SANTA ROSA DE LIMA (30/08)

SANTA ROSA DE LIMA, Virgem – 3ª classe
“A primeira flor de santidade que a América do Sul deu ao mundo: a virgem Rosa…”! Com esta palavra de alegria e admiração a Igreja inicia o seu louvor à jovem virgem que no Novo Mundo iria reproduzir tantos feitos da santidade de Catarina de Sena e servir de prelúdio à simplicidade da infância espiritual de Santa Teresinha. de Lisieux.
Conquista da América – Mal se passou um século desde aquele dia em que a Espanha, tendo terminado a sua longa cruzada contra os mouros, rumou para oeste e descobriu um novo e vasto mundo. E a ele enviou não só os seus heróis e os seus exploradores, mas também os seus melhores filhos, isto é, os seus missionários, a fim de anunciar aos povos pagãos a boa nova do Evangelho, para despertar as suas inteligências para o conhecimento do verdadeiro Deus e consagrar as suas obras ao serviço divino. Infelizmente, não foram apenas pessoas desinteressadas que chegaram à América sem outro objetivo senão implementar a civilização cristã; foram também aventureiros, cuja crueldade e sede de ouro eram o flagelo dos índios.
Os pobres logo se viram saqueados e exterminados por aqueles estrangeiros que lhes deram um mau exemplo de todos os vícios e os trataram como escravos. Em Lima, construída no sopé das serras como metrópole de uma das províncias conquistadas, a corrupção era tal que São Francisco Solano teve que imitar o profeta Jonas e ameaçá-la, como Nínive, com castigos divinos.
A flor da santidade – Mas a misericórdia de Deus já havia assumido a liderança; a justiça e a paz oscularam-se[1] na alma de uma menina sempre pronta a toda expiação e insaciável de amor. Como gostaríamos de parar e contemplar a virgem peruana no seu heroísmo sempre desconhecido, na sua graça tão sincera e tão pura! Rosa só tinha suavidade de bálsamo para quem a tratava, e guardava para si o segredo dos espinhos, sem os quais as rosas não existem neste mundo. Como se nascesse do sorriso de Maria, ela abraça o Menino Jesus, que a ama no coração. As flores a reconhecem como rainha e a cada estação ela as vê que respondem ao seu desejo; a seu convite, as plantas tremem de alegria, as árvores curvam seus galhos, toda a natureza salta de alegria, os insetos organizam coros, os pássaros competem com ela em harmonia para celebrar o Criador. Ela mesma canta lembrando os nomes de seu pai e de sua mãe, Gaspar de las Flores e Maria de Oliva, dizendo: “Oh meu Jesus, como sois lindo entre as flores e as olivas; não desprezeis esta sua Rosa também!”
Enquanto isso, a Sabedoria eterna se manifestava nas brincadeiras do Menino Deus e de sua amada[2]. Clemente X na Bula de canonização, nos recorda que um dia em que ela estava com maiores dores, o amantíssimo Filho da Virgem bendita a convidou para uma misteriosa partida de jogo no qual o prêmio ficava à livre escolha do vencedor. Rosa vence e, exigindo a sua cura, consegue-a imediatamente. Mas Jesus exige vingança e, vencendo esta segunda vez, devolve-lhe a dor junto com o dom da paciência, e a santa fica feliz por ter perdido, pois entende que ganhou mais no segundo jogo do que no primeiro.
Nas torturas sobre-humanas da sua última doença, aos que a exortavam à coragem, ela respondia: “O que peço ao meu Esposo é que nunca acabe de me consumir na mais aguda ardor, até que eu me torne o fruto maduro que Ele se digna receber deste mundo em sua mesa no céu.” E, como admiravam sua segurança, sua certeza de ir direto para o Paraíso, ela acrescentou com veemência estas palavras que revelam outro aspecto de sua alma: “Tenho um Esposo que pode fazer tudo o que pode ser feito e que possui as maiores maravilhas que podem existir; e não consigo imaginar que receberei pequenas coisas dele.”
A glória – As promessas e as atenções do Senhor para com Rosa mais do que justificam a confiança que ela tinha na bondade infinita. Ela tinha apenas trinta e um anos quando, na noite anterior à festa de São Bartolomeu de 1617, ouviu esta voz: O Esposo está aqui[3]. Em Lima, em todo o Peru, em toda a América, o trânsito da humilde virgem, desconhecido por muitos até então, foi marcado por prodígios de conversão e de graça. “Poderia ser legalmente assegurado, diz o Sumo Pontífice, que desde a descoberta do Peru não houve nenhum missionário que tenha produzido um movimento tão geral de penitência”.
E cinco anos depois foi inaugurado o mosteiro de Santa Catarina de Sena, que deveria continuar a obra de santificação, cura e defesa social no centro de Lima, e que se chamava Mosteiro da Rosa porque era, de fato, a fundadora e mãe. E esta jovem, que nada fez senão rezar e sofrer e que, no meio da corrupção do mundo, ofereceu a sua virgindade a Deus e só procurou as trevas e o silêncio, é aquela que se tornou a Padroeira do Peru; e o próprio Papa Clemente X estendeu o seu patrocínio às Índias, às Filipinas e a toda a América.
Vida – Rosa nasceu em Lima, Peru, em 20 de abril de 1586, em uma família de origem espanhola. No seu batismo deram-lhe o nome de Isabel, mas pelo frescor da sua tez chamaram-na de Rosa. Na sua infância e curta vida ela foi testada pela dor e pela pobreza dos seus pais.
Tomou como modelo Santa Catarina de Sena e, imitando-a, viveu em casa como uma verdadeira religiosa e quase reclusa. Amava a solidão, impunha-se duras penitências pela conversão dos infiéis e dos maus cristãos, e cuidava e consolava os seus pais. Inscreveu-se na Ordem Terceira de São Domingos, cujo hábito usava, e faleceu aos 31 anos, em 24 de agosto de 1617.
Numerosos milagres atestaram a sua santidade e foi beatificada por Clemente IX em 1668 e depois, por Clemente, em 1671, foi canonizada. A sua celebração espalhou-se pela Igreja universal, e as suas relíquias são veneradas em Lima e na Igreja de Santa Maria de la Minerva, em Roma.
(GUERANGER, Dom Prospero. El Año Litúrgico: tomo V, ano 1954, pp. 305-311)
[1] Salmo LXXXIV.
[2] Provérbios VIII, 30-31.
[3] Mateus XXV, 6.

