Oratório São José

SANTOS ANDRÉ DE SOVERAL, AMBRÓSIO FRANCISCO FERRO E COMPANHEIROS (03/10)

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SANTOS ANDRÉ DE SOVERAL, AMBRÓSIO FRANCISCO FERRO E COMPANHEIROS, Mártires

André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro e os seus 28 companheiros, que, fortalecidos pelo Espírito Santo e iluminados pela esperança cristã, não hesitaram em dar a vida por Cristo e em dar o mais alto testemunho de caridade, obtendo assim a recompensa que o Senhor, o justo juiz, reservou para eles.

Esses Servos de Deus, protomártires do Brasil e eles próprios participantes da arquidiocese de Natal, que fica no Nordeste, devolveram com seu sangue a semente fecunda do Evangelho, que os missionários espalharam generosamente entre as nações.

Os massacres, perpetrados por Jacó Rabe, um mercenário alemão a serviço dos holandeses, ocorreram com requintes de crueldade. Os autores do seu sacrifício foram os calvinistas holandeses, que gradualmente tiraram a liberdade da religião e do culto católicos, e os atacaram com perseguição selvagem.

André de Soveral – Nasceu em São Vicente, no dia 16 de julho de 1572, de pais portugueses, que lhe transmitiram sólidos ensinamentos cristãos. São Vicente foi a primeira cidade fundada no Brasil, em 1532, por Martim Afonso de Souza. É provável que André tenha sido aluno do Padre José de Anchieta, um dos primeiros Jesuítas a chegar à Terra de Santa Cruz, e que tenha estudado no “Colégio Menino Jesus”, fundado por Leonardo Nunes.

No período da ação missionária de São José de Anchieta, André partiu para o Nordeste, onde, em 1597, deu início à evangelização no Rio Grande do Norte, junto outros missionários Jesuítas, provenientes do reino católico de Portugal. Por motivos desconhecidos, deixou a Companhia de Jesus, e se tornou Padre diocesano, em Natal. Na época, Cunhaú era um centro econômico de grande importância, por isso chamou a atenção dos holandeses.

Primeiro grupo de Mártires – Tendo chegado no dia anterior, Jacó Rabe mandou afixar na porta da igreja um edital, convocando todos a ouvir, após a celebração, as ordens do Supremo Conselho. No dia 16 de julho de 1845, o primeiro grupo das célebres testemunhas da fé morreu. Era um domingo e os fiéis estavam reunidos na igreja de uma cidade chamada Cunhaú (no atual município de Canguaretama), que fica a cerca de 80 quilômetros da cidade de Natal. O Padre André de Soveral, filho do povo brasileiro, celebrava a Missa, que contava com a presença de aproximadamente 69 pessoas, ou menos, segundo documentos históricos. Após a consagração do Pão e do Vinho, os soldados e os índios fecharam todas as portas e bloquearam as entradas do templo. Jacó Rabe entrou na igreja acompanhado por sua tropa, composta por índios de várias etnias e de repente começaram a matar os fiéis indefesos que resistiram com violência a princípio, mas quando o velho pároco os exortou, eles aceitaram o martírio por sua própria vontade e se ofereceram como vítimas.

O Padre André, um ancião de oitenta anos, “rezava, às pressas, o ofício da agonia” e exortava seus fiéis a bem morrer, quando foi cruelmente atacado pelos Tapuias, vítima de um golpe de adaga enquanto ainda estava no presbitério. Os potiguares se lançaram contra o ministro de Deus e o reduziram a pedaços.

Mortos em Cunhaú (16 de julho de 1645): Padre André de Soveral e Domingos Carvalho. Os nomes dos demais Mártires, cerca de 68, não foram divulgados, pois não puderam ser identificados.

Ambrósio Francisco Ferro – Português dos Açores, após a ordenação sacerdotal chegou ao Brasil. A partir de 1636, atuou como pároco na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação em Natal, Capitania do Rio Grande.

Segundo grupo de Mártires – Os demais Mártires obtiveram a coroa da vida três meses após o primeiro grupo, mais precisamente no dia 3 de outubro do mesmo ano em um lugar chamado Uruaçu (hoje parte do município de São Gonçalo do Amarante.). Antes de serem condenados à morte, foram cruelmente torturados, mas não queriam abandonar a fé católica.

Jacó Rabe prosseguiu seu caminho de crueldade, e os carrascos eram o chefe indígena potiguar Antônio Paraopaba e um pelotão armado de duzentos índios, seus comandados. Este chefe fora educado na Holanda e convertido à religião calvinista, da qual era fanático defensor.

Este segundo grupo de Mártires foram, pelas circunstâncias, divididos em dois lugares: na Fortaleza dos Reis Magos estavam o Pe. Ambrósio Francisco Ferro, Antônio Vilela, o Moço, Francisco de Bastos, Diogo Pereira e José do Porto, Estevão Machado de Miranda, Francisco Mendes Pereira, Vicente de Souza Pereira, João da Silveira e Simão Correia; os demais moradores, a maioria, construiu uma fortificação na pequena cidade de Potengi (que chegou a resistir por 16 dias).

Os que estavam na Fortaleza tiveram que se despir e ficar de joelhos…

Antes de receberem a palma do martírio na Glória do céu, o mínimo que lhes aconteceu foi terem olhos, orelhas e línguas arrancadas, órgãos sexuais cortados e colocados em suas bocas…ainda vivos! Os que não morreram por essas e outras crueldades, começaram a ter os membros cortados, e, dessa forma, entregaram a alma a Deus. Depois de mortos, a barbárie continuou, e seus corpos foram feitos em pedaços… Em contraste a essa violência, temos a atitude serena e profundamente cristã das vítimas. Além disso, importantíssimo para a caracterização do martírio pela fé, foi justamente a presença de um pastor protestante calvinista, que tentou fazê-los abjurar a fé católica e converterem-se à religião dos flamengos. Confessaram a alta voz que morriam na verdadeira fé:

“Pedindo todos a Deus que tivesse deles misericórdia, e lhes perdoasse suas culpas e pecados, protestando que morriam firmes na santa fé católica crendo o que cria a santa madre Igreja de Roma”.[1]

Ambrósio Francisco Ferro, pároco de Natal, foi afligido com especial crueldade porque era ministro de Cristo.

Enquanto isso, os que estava na fortificação em Potengi aguardavam o martírio em clima de grande religiosidade, com orações, procissões, jejuns e terríveis penitências, as quais deixaram forte impressão em seus corpos. Quando os soldados holandeses vieram buscá-los, sabiam que era sua hora.

“Despediram-se os miseráveis de suas mulheres e filhos com muitas lágrimas, pedindo-lhes com muita eficácia que, pois iam morrer por seu Deus e inocentes, que lhes encomendassem as almas a seu Criador, e a quem pelo caminho foram pedindo perdão de seus pecados, dando-lhe muitas graças. Mui conformes por morrerem daquela sorte, e, antes de serem chegados ao sítio, teatro de crueldade e tirania jamais vista, foram cercados pelos índios, e em chegando viram os cadáveres de seus companheiros e vizinhos que ainda palpitavam com as feridas, com cuja vista não desmaiaram, antes deram a Deus muitas graças consolando-se uns aos outros, e protestando que morriam firmes na fé católica romana.”.[2]

Com eles se repetiram então as piores atrocidades e barbáries, a ponto de os próprios cronistas da época sentiam receio de narrar, pois atentavam contra a moral e a modéstia.

Entre os mortos, vários dos quais pertenciam à sua paróquia, destacou-se São Mateus Moreira era um leigo, camponês e sacristão, foi um dos martirizados e sua bela profissão de fé na Eucaristia ficou conhecida, pois ao lhe ser arrancado o coração pelas costas, ainda vivo, pronunciou suas últimas palavras: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento!”

Mortos em Uruaçu (3 de outubro de 1645): Calcula-se que eram cerca de 80 pessoas, mas só foram identificadas: Padre Ambrósio Francisco; Mateus Moreira (Sacristão); Antônio Vilela e sua filha; José do Porto; Francisco de Bastos; Diogo Pereira; João Lostau Navarro; Antônio Vilela Cid; Estêvão Machado de Miranda e duas filhas; Vicente de Souza Pereira; Francisco Mendes Pereira; João da Silveira; Simão Correia; Antônio Baracho; João Martins e sete companheiros; Manuel Rodrigues Moura e sua esposa; uma filha de Francisco Dias.

O notável testemunho destes trinta mártires não se extinguiu pelo esquecimento ao longo dos séculos. Por isso, no dia 15 de outubro de 2017, o Papa Francisco canonizou esses Santos que são considerados os “Protomártires do Brasil”.

Fonte:

Carta Apostólica Factus est, São João Paulo II, 05/03/2000 (A.A.S., vol. XCIII (2001), n. 6, pp. 340-342)

Vatican News, Santo André de Soveral e Companheiros Protomártires do Rio Grande do Norte. Disponível: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2021-10/santo-andre-de-soveral-e-companheiros-protomrtires.html. Acesso: 02//03/2024.

Protomártires do Brasil, Os Santos do RN. Disponível:  https://saogoncalo.rn.gov.br/protomartiresdobrasil/os-santos-do-rn/. Acesso: 02/10/2024.

[1] SANTIAGO, D. L.. História da Guerra de Pernambuco, p. 346, apud: PEREIRA, F. de Assis. Protomártires do Brasil, p. 38.

[2] PEREIRA, F. de Assis. Protomártires do Brasil, p. 40s.

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