Oratório São José

A QUARTA-FEIRA DA IV SEMANA DA QUARESMA

Ano Litúrgico - Dom Próspero Gueranger

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A QUARTA-FEIRA DA IV SEMANA DA QUARESMA

Ano Litúrgico – Dom Próspero Gueranger

O grande escrutínio – Este dia é chamado de “Feria do grande escrutínio” porque na Igreja de Roma, após as investigações e exames necessários, era concluída a lista dos catecúmenos que deveriam receber o batismo. A estação foi realizada na Basílica de São Paulo fora dos muros, tanto por causa do tamanho do edifício e também a fim de homenagear o Apóstolo dos gentios, oferecendo-lhe esses novos recrutas que a Igreja estava prestes a fazer do paganismo. O leitor ficará interessado e edificado com uma descrição desta cerimônia.

O catecumenato – Os fiéis e os aspirantes ao Batismo reunidos na Basílica, por volta da hora do meio-dia, os nomes destes últimos estavam escritos e um acólito os organizava em ordem diante do povo, colocando os homens à direita e as mulheres à esquerda. Um sacerdote, então, recitava sobre cada um deles a oração que os fazia catecúmenos, pois era só por antecipação que até agora eram chamados com esse nome. Ele assinalava suas testas com o sinal da cruz e impunha as mãos sobre suas cabeças. Abençoava o sal (que significa Sabedoria) e cada um deles provava-o.

A Ante-Missa

Depois dessas cerimônias preliminares, eles eram obrigados a sair da igreja e permaneceram sob o pórtico externo, até que fossem chamados novamente. Assim que eles saíam (a assembleia dos fiéis permanecia na igreja), iniciava-se o Intróito tirado das palavras do Profeta Ezequiel, em que Deus nos diz que reunirá seus eleitos de todas as nações e derramará sobre eles uma água limpa, que os purificará de seus pecados. O acólito então lia os nomes dos catecúmenos e eles eram trazidos para a igreja pelo ostiário. Eles eram organizados como antes e os Padrinhos estavam perto deles. O pontífice, então, cantava a Coleta, depois, ao convite do diácono, cada Padrinho fazia o sinal da cruz na testa do catecúmeno, por quem era responsável. Em seguida vinham os Acólitos que que faziam os exorcismos sobre cada um deles, primeiro sobre os homens, depois sobre as mulheres.

Depois um leitor lia a lição do Profeta Ezequiel, que daremos em seu devido lugar, o qual era seguido por um Gradual, composto por estas palavras de David: “Venham, filhos, me escutem: Eu vos ensinarei o temor do Senhor. Vinde a Ele e sereis iluminados, e o vosso rosto não será confundido”.

Na Coleta, que seguia esta lição, a Igreja rezava para que os fiéis recebessem os frutos do seu jejum quaresmal e, imediatamente, uma segunda lição era lida, do Profeta Isaías, na qual é predita a remissão dos pecados a ser concedida àqueles que serão purificados na misteriosa pia do Batismo.

Um segundo Gradual trazia estas palavras do salmista: “Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor; o povo que ele escolheu para sua herança”.

Durante a leitura destas duas lições e o canto dos dois Graduais, a cerimônia misteriosa da abertura dos ouvidos estava sendo realizada. Sacerdotes iam a cada catecúmeno e, tocando seus ouvidos, diziam: “Epheta”, isto é, abre-te. Este rito, que é uma imitação do que nosso Salvador fez ao homem surdo e mudo mencionado no Evangelho (Mc 7,32-34), foi pensado para preparar os catecúmenos para receber a revelação dos mistérios que, até aquele tempo, só tinha sido mostrado sob o véu da alegoria. A primeira iniciação feita a eles foi sobre os santos Evangelhos.

Assim que o segundo Gradual acabava, quatro diáconos saiam da sacristia precedidos por velas e incenso, cada um deles carregando um dos quatro Evangelhos. Eles avançavam em direção ao Santuário (presbitério) e colocavam o livro sagrado sobre Altar, um em cada canto. O Bispo, ou se ele quisesse, um Sacerdote, dirigia aos catecúmenos a seguinte alocução que encontramos ainda no Sacramentário Gelasiano:

“Estando prestes a lhes abrir os Evangelhos, isto é, a história dos atos de Deus, primeiramente cabe a nós, queridos filhos amados, dizer-lhes o que os Evangelhos são, de onde vêm, cujas palavras contêm, por que são quatro em número e quem os escreveu; em resumo, quem são os quatro homens que foram anunciados pelo Espírito Santo e preditos pelo Profeta. A menos que explicássemos esses vários detalhes, vossas mentes ficariam confusas, e considerando que viestes hoje para que vossos ouvidos possam ser abertos, seria inconveniente que começássemos desnorteando vossas mentes. O Evangelho literalmente significa boa nova porque nos fala de Jesus Cristo, Nosso Senhor. O Evangelho veio dele, a fim de proclamar e mostrar que Ele, que falou pelos profetas, veio agora na carne, como está escrito: Eu mesmo que falei, estou aqui. Tendo brevemente para vos explicar o que é o Evangelho, e quem são os quatro homens preditos pelo Profeta, nós agora vos damos seus nomes, seguindo a ordem das figuras, sob as quais são designados. O Profeta Ezequiel diz: ‘Eis aqui suas aparências: um homem e um leão à sua direita, um touro e uma águia à sua esquerda. Nós sabemos que estas quatro figuras representam os Evangelistas, cujos nomes são: Mateus, Marcos, Lucas e João.’”

Depois desse discurso, um diácono, subindo ao ambão, dirigia-se aos catecúmenos, dizendo: Guardai silêncio e ficai atentos!

Então, abrindo o Evangelho de São Mateus, que ele já havia tirado do altar, lia o começo, até o vigésimo 21.

Lidos esses versículos um sacerdote falava da seguinte forma:

“Caríssimos filhos, desejamos não mais vos deixar em suspense. Portanto, expomos a figura de cada evangelista. Mateus tem a figura de um homem, porque, no começo de seu livro, ele dá a genealogia do Salvador; pois ele começa com estas palavras: ‘O livro da geração de Jesus Cristo, o Filho de Davi, o filho de Abraão’. Por isso, não é sem razão que a Mateus foi atribuída a figura do Homem, desde que ele começa com o nascimento humano do Salvador”.

O diácono, que tinha ficado no ambão, dizia novamente: Guardai silêncio e ficai atentos!

Então, lia o início do Evangelho de São Marcos, até o oitavo versículo.

Depois disso, o Sacerdote dizia o seguinte:

“O evangelista Marcos tem a figura do leão, porque ele começa com o deserto, dizendo: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; ou por outro exemplo, porque o Salvador agora reina e é invencível. Esse tipo de leão é frequentemente mencionado nas Escrituras, e é a aplicação dessas palavras: Filhote de leão, Judá: voltas trazendo a caça, meu filho. Dobra-se, deita-se como um leão; como uma leoa: quem o despertará?”

O diácono, tendo repetindo seu aviso, lia em seguida o início do Evangelho segundo São Lucas, até o versículo 17, depois do qual o Sacerdote dizia:

“O Evangelista Lucas tem a figura do boi, que nos lembra que o Salvador foi oferecido em sacrifício. Este Evangelista começa falando de Zacarias e Isabel de quem, na sua velhice, nasceu João Batista.”

Tendo o diácono anunciado, da mesma maneira solene, o Evangelho de São João, do qual lia os primeiros 14 versículos, o sacerdote prosseguia sua instrução:

“João tem a figura da águia, porque ele se eleva nos altos. É ele que diz: ‘No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.’ Davi também, falando da pessoa de Cristo, assim se expressa: ‘Tua juventude será renovada como a da Águia’; porque nosso Senhor Jesus Cristo, tendo ressuscitado dos mortos, subiu ao céu. Assim, caríssimos irmãos, a Igreja que vos gerou e ainda vos traz no ventre materno, exulta com o pensamento do novo aumento a ser dado à lei cristã, quando, no venerado dia da Páscoa, renascerdes nas águas do batismo e receberdes, como todos os santos de Cristo nosso Senhor, a dádiva da infância da fé.”

A explicação dos quatro evangelistas era seguida pela cerimônia chamada “Entrega do Símbolo” (Traditio Symboli). Consistia em dar aos catecúmenos o Credo (ou Símbolo) dos Apóstolos, e em eras subsequentes, o de Nicéia, ou, como nós a chamamos, o Credo Niceno. O Sacerdote dizia a seguinte alocação:

“Sendo agora admitidos para receber o sacramento do batismo, e tornar-vos novas criaturas no Espírito Santo, cabe-vos, filhos caríssimos, conceber de uma vez em vossos corações a fé pela qual deveis ser justificados: cabe-vos, tendo de hoje em diante em vossas mentes mudado pelo hábito da verdade, aproximar-vos de Deus, que é a luz de vossas almas. Recebei, portanto, o segredo do símbolo evangélico, que foi inspirado pelo Senhor e redigido pelos Apóstolos. Suas palavras são poucas, mas grandes são os mistérios que contém: pois o Espírito Santo, que ditou esta fórmula aos primeiros mestres da Igreja, expressou aqui a fé que nos salva, com grande precisão de palavras, para que as verdades que devem ser acreditadas e incessantemente meditadas, não superarem o vosso entendimento, nem escapem da vossa memória. Sejais, pois, atentos para aprender este símbolo; e, tendo nós mesmos recebido este símbolo, nós o entregamos a vós, para que o escrevais, não em coisas corruptíveis, mas nas tábuas do vosso coração. Agora a confissão de fé, que recebestes, começa assim.”

Um dos catecúmenos era, então, instruído a se apresentar, e o Sacerdote perguntava ao acólito que o acompanhava: “Em que língua estes confessam nosso Senhor Jesus Cristo?”

O acólito respondia: “Em grego.”

Deve-se lembrar que, sob os imperadores, o uso da língua grega era quase tão geral em Roma quanto o do latim. O Sacerdote então dizia ao acólito: “Dizei-lhe a fé em que acreditam.”

Aqui, o acólito, colocando a mão sobre a cabeça do catecúmeno, pronunciava o Credo em grego, em tom solene. Um dos catecúmenos do sexo feminino, cuja língua fosse a grega, era então apresentada, e o acólito repetia o Credo da mesma maneira. O Sacerdote então dizia: “Caríssimos filhos, ouvistes o símbolo em grego; ouvi agora em latim.”

Assim, dois catecúmenos, que falavam a língua latina, eram levados adiante, primeiro um homem e depois uma mulher. O acólito recitava duas vezes o Credo em latim diante de deles, e alto o suficiente para todos os outros ouvissem. A entrega do Símbolo assim concluída, o Sacerdote fazia a seguinte alocação:

“Este é o compêndio de nossa fé, caríssimos filhos, e estas são as palavras do Símbolo, escolhidas e ordenadas não como se fossem fruto da mente humana, mas conforme o que foi dito pela mente divina. Todos são capazes de compreendê-las e retê-las na memória. Nele se fala do poder único e igual de Deus Pai; nele nos é ensinado como o único Filho de Deus nasceu segundo a carne da Virgem Maria por virtude do Espírito Santo; nele se narra a crucifixão, sua sepultura e sua ressurreição ao terceiro dia; nele se afirma sua ascensão aos céus, a tomada de seu trono à direita da majestade do Pai, sua futura vinda para julgar os vivos e os mortos. Nele se fala do Espírito Santo que tem a mesma divindade que o Pai e o Filho; nele, finalmente, se ensina a vocação da Igreja, a remissão dos pecados e a ressurreição da carne. Já vos despojastes do homem velho, caríssimos filhos, para reformar-vos conforme ao novo; de carnais vos transformareis em espirituais; de terrestres em celestiais. Crede com fé firme e constante que assim como Cristo ressuscitou, assim também vós ressuscitareis e que, este prodígio que se realizou em nosso Chefe, se reproduzirá também em todos os membros de seu corpo. O Sacramento do Batismo que em breve recebereis nos confirma nesta esperança. Tem os efeitos da morte e da ressurreição; nele se despoja o homem velho e se reveste do novo. O pecador se submerge na água e sai justificado. Assim é lançado para longe a quem nos arrastou para a morte e, em troca, se recebe a quem nos deu a vida, o qual, mediante a graça que vos dará, vos fará filhos de Deus, não segundo a carne, mas em virtude do Espírito Santo. Deveis gravar em vossos corações esta breve fórmula para que vos serva dela como um socorro, da Confissão que contém. O poder desta arma é invencível contra todas as emboscadas do inimigo; tem que ser familiar aos verdadeiros soldados de Cristo. Que o diabo, que jamais deixa de tentar ao homem, vos ache sempre armados deste Símbolo. Sai triunfadores do inimigo que acabais de renunciar, conservai, com a ajuda do Senhor, até o fim, incorruptível e imaculada a graça que vos foi dada; finalmente aquele que vos perdoará os pecados vos dê também a glória da ressurreição. Assim pois, caríssimos filhos, agora que conheceis o Símbolo da fé católica aprendei-o com cuidado sem mudar uma só palavra. A misericórdia de Deus é poderosa; que vos guia à fé do batismo a que aspirais; e a nós, que hoje vos revelamos os mistérios, nos leve juntamente convosco ao reino dos céus, por intercessão do mesmo Jesus Cristo, Nosso Senhor que vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém.”

Depois da Entrega do Símbolo fazia-se a Entrega da Oração do Senhor. O diácono anunciava esta nova graça primeiro e, depois de recomendar manter o silêncio e atenção, um sacerdote dirigia aos candidatos esta nova alocução:

Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, entre os diversos preceitos proveitosos, no dia em que seus discípulos lhe pediram como deviam orar lhes deu esta fórmula de oração que em breve ouvireis e que vos revelarei o sentido por completo. Escutai agora, com caridade, como o divino Salvador ensinou a seus discípulos como rezar a Deus Pai Onipotente: Quando rezardes, disse, fechai a vossa habitação e ali rezai ao vosso Pai. Por habitação não se entende um lugar afastado, mas o íntimo de vosso coração que só Deus conhece. Quando diz que se deve orar a Deus a porta fechada, nos adverte que devemos fechar coração aos maus pensamentos com a chave mística, e com os lábios fechados, falar a Deus com grande pureza de alma. O que Deus escuta, é a fé, não o ruído das palavras. Fechemos, pois, nosso coração com a chave da fé às emboscadas do inimigo; que só se abra para louvar a Deus de quem sabemos ser templo; e morando o Senhor deste modo em nossos corações ouvirá benignamente nossas orações. O Verbo, a Sabedoria de Deus, Cristo nosso Senhor, nos ensinou a seguinte oração:

Pai nosso que estais no Céu. – Observe estas palavras, quão cheias são da santa liberdade e confiança. Vivei, portanto, de tal maneira que sejais filho de Deus e irmão de Cristo. De que precipitação não seria culpado quem se atreve a chamar Deus de seu pai, mas provou ser degenerado, opondo-se a vontade de Deus! Caríssimos filhos, mostrem-se dignos da adoção divina, porque está escrito: Aos que crêem em seu nome, Ele deu poder para se tornarem filhos de Deus.

Santificado seja o vosso Nome. – Não é que Deus, que é sempre Santo, precise ser santificado por nós; mas o que aqui pedimos é que seu nome seja santificado em nós; para que nós, que fomos santificados pelo batismo que ele nos deu, possamos perseverar no novo ser que recebemos d’Ele.

Venha o vosso reino. – Nosso Deus, cujo reino é imortal, não reinará para sempre? Sim, indubitavelmente: mas o que pedimos, quando dizemos: Venha o vosso reino, é a vinda daquele reino que nos prometeu, e que Cristo mereceu por nós pelo seu Sangue e Paixão.

E seja feita a vossa vontade assim na terra como no Céu. – Isso quer dizer: Que a Vossa vontade seja de tal maneira cumprida que o que Vós quereis no céu, possa ser fielmente realizado por nós que estamos na terra.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje. – Queremos dizer com isso, nosso alimento espiritual; porque Cristo é o nosso Pão, como Ele disse: “Eu sou o Pão vivo que desceu do céu”. Dizemos nosso pão de cada dia, porque devemos incessantemente pedir para sermos livres do pecado, a fim de que possamos ser dignos desse alimento celestial.

E perdoar-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. – Estas palavras significam que não podemos merecer o perdão dos nossos pecados, a menos que antes perdoemos o que os outros fazem contra nós. Pois assim Nosso Senhor diz no Evangelho: Se não perdoardes aos homens as faltas que cometeram contra vós, igualmente vosso Pai não vos perdoará vossos pecados.

E não nos deixeis cair em tentação. – Isto é: não nos deixeis ser levados pelo tentador, pelo autor do mal. Porque a Escritura diz: “Deus não incita para o mal”. É o diabo que nos tenta, e para que possamos vencê-lo, o Senhor nos diz: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação”.

Mas livrai-nos do mal. – Estas palavras referem-se àquilo que é dito pelo Apóstolo: “Não sabeis o que deveis pedir”. Devemos suplicar ao único e onipotente Deus, que os males que não podemos evitar por causa da fraqueza humana, possamos evitar na virtude daquela ajuda que misericordiosamente nos será concedida por Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo Deus, vive e reina na unidade do Espírito Santo, para todo o sempre.

Depois dessa alocução, o diácono dizia: Guardai a ordem e o silêncio, e ficai atentos!

O sacerdote, então, continuava com estas palavras:

“Acabais de ouvir, caríssimos filhos, os mistérios da Oração Dominical; agora gravai-os em vossos corações para que chegueis a ser perfeitos e mereçais pedir e receber a misericórdia divina. Deus nosso Senhor é poderoso e, aos que em breve receberão a fé, vos conduzirá ao banho das águas regeneradoras. Digne-Se levar-nos convosco ao reino celestial em recompensa por termos vos instruído nos mistérios da fé católica, Ele que vive e reina com Deus Pai na unidade com o Espírito Santo pelos séculos dos séculos.”

A MISSA

Depois do Evangelho, no qual foi relatada a cura do homem que nasceu cego, o diácono, como de costume, ordenava a todos os catecúmenos que deixassem a igreja. Eles eram retirados pelos seus padrinhos, depois os padrinhos retornavam para assistir ao Santo Sacrifício, como os demais fiéis. No Ofertório, os padrinhos subiam ao altar e entregavam os nomes de seus afilhados espirituais, cujos nomes, como também os dos próprios padrinhos, eram lidos pelo bispo durante o Cânon. Perto do fim da Missa, os catecúmenos eram trazidos novamente à igreja e eram informados sobre a data em que deveriam se apresentar para o exame sobre o Símbolo e as outras instruções que receberam neste dia.

 

COLETA – Oremos. Ajoelhemo-nos. Levantemo-nos.

Ó DEUS, que concedeis aos justos a recompensa de seus méritos, e aos pecadores, por meio do jejum, o perdão de suas faltas, compadecei-Vos de vossos fiéis suplicantes, e fazei que a confissão de nossa culpa nos possa merecer a remissão de nossos pecados. Por Nosso Senhor.

LEITURA – Leitura do livro do profeta Ezequiel.

PALAVRA do Senhor Deus: Eu vou mostrar quanto meu grande Nome é santo! Ele foi desonrado entre os povos, entre os quais o profanastes. As nações vão saber que eu é que sou o Senhor quando eu for, a seus olhos, santificado em vós. Porque eu vou retirar-vos do meio de todos os povos, eu vos reunirei de toda região, eu vos conduzirei à vossa terra. Eu derramarei sobre vós uma água pura, e vós sereis purificados. De todas as vossas impurezas e de todos os vossos ídolos, eu vos purificarei.” Eu vos darei um coração novo, e porei em vós um novo espírito. Eu tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. Eu porei meu espírito dentro de vós e vos farei caminhar segundo as minhas leis, e guardar os meus mandamentos, e pô-los em prática. Vós habitareis a terra que dei a vossos pais. Vós sereis o meu povo, e eu serei vosso Deus. – Palavra do Senhor todo-poderoso.

A imponente cerimônia da qual expusemos algumas características, não tinha lugar apenas hoje, ela era repetida muitas vezes de acordo com o número de catecúmenos, e em maior ou menor tempo necessário para escolher ou examinar sobre o comportamento de cada um, os informes que a Igreja precisava para julgar sua preparação para o Batismo. Na Igreja Romana, se tinha, como já indicamos, sete escrutínios, mas o mais numeroso e solene era o de hoje e todos era concluídos com a cerimônia que acabamos de descrever.

Os catecúmenos – Essas magníficas promessas que um dia serão cumpridas no povo judeu quando a justiça de Deus for cumprida, são primeiro realizadas em nossos catecúmenos. A graça divina os uniu de todos os povos gentios para levá-los à sua verdadeira pátria, a Igreja. Mais alguns dias e esta água pura será derramada neles, o que apagará as manchas da idolatria, eles receberão um novo espírito, um novo coração e serão para sempre o verdadeiro povo do Senhor.

EPÍSTOLA – Leitura do livro do profeta Isaías.

PALAVRA do Senhor Deus: Lavai-vos, purificai-vos. Tirai da minha vista vossas más ações. Cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem. Buscai o que é direito, prestai socorro ao oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a viúva. Vinde, pois, e discutamos, diz o Senhor. Se vossos pecados são como o escarlate, tornar-se-ão brancos como a neve. Se são vermelhos como a púrpura, tornar-se-ão como a lã. Se vós consentirdes em obedecer, comereis os frutos da terra. – Palavra do Senhor todo-poderoso.

 

Os penitentes – Agora a Igreja está dirigindo os penitentes a este belo trecho de Isaías. Para eles, um banho também foi preparado: banho doloroso, mais eficaz para lavar todas as manchas de suas almas se eles parecerem sinceramente arrependidos e dispostos a reparar o mal que cometeram. Há algo mais certo do que a promessa do Senhor? As cores mais escuras e brilhantes mudadas em um instante pela brancura da neve são uma imagem da mudança que Deus prepara para trabalhar na alma do pecador contrito. O injusto torna-se justo; as trevas na luz; o escravo de Satanás se torna um filho de Deus. Regozijemo-nos com a nossa Santa Madre Igreja, redobrando o nosso ardor na oração e na penitência, obteremos que o número daqueles que se reconciliaram no grande dia da Páscoa, supere até as suas esperanças.

EVANGELHO – Continuação do santo Evangelho segundo São João.

NAQUELE tempo, viu Jesus, ao passar, um cego de nascença. Seus discípulos lhe fizeram esta pergunta: “Rabi, quem pecou, este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?” Jesus respondeu: “Nem este homem, nem seus pais pecaram; mas foi para que as obras de Deus se manifestem nele. É preciso que eu trabalhe nas obras daquele que me enviou, enquanto for dia; vem a noite, onde ninguém pode trabalhar. Enquanto eu estou no mundo, eu sou a luz do mundo.” Dito isto, cuspiu no chão e fez lama com a sua saliva; em seguida aplicou a lama sobre os olhos do homem, e lhe disse: “Vai lavar-te na piscina de Siloé.” (Nome que significa: enviado.) O homem foi, lavou-se, e quando voltou, estava enxergando! Seus vizinhos e aqueles que antes o viam mendigar disseram então: “Não é este aquele que estava sentado e mendigava?” Uns diziam: “É ele”. Outros diziam: “Que nada! É alguém parecido com ele”. Mas ele afirmava: “Sou eu mesmo.” Perguntaram-lhe então: “Como é que os teus olhos se abriram?” Ele respondeu: “O homem a quem chamam Jesus fez lama, untou-me os olhos, e me disse: “Vai à piscina de Siloé e lava-te. Eu fui, lavei-me; e recobrei a vista!” Eles disseram: “Onde está ele?” Ele respondeu: “Não sei.” Levam aos fariseus o homem que fora cego. Ora, fora num dia de sábado, que Jesus fizera lama e lhe abrira os olhos. Por sua vez, os fariseus perguntaram também como recobrara a vista. Ele respondeu-lhes: “Pôs lama em meus olhos, lavei-me, e agora vejo!” Alguns dos fariseus diziam: “Este homem não vem de Deus, pois não observa o sábado.” Outros replicavam: “Como pode um pecador fazer tais milagres?” E se achavam em desacordo. Então, dirigem-se de novo ao cego: “E tu, que dizes daquele que te abriu os olhos?” Ele disse: “É um profeta.” Os judeus, porém, não quiseram acreditar que o homem tivesse sido cego e tivesse recobrado a vista, senão quando convocaram seus pais e perguntaram: “Este homem é mesmo vosso filho, do qual dizeis que nasceu cego? Como é então que está vendo?” Os pais responderam: “Sabemos que é nosso filho e que nasceu cego. Mas como pode agora ver, não sabemos; e quem lhe abriu os olhos, não sabemos também. Interrogai-o; é bastante crescido para falar por si mesmo.” Seus pais falaram desse modo porque temiam os judeus. Com efeito, já haviam decidido excluir da Sinagoga todo aquele que reconhecesse Jesus como o Messias. Por isso os pais disseram: “É bastante crescido; interrogai-o!” Pela segunda vez, convocaram o homem que fora cego, e lhe disseram: “Dá glória a Deus! Pois sabemos que aquele homem é um pecador.” Ele respondeu: “Se é um pecador, não sei; o que sei muito bem é que eu era cego e agora vejo!” Disseram-lhe então: “Que foi que ele fez contigo? Como te abriu os olhos?” Ele respondeu: “Já vos disse, e vós não me escutastes. Por que quereis ouvi-lo outra vez? Será que desejais também tornar-vos seus discípulos?” Eles o cobriram de injúrias, dizendo: “Tu podes tornar-te discípulo desse homem; mas nós, é de Moisés que somos discípulos. Pois sabemos que Deus falou a Moisés; quanto a esse, não sabemos de onde vem!” O homem respondeu-lhes: “Pois isso é que é espantoso: não sabeis de onde vem, e, no entanto, abriu-me os olhos! Ora, sabemos que Deus não atende aos pecadores, mas ao que é piedoso e faz sua vontade. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se aquele homem não viesse de Deus, nada poderia fazer!” Eles replicaram: “Tu nasceste todo no pecado, e nos vens ensinar!” E o puseram para fora. Jesus soube que o haviam posto para fora, e lhe disse, ao encontrá-lo: “Crês no Filho de Deus?” Ele respondeu: “E quem é ele, Senhor, para que eu creia nele?” Jesus lhe disse: “Tu o viste, é ele que te fala.” Ele disse: “Eu creio, Senhor.” (aqui ajoelha-se) E prostrou-se diante dele.

 

O Batismo – A Igreja dos primeiros séculos designou o Batismo com o nome de Iluminação; este sacramento, de fato, confere ao homem a fé sobrenatural através da qual a luz divina é infundida. Por esta razão, lemos hoje a história da cura do homem cego de nascença, a imagem do homem iluminado por Jesus Cristo. Este tema é frequentemente reproduzido nas pinturas murais das catacumbas e nos baixos-relevos dos antigos sarcófagos cristãos. Todos nascemos cegos. Jesus Cristo, através do mistério de sua encarnação, figurado neste barro que representa nossa carne, mereceu o dom da visão; mas, para desfrutá-lo, temos que ir à piscina do divino Enviado e lavar-nos na água batismal. Então o próprio Deus nos iluminará e as trevas de nossa razão se dissiparão. A docilidade do cego de nascença, que tão sinceramente cumpriu as ordens do Salvador, é a imagem dos catecúmenos; eles ouvem docilmente os ensinamentos da Igreja, porque também querem recuperar a visão. O cego de nascimento, curado, demonstra o que realiza em nós a graça de Jesus Cristo através do Batismo; mais, em que a instrução seja completa, reaparece no final da história para nos dar um modelo de cura espiritual, ferido pela cegueira do pecado.

A Fé – O Salvador pergunta a ele como ele também nos perguntou diante da pia sagrada: Você acredita no Filho de Deus? O cego, ansioso por acreditar, responde prontamente: quem é, Senhor, para eu acreditar n’Ele? Esta é a fé que une a fraca razão do homem à suprema sabedoria de Deus e nos dá a sua verdade eterna. Jesus apenas manifestou sua divindade diante deste homem e já se prostra por terra para adorá-lo: agora ele é verdadeiramente cristão. Quantos ensinamentos estão aqui para os catecúmenos! Ao mesmo tempo, esta história revela e nos lembra o mal dos inimigos de Jesus. Logo eles matarão o Justo por excelência; o derramamento de seu sangue merecerá a cura da cegueira nativa, aumentada ainda mais por nossos pecados pessoais. Louvemos, amemos e reconheçamos nosso divino médico; sua união com a natureza humana preparou o colírio que curará nossos olhos de sua doença e os fará capazes de contemplar para sempre os esplendores da mesma divindade.

ORAÇÃO SOBRE O POVO – Oremos. Humilhai as vossas cabeças diante de Deus.

ABRI, Senhor, os ouvidos de vossa misericórdia às preces de vossos suplicantes e, para que lhes concedais o que desejam, fazei que somente peçam o que for de vosso agrado. Por Nosso Senhor.

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