SANTA EUFRASIA, Virgem (13/03)

Antígono, parente do imperador Teodósio I, morreu, deixando uma filha de um ano chamada Eufrásia. O imperador colocou a viúva e a menina sob sua proteção. Quando a menina tinha cinco anos, ele a contratou em casamento com o filho de um senador rico – como era costume na época – e adiou o casamento até que a donzela atingisse a idade adequada. A viúva de Antígono começou a ser procurada para casamento com tanta frequência que decidiu abandonar a corte e, com a filha Eufrásia, partiu para o Egito, onde se refugiou num convento.
Eufrasia, que tinha sete anos na época, sentiu-se fortemente atraída pela vida religiosa e implorou às religiosas que a deixassem ficar com elas. Sua mãe, para agradá-la e pensando que era apenas um capricho passageiro, permitiu que ela ficasse, esperando que logo ela se cansasse daquela vida e avisando-a que deveria jejuar, deitar no chão e aprender toda a salmodia de cor. Mas a menina foi perseverante e, depois de um período de provação, quis continuar no convento. Então a abadessa disse à mãe: “Deixe a menina conosco, pois a graça de Deus está preparando o seu coração”.
– A piedade que vós incutiistes nela e a que ela herdou de seu pai, Antígono – respondeu a mãe com voz emocionada – abriram para minha filha o caminho para a maior perfeição.
A boa mulher levantou a menina e, chorando de alegria, levou-a até uma imagem do Salvador.
– Meu Senhor, Jesus Cristo! – clamou – Recebei minha filha e fazei com que ela procure apenas a Vós e Vos e ame; recebei-a para que só sirva a Vós e só a Vós se recomende!
Depois abraçou Eufrasia com força, murmurando:
– Que Deus, que deu firmeza inquebrantável às montanhas, te guarde em Seu santo temor!
Poucos dias depois, a menina de oito anos recebeu o hábito e a mãe perguntou se ela estava satisfeita.
– Ah! mãe, – exclamou a pequena noviça – esta é a veste de noiva que me deram para homenagear meu amado Jesus.
Não demorou muito para que a santa mulher fosse fazer companhia ao marido na vida após a morte. Enquanto isso, na solidão do convento, Eufrásia crescia em graça e beleza. Quando a menina tinha doze anos, o imperador, possivelmente Arcádio, lembrou-se da promessa que seu antecessor Teodósio I havia feito e enviou uma mensagem ao convento do Egito, implorando a Eufrásia que voltasse a Constantinopla para cumprir a promessa e se casar com o senador, que havia prometido a ela.
Naturalmente, a jovem recusou-se a deixar o convento e escreveu uma longa carta ao imperador, implorando-lhe que a libertasse para seguir a sua vocação e pedindo-lhe a graça de vender as propriedades herdadas dos seus pais para distribuir o dinheiro entre os pobres também, como deixar todos os escravos de sua casa livres.
O imperador acedeu aos desejos de Eufrásia, que continuou a sua vida habitual no convento; mas então ela começou a sofrer tentações: era constantemente atormentada por pensamentos vãos e desejos malignos de conhecer o mundo que havia abandonado. A abadessa, a quem ela abriu o coração, atribuiu-lhe algumas tarefas difíceis e humilhantes para distrair a sua atenção e afastar os demônios que atormentavam o seu corpo e a sua alma.
Em uma ocasião, ela recebeu ordem de mover uma pilha de pedras e, quando a tarefa foi concluída, recebeu ordem de repetir a operação e assim por diante até trinta vezes. Nisto e em tudo o que lhe foi ordenado, Eufrásia foi pronta e cuidadosa: limpava as celas das outras religiosas, levava água para a cozinha, cortava lenha, assava pão e cozinhava a comida.
A religiosa que exercia essas ocupações era geralmente dispensada dos Ofícios noturnos, mas Eufrásia nunca deixou de ocupar o seu lugar no coro. Apesar da dureza das tarefas que desempenhava, aos vinte anos a sua beleza estava em todo o seu esplendor: era alta, esbelta e tinha um rosto lindo e cheio de expressão. Contudo, sua mansidão e humildade eram extraordinárias.
Certa vez, uma empregada da cozinha perguntou-lhe por que às vezes ela ficava sem comer a semana toda, algo que ninguém ousava fazer, exceto a abadessa. A santa disse-lhe que o fez por vontade própria e sem consentimento de ninguém; então a empregada a chamou de hipócrita, pois ela só tentava chamar a atenção na esperança de ser nomeada superiora. Longe de se sentir ofendida por uma acusação tão injusta, Eufrásia lançou-se aos pés daquela mulher, pedindo-lhe perdão e suplicando-lhe que rezasse por ela.
Quando a santa estava no leito de morte, Júlia, sua querida irmã com quem dividia a cela, implorou a Eufrásia que obtivesse a graça de estar com ela no céu, já que haviam sido companheiras na terra. Três dias após a morte de Eufrasia, Júlia também morreu.
A velha abadessa que acolheu Eufrásia no seu convento não se consolava com a perda daquelas duas queridas filhas e não deixava de rezar fervorosamente ao céu para que não demorasse a ir juntar-se a elas. Um dia, pouco tempo depois, quando as religiosas entraram na cela da abadessa, encontraram-na morta; sua alma voou durante a noite para se juntar às outras duas.
Segundo o costume russo, Santa Eufrásia é nomeada na preparação da Missa bizantina.
(BUTLER Alban de, Vida de los Santos: vol. I, ano 1965, pp. 548-549)

