SÃO LOURENÇO JUSTINIANO (05/09)

SÃO LOURENÇO JUSTINIANO, Bispo e Confessor – 3ª classe
Convite da Sabedoria – Lourenço, ainda jovem, resolveu e até prometeu à mãe “tornar-se um grande servo de Deus”. E um dia, em busca ardente da paz:
“Uma jovem, diz ele, mais bonita que o sol, veio até mim. Eu não sabia quem ela era. Ela se aproxima de mim e me diz com muita gentileza: ‘Por que você se consome buscando a paz em mil coisas? Na minha mão está o que você procura. Eu prometo a você o objeto do seu desejo, desde que você se case comigo.’ Depois perguntei-lhe sobre o seu nome, a sua linhagem e a sua dignidade. Ela me disse que era a Sabedoria de Deus, e que ela se tornou homem para reformar os homens. Claro que dei o meu consentimento.”
A partir de então o jovem, deixando a vida mundana, renunciando a todo desejo de dignidades e prazeres humanos, entregou-se completamente a Cristo e, para possuí-lo de forma mais perfeita, abraçou a vida religiosa.
Escutemo-lo enquanto nos conta que desde o início começou a construir o edifício da sua santificação apoiado em Cristo. Escutá-lo será tão valioso quanto colocar-nos nas disposições que o Senhor exige de nós, porque a Escritura nos diz: “Não há salvação senão em Jesus Cristo”[1] e quem quiser construir solidamente deve fazê-lo naquele que é a pedra angular[2].
Construir na rocha – “Não há terreno mais firme e adequado para construir do que a rocha, diz-nos o Santo. Agora, existe uma pedra dura e imóvel sobre a qual podemos construir sem medo o edifício da nossa santificação; é a pedra da qual foi dito: Esta pedra era Jesus Cristo[3]. Todos os iluminados pela luz do alto e os que foram movidos e convertidos pela graça do Espírito Santo depositaram nela a sua salvação. Aqui eles começaram seu trabalho; quem conseguiu se salvar não conheceu nem escolheu outro lugar; e o seu edifício espiritual cresceu e durou tanto mais, quanto mais profundo e claro foi o seu conhecimento desta rocha fundamental, que é Jesus Cristo.”
Escolha de materiais – “Nem todos trabalharam da mesma maneira: pois, segundo a palavra do Apóstolo, alguns levantam ouro, prata e pedras preciosas[4] sobre este fundamento; outros, madeira, feno, palha. Mas o trabalho de cada um será revelado[5]; o fogo da tribulação e da perseguição, os choques da tentação servirão para testar cada um e demonstrar o seu valor. Entretanto, cada um deve dedicar-se a esta obra espiritual e esforçar-se por adquirir um conhecimento claro e preciso de Jesus Cristo, para continuar até ao fim a obra da sua salvação, sem vacilar. Construa sobre a rocha, mas erga pedra sobre pedra, pois a pedra adapta-se admiravelmente à pedra, e uma sobre a outra forma um edifício sólido e durável. Embora os rios o ataquem e os ventos se enfurecem contra ele e as tempestades e tempestades rebentam no seu topo, ele não vacilará por nada nem nada o derrubará.”
“Ouçam um homem que realmente constrói sobre a pedra: Quem nos separará do amor de Jesus Cristo?[6], diz São Paulo; Talvez a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? Estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem as coisas presentes, nem as coisas futuras, nem a violência, nem tudo o que está no mais alto, ou no mais profundo, jamais poderá nos separar do amor de Deus em Jesus Cristo, nosso Senhor. É certamente uma casa sólida, construída com materiais incorruptíveis, que nada pode demolir e de cujo destino ninguém nem nada a pode separar. E não era composto de pedras quadradas, esculpidas a cinzel, mas de afetos piedosos, de pensamentos santos, que tinham por objeto Jesus Cristo e a vida de Jesus Cristo.”[7]
Vida – Lourenço nasceu em Veneza, em 1380, na nobre família Justiniani. Sua juventude foi marcada por uma grande piedade que admirava e inspirava o respeito daqueles que o rodeavam. Aos 19 anos teve uma visão da Sabedoria eterna que o convidou a entregar-se completamente a ela. Convencido de que só a vida religiosa lhe permitiria responder plenamente ao chamamento divino, ingressou nos Cônegos Regulares de São Jorge, na ilha de Alga, perto de Veneza. Lá ele se destacou por seu amor às austeridades e humilhações. Gostava de mendigar pela cidade e receber, em vez de esmola, ridículo e desprezo.
Pouco depois de ser ordenado sacerdote, foi eleito Geral de sua Ordem; trabalhou tanto na sua reforma que é justamente considerado o seu segundo fundador.
Em 1433, ao ser nomeado Bispo de Veneza, tentou tirar de si essa dignidade, mas o Papa Eugênio IV foi inflexível. Lourenço não queria mudar nada no seu modo de vida, nas suas austeridades e na sua longa oração. Dedicou-se a pacificar as dissensões internas que agitavam o Estado; fundou quinze mosteiros, ergueu dez novas paróquias na sua cidade episcopal e garantiu o esplendor do culto divino.
Em 1450 teve que aceitar a dignidade de Patriarca, mas viu nela apenas uma indicação para seguir mais de perto os passos de Jesus na sua pobreza e no seu zelo pela salvação das almas. É também merecidamente considerado o precursor da reforma eclesiástica que São Carlos Borromeu empreenderia mais tarde em Milão, após o Concílio de Trento.
Os seus sermões e os seus livros de perfeição manifestam uma terna devoção aos mistérios de Nosso Senhor Jesus Cristo, especialmente à sua Paixão. Morreu em 8 de janeiro de 1455: em 1524 foi beatificado por Clemente VII e em 1600 canonizado por Alexandre VIII. Sua festa está marcada para 5 de setembro, aniversário de sua consagração episcopal.
Amor à Sabedoria – “Ó Sabedoria que habita no teu sublime trono, Verbo que fez todas as coisas, sê-me propício na manifestação dos segredos do teu santo amor.”[8] Esta, ó Lorenzo, foi a tua oração, e por medo de ter que responder por talentos ocultos se guardasse para si apenas o que poderia beneficiar muitos outros, decidiu divulgar augustos mistérios. Bem-aventurados sois vós por quererdes tornar-nos participantes do segredo do céu. Pela leitura das tuas obras, pela tua intercessão junto a Deus, leva-nos às alturas como a chama purificada que sempre sobe. Para o homem, buscar o descanso fora d’Aquele que é a sua imagem é como cair. Tudo neste mundo não tem outro propósito senão interpretar para nós a beleza eterna, ensinar-nos a amá-la e cantar conosco o nosso amor.
Naqueles cumes da caridade onde conduzem os caminhos da verdade que são as virtudes, que delícias são as vossas! Você certamente pinta o seu quadro quando diz da alma que foi admitida na intimidade inefável da Sabedoria do Pai: “Ela aproveita tudo; para onde quer que ele se volte, ele não descobre nada além de faíscas de amor; Abaixo dela, o mundo que ela desprezava é usado para alimentar sua chama; harmonias, espetáculos, suavidades, perfumes, comidas agradáveis, concertos da terra e o esplendor dos céus, já não lhe dizem nada, ela só vê em toda a natureza um canto epitalâmico e a decoração da festa em que a Palavra tem casou com ela”. Que caminhemos como você, em direção à luz divina, e vivamos em união e desejo, amando cada vez mais, para sermos sempre cada vez mais amados!
(GUERANGER, Dom Prospero. El Año Litúrgico: tomo V, ano 1954, pp. 333-339)
[1] At IV, 12.
[2] Salmo CXVII, 22.
[3] I Cor X, 4.
[4] I Cor III, 12.
[5] I Cor
[6] Rm VIII, 35.
[7] L’Agonie triomphante: Préface.
[8] De casto connubio Verbi et animae, Prooemium.

