas do livro da Sabedoria.
INTRÓITO – SENHOR, tendes piedade de todos e não odiais nenhuma das vossas criaturas. Vós usais de indulgência para com os pecados dos homens e lhes perdoais quando eles fazem penitência; porque sois o Senhor, nosso Deus. SL. Tende piedade de mim, porque minha alma confia em Vós. Glória ao Pai.
A Igreja pede na Coleta em favor de seus filhos, para que a salutar prática do jejum seja acolhida por eles com sincera complacência e que nela perseverem para o bem de suas almas.
COLETA – CONCEDEI, Senhor, a vossos fiéis, que iniciem com piedade sincera a solenidade destes santos jejuns, e com devoção condigna os levem até o fim. Por Nosso Senhor. R. Amém.
EPÍSTOLA – Leitura do Profeta Joel. – EIS o que disse o Senhor: Convertei-vos de todo o vosso coração em jejuns, em lágrimas e gemidos. Rasgai vossos corações e não vossos vestidos; convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, que é benigno e compassivo, paciente e rico em misericórdia, e pronto a perdoar a maldade. Quem sabe se Ele não se voltará para vós, se vos perdoará, e não deixará uma bênção atrás de Si, [para apresentardes novamente] sacrifício e libação ao Senhor, vosso Deus? Tocai a trombeta em Sião, guardai um jejum sagrado, convocai a assembleia, reuni o povo, santificai a Igreja, reuni os velhos, congregai os pequeninos e os meninos de peito; saia o esposo de seu aposento e a esposa do seu leito nupcial. Os sacerdotes, ministros do Senhor, chorem entre o vestíbulo e o altar, dizendo: Perdoai, Senhor, perdoai ao vosso povo, e não deixeis cair a vossa herança no opróbrio, expondo-a aos insultos das nações. Porque se diria entre as nações: Onde está o seu Deus? O Senhor zela por sua terra e perdoa o seu povo. E o Senhor responde e diz a seu povo: Eis que vou enviar-vos trigo, vinho e azeite; deles ficareis abastecidos e nunca mais vos entregarei aos insultos das nações. Assim disse o Senhor onipotente.
A EFICÁCIA DO JEJUM – Aprendemos desta passagem magnífica do Profeta Joel quão aceitável a Deus é a expiação do jejum. Quando o pecador penitente inflige penitência corporal sobre si mesmo, a justiça de Deus é aplacada. Temos uma prova disso nos ninivitas. Se o Todo-Poderoso perdoa uma cidade infiel, como era Ninive, unicamente porque seus habitantes buscavam misericórdia sob o manto da penitência; o que ele não fará em favor de seu próprio povo, que lhe oferece o duplo sacrifício, as obras exteriores de mortificação e verdadeira contrição de coração? Vamos, então, corajosamente, entrar no caminho da penitência. Vivemos em uma época em que, por falta de fé e de temor a Deus, as práticas tão antigas quanto o próprio cristianismo, sobre as quais quase poderíamos dizer que foram fundadas, estão caindo em desuso: é conveniente que sejamos em nossa guarda, para que nós também não devemos absorver os falsos princípios, que tão terrivelmente enfraqueceu o espírito cristão. Nunca nos esqueçamos da nossa dívida pessoal com a justiça divina, que não remete nem os nossos pecados nem a punição que lhes é devida, a não ser que estejamos prontos para obter satisfação. Acabamos de nos dizer que esses corpos que, tão inclinados a mimar, são apenas pó; e quanto às nossas almas, que tantas vezes somos tentados a sacrificar por ceder à carne, elas reivindicam o corpo, reivindicando restituição e obediência.
A Igreja continua desenvolvendo no Gradual os vivos sentimentos de confiança em Deus bondosíssimo, e espera, para a felicidade de seus filhos, que saibam aproveitar os meios com os quais dispõem para desarmar o braço divino.
GRADUAL – TENDE piedade de mim, ó Deus, tende piedade de mim, porque a minha alma confia em Vós. V. Enviou do céu o seu auxilio e livrou-me; cobriu de opróbrio os que me espezinhavam.
O Tracto é uma formosa oração de Davi; repetida três vezes por semana durante a Quaresma, e dela se sirve para apaziguar a cólera de Deus em tempos calamitosos.
TRACTO – SENHOR, não nos trateis segundo os pecados que cometemos, nem nos castigueis como merecem as nossas iniquidades. V. Senhor, não Vos recordeis de nossos antigos delitos. Venham depressa ao nosso encontro vossas misericórdias, porque fomos reduzidos à extrema miséria. (Aqui todos se ajoelham) V. Ajudai-nos, ó Deus, salvação nossa, e para glória de vosso Nome, livrai-me, Senhor; e perdoai-nos os nossos pecados, para honra de vosso Nome.
EVANGELHO – Continuação do santo Evangelho segundo São Mateus. – NAQUELE tempo, disse Jesus a seus discípulos: Quando jejuardes, não tomeis um ar tristonho, como o fazem os hipócritas, que desfiguram suas faces, para que os homens vejam como jejuam. Em verdade, eu vos digo: já receberam-a recompensa. Mas, quando tu jejuares, unge a tua cabeça e lava o teu rosto, para que não mostres aos homens que estás jejuando, mas só a teu Dai, que está presente ao que há de mais secreto; e teu Dai, que vê no oculto, te dará a recompensa. Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça consomem e onde os ladrões desenterram e roubam. Ajuntai, porém, tesouros no céu, onde não há ferrugem nem traça que consomem, nem ladrões que desenterram e roubam. Porque onde está o teu tesouro, esta também aí o teu coração.
ALEGRIA DA QUARESMA – Nosso Redentor não quer que recebamos o anúncio do grande jejum com tristeza e melancolia. O cristão que compreende que é perigoso estar atrasado com a justiça divina, acolhe com alegria a estação da Quaresma; isso o consola. Ele sabe que, se for fiel ao observar o que a Igreja prescreve, sua dívida será menos pesada para ele. Essas penitências, essas satisfações (que a indulgência da Igreja tornou tão fácil), sendo oferecidas a Deus unidas com as do nosso próprio Salvador, e tornando-se frutíferas por aquela santa comunhão que mistura em um sacrifício propiciatório comum as boas obras de todos os membros da Igreja Militante, purificarão nossas almas e as tornarão dignas de participar da grande alegria pascal.
A Igreja canta no Ofertório nossa liberdade. Se regozija ao já ver curadas as feridas de nossa alma porque conta com nossa perseverança.
OFERTÓRIO – EXALTAR-VOS-EI, Senhor, porque me recebestes e não deixastes que os meus inimigos se alegrassem à minha custa. A Vós, clamei, Senhor, e me curastes.
SECRETA – SENHOR, nós Vos rogamos que nos façais dignos de Vos oferecer estas dádivas, com as quais celebramos o início deste augusto Mistério. Por Nosso Senhor.
PREFÁCIO – Verdadeiramente é digno e justo, e igualmente salutar, que, sempre e em todo o lugar, Vos demos graças, ó Senhor santo, Pai onipotente, eterno Deus: que pelo jejum corporal reprimis os vícios, elevais a inteligência, concedeis a virtude e o prêmio dela, por Jesus Cristo, Nosso Senhor. Por Ele louvam os Anjos a vossa Majestade, as Dominações a adoram, tremem as Potestades. Os Céus, as Virtudes dos Céus e os bem-aventurados Serafins a celebram com recíproca alegria. Às suas vozes, nós Vos rogamos mandeis que se unam as nossas, quando, em humilde confissão, Vos dizemos: Santo…
As palavras da antífona da Comunhão encerram importantíssimo conselho. Necessitamos mantener-nos firmes durante la Cuaresma. Meditemos a lei do Senhor e seus mistérios. Se saboreamos a palavra de Deus que a Igreja nos propõe cada dia, a luz e o amor se acrescentarão em nossos corações sem cessar, e quando o Senhor sair das sombras do sepulcro, reverberarão sobre nós seus divinos resplendores.
COMUNHÃO – O QUE medita na lei do Senhor de dia e de noite dará seu fruto, em tempo próprio.
POSCOMUNHÃO – SENHOR, prestem-nos auxílio os Sacramentos recebidos, a fim de que nossos jejuns Vos agradem e sirvam de remédio para as nossas almas. Por Nosso Senhor.
Todos os dias da Quaresma, com exceção dos domingos, antes de despedir o povo, o Padre pronuncia sobre eles uma oração particular[6], precedida sempre desta advertência:
Humilhai a vossa cabeça diante de Deus.
ORAÇÃO – ATENDEI, Senhor, benignamente aos que se humilham perante vossa Majestade, para que, nutridos com este Dom divino, sejam sempre amparados com os auxílios celestes. Por Nosso Senhor.
[1] Efésios 6, 14-17.
[2] I Pedro 4,1.
[3] Gêneses 3,19.
[4] Salmo 101,10.
[5] Não é fácil determinar a data exata em que se chegou a esta evolução. Só sabemos que no Concílio de Benevento em 1091, Urbano II tornou-a obrigatória para todos os fiéis. A cerimônia atual encontra-se detalhada nos Ordines do século XII; as antífonas, responsórios e orações da bênção das cinzas estavam em uso já entre os séculos VIII e X.
[6] É uma fórmula de bênção pedindo a Deus que os fiéis possam voltar às suas ocupações ordinárias, levando consigo prenda segura da proteção do Céu (Callewaert, Sacris erudiri, 694).

