SÃO FELIPE BENÍCIO (23/08)

SÃO FELIPE BENÍCIO, Confessor – 3ª classe
O apóstolo das Dores de Maria – Nossa Senhora já reina no céu. Não foi difícil para ela triunfar sobre a morte; mas, como Jesus, ela mereceu entrar na glória através do sofrimento.
Nem chegaremos à bem-aventurança infinita por um caminho diferente daquele seguido pelo Filho e pela Mãe. Lembremo-nos das doces alegrias que provamos nestes oito dias; mas não esqueçamos que ainda temos um longo caminho a percorrer. O que vocês estão olhando para o céu?, disseram os Anjos da Ascensão aos discípulos; porque os discípulos, ao verem diante dos seus olhos os horizontes claros da sua pátria, já não podiam resignar-se a este vale de lágrimas.
Maria, assim como o Senhor, envia-nos hoje uma mensagem desde os cumes luminosos onde a seguiremos e onde a rodearemos depois de termos merecido fazer parte da sua corte com os trabalhos do exílio; sem separar a nossa alma da Virgem, Felipe Benício, apóstolo das suas dores, recorda-nos o verdadeiro significado da nossa situação de estrangeiros e peregrinos do mundo.
Lutas externas, medos internos: esta foi em grande parte a vida de Filipe, assim como a história de Florença, sua terra natal, e a história da Itália e do mundo no século XIII. Nasceu no momento em que uma admirável efervescência de santidade conspirava para fazer da cidade das flores um novo paraíso; mas, ao mesmo tempo, a sua cidade natal foi palco de lutas sangrentas, de ataques de heresia e de todos os excessos de miséria que provam que neste mundo Jerusalém e Babilônia se cruzam por toda a parte.
O príncipe do mal iria aprender a virtude dos reagentes que o céu tinha de reserva para ajudar o mundo na sua velhice. E então Nossa Senhora apresenta diante de seu irritado Filho Domingos e Francisco, que iriam reduzir a ignorância e as ambições da terra com a harmonia da ciência e todas as renúncias; e foi também então que Felipe Benício, o Servo da Mãe de Deus, recebeu dela a missão de pregar, através da Itália, da França e da Alemanha, os sofrimentos inefáveis que a tornaram co-redentora do gênero humano.
A Ordem dos Servitas – A festa dos Sete Santos Fundadores, no dia 12 de fevereiro, já nos dava a conhecer a origem dos Servitas. Eram piedosos eremitas florentinos que se dedicaram à contemplação da Paixão de Cristo e das Dores de sua Santa Mãe. Nossa Senhora, desejando difundir pelo mundo a caridade com que ardiam e a devoção que professavam, inspirou-os a fundar uma ordem religiosa destinada a honrar as suas sete dores e a abençoá-la pela sua dignidade de co-redentora do gênero humano. Mas, sem grandes dons para a ação, os Sete Santos Fundadores não poderiam dar à Ordem Servita muita força conquistadora. Ela precisava de uma nova cabeça. E este foi Sâo Felipe Benício.
Aos vinte e um anos entrou na Congregação, aos trinta e quatro tornou-se Superior, e através do seu trabalho, das suas missões, da sua pregação e dos seus sofrimentos, desenvolveu-a. Ele fundou inúmeras casas em toda a Europa. Penetrado pelo espírito dos fundadores, cheio de zelo pela glória de Nossa Senhora, tão profunda e fundamentalmente humilde, que pensou em não ir além de irmão leigo, da caridade e da misericórdia sem limites, mas também de uma atitude e doutrina firme e intransigente, foi um apóstolo incomparável e difundiu o amor de Maria na Igreja; Mãe de Deus e Mãe dos homens, cujo sofrimento, juntamente com o de Jesus, nos rendeu a salvação e a paz.
Vida – São Filipe Benício nasceu em 1233, ou seja, no mesmo ano em que os Sete Eremitas de Florença fundaram a Ordem dos Servitas de Maria. Felipe foi enviado a Paris para iniciar os estudos e depois a Pádua para estudar medicina.
Em 1253 regressou a Florença, sua terra natal. No ano seguinte ingressou no convento dos Servitas de Cafaggio e recebeu o hábito negro dos conversos das mãos do beato Bonfiglio Monaldi, um dos Sete Fundadores da Ordem. Daqui enviaram-no para o convento de Monte Senário. Os dominicanos notaram a sua inteligência desperta e pediram aos seus superiores que não deixassem esta luz debaixo do alqueire.
Em 12 de abril de 1259 foi ordenado sacerdote, três anos depois foi nomeado mestre de noviços e depois, em 1267, foi eleito quinto Geral da Ordem. Ele conseguiu a aprovação das constituições em 1268 e estava no domicílio de Lyon em 1274; serviu como pacificador na discórdia que dividiu os seus compatriotas em Bolonha, Florença e Pistoia.
Em 1284 recebeu Santa Juliana Falconieri na Ordem Terceira das “manteladas”. Adoeceu em 15 de agosto de 1285 e morreu no dia 22 beijando seu crucifixo e dizendo: “Este é o meu livro, no qual aprendi tudo, a vida cristã e o caminho para o paraíso”.
Filipe foi beatificado por Leão X e posteriormente canonizado em 1671 pelo Papa Clemente X. Sua festa foi estendida a toda a Igreja em 1694.
COM A MÃE DOLOROSA. —Chega mais perto, Felipe, e entra naquele carro. Você ouviu esta palavra naqueles dias em que o mundo sorriu para sua juventude e lhe ofereceu sua fama ou seus prazeres; Foi o convite que Maria te fez, que desceu até ti, sentada no carro dourado, figura da vida religiosa para a qual ela te convidou; um manto de luto envolveu em suas dobras o soberano dos céus; uma pomba voou em volta de sua cabeça; Um leão e uma ovelha arrastavam sua carruagem entre precipícios de onde subiam os assobios do abismo. Era o futuro que se tornava claro: vocês viajariam pela terra na companhia da Mãe das Dores, e este mundo, minado em todos os lugares pelo inferno, não terá mais nenhum perigo para vocês; porque a suavidade e a força serão os seus guias, e a simplicidade o seu padrão. Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a terra!
A PROVA. — Mas é contra o Céu, contra o qual a vossa amável virtude se destinava principalmente a servir-vos, que foi feita esta promessa de império; contra o Céu, que luta até com os fortes e reservou para vós a prova do maior abandono, diante da qual tremera o Homem-Deus: depois de anos de súplica, de labor, de heroica abnegação, recebestes como recompensa, sendo aparentemente rejeitados pelo Senhor, a desaprovação da Sua Igreja, a iminência de uma ruína que ameaçava, muito mais do que a vossa vida, todos aqueles que Maria vos confiara. Contra a existência dos vossos filhos, os Servitas, não obstante as palavras da Mãe de Deus, foi dirigida nada menos do que a autoridade de dois concílios gerais, em cujas resoluções o Vigário de Cristo não interferiu. Nossa Senhora vos ofereceu beber o cálice da sua amargura. Não vistes o triunfo de uma causa que a interessava tanto como a vós; Mas, como os patriarcas que saudavam de longe o cumprimento das promessas, a morte não pôde abalar sua confiança serena e submissa.
(GUERANGER, Dom Prospero. El Año Litúrgico: tomo V, ano 1954, pp. 228-233)

