A TERÇA-FEIRA DA SEMANA SANTA

A TERÇA-FEIRA DA SEMANA SANTA
Ano Litúrgico – Dom Próspero Gueranger
A figueira amaldiçoada – Neste dia Jesus retorna a Jerusalém bem cedo pela manhã. Ele quer ir ao templo e confirmar seus últimos ensinamentos lá. Claramente prevê que o resultado de sua missão começará. Ele mesmo disse aos seus discípulos: “Dentro de dois dias a Páscoa será celebrada e o Filho do homem será entregue para ser crucificado” (Mt 26,1).
Os discípulos que marcharam na companhia de seu mestre na estrada de Betânia para Jerusalém ficam espantados ao ver a figueira que Jesus havia amaldiçoado no dia anterior. Secou como um tronco cortado, das raízes às folhas. Pedro se aproxima de Jesus e diz: “Mestre, olha a figueira que o Senhor amaldiçoou, secou”. Jesus aproveita a ocasião para nos ensinar que a matéria está sujeita ao espírito quando permanece unida a Deus pela fé e diz: “Tende fé em Deus. Em verdade vos declaro: todo o que disser a este monte: Levanta-te e lança-te ao mar, se não duvidar no seu coração, mas acreditar que sucederá tudo o que disser, obterá esse milagre. Por isso, vos digo: tudo o que pedirdes na oração, crede que o tendes recebido, e vos será dado” (Mc 11,22-24).
Jesus no templo – Continuando na estrada, logo entra a cidade, e assim que Jesus chegou ao templo, os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos aproximam-se dele e perguntam-lhe: “Com que poder fazes essas coisas, quem lhe deu tal poder?”. Pode-se ver no Santo Evangelho a resposta de Jesus, bem como os vários ensinamentos que deu na ocasião desta reunião. Apenas indicamos, de modo geral, o uso feito pelo divino Redentor das últimas horas de sua vida mortal; a meditação do Evangelho fornecerá o que não dizemos. Como nos dias anteriores, deixa a cidade à tarde e, atravessando o monte das Oliveiras, retira-se para Betânia, com sua mãe e seus amigos.
A Igreja lê hoje, na Missa, a história da Paixão segundo São Marcos. Em ordem cronológica o Evangelho de São Marcos foi escrito depois do de São Mateus: Por este motivo o segundo lugar é dado à Paixão segundo São Marcos. É mais curto que São Mateus e parece um resumo dele; mas se encontram nela certos detalhes que são típicos deste evangelista e nos mostram as notas de uma testemunha ocular. Todos sabemos, de fato, que São Marcos foi discípulo de São Pedro e que escreveu o seu Evangelho sob a direção do Príncipe dos Apóstolos.
Em Roma, a estação é celebrada na Igreja de Santa Prisca.
MISSA
Em três dias a cruz será levantada na montanha, sustentando o autor de nossa salvação em seus braços. No Intróito de hoje, a Igreja nos convida a saudar antecipadamente o troféu de nossa vitória e glória nela.
INTRÓITO – QUANTO a nós, devemos gloriar-nos na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. N’Ele está a nossa salvação, vida e ressurreição. Por Ele fomos salvos e livres. SL. Deus tenha piedade de nós e nos abençoe, faça resplandecer sobre nós a sua Face e se compadeça de nós. – Quanto a nós.
Na Coleta a Igreja pede que o santo aniversário da Paixão do Salvador seja para nós uma fonte de misericórdia e que não termine sem que sejamos plenamente reconciliados com a justiça divina.
COLETA – Ó DEUS onipotente e eterno, concedei-nos celebrar os Mistérios da Paixão do Senhor, de tal sorte que mereçamos alcançar a remissão de nossos pecados. Pelo mesmo Senhor.
EPÍSTOLA – Leitura do livro do profeta Jeremias.
NAQUELES dias, Jeremias disse ao Senhor: “Senhor, tu me revelaste, eu sei, tu me deste a conhecer suas manobras. Eu, porém, era um cordeiro manso, que se leva ao matadouro, sem conhecer a trama que forjavam contra mim. Eles diziam: “Destruamos a árvore em plena seiva, arranquemo-lo da terra dos vivos, a fim de que se esqueça o seu nome!” Mas tu, Senhor do universo, que julgas com justiça, que sondas os rins e os corações, eu verei tua vingança sobre eles, porque é a ti que confio a minha causa, ó Senhor, meu Deus.”
A imolação do Messias – Mais uma vez o profeta Jeremias deixa sua voz ser ouvida. Hoje ele nos apresenta as próprias palavras de seus inimigos que conspiraram para matá-lo. Tudo é misterioso, sente-se aqui que o profeta é uma figura de alguém maior que ele. Dizem: “Vamos colocar farpas no seu pão”, isto é, joguemos um pouco de veneno na sua comida para matar-te. Tal é o sentido literal quando se refere apenas ao profeta; mas quão melhor estas palavras são cumpridas em nosso Redentor! A carne divina, nos diz Ele, é o verdadeiro Pão descido do céu; este Pão, este corpo do Homem-Deus está despedaçado, ensanguentado; os judeus pregam-no numa árvore para que seja perfurado pela dor ao mesmo tempo que esta árvore está completamente banhada em seu sangue. O Cordeiro de Deus é imolado nesta madeira; e por este sacrifício nós participamos do Pão celestial, que é ao mesmo tempo a carne do Cordeiro e nossa verdadeira Páscoa.
O Gradual, tirada do Salmo 34, mostra-nos o contraste da vida humilde do Salvador com os ares ameaçadores e arrogantes de seus inimigos.
GRADUAL – MAS quanto a mim, enquanto me afligiam, vestia-me de saco e jejuava; e não cessava em mim a minha prece! V. Sede o juiz, Senhor, dos que me ferem; combatei, ó Deus, quem me combate! Empunhai vossas armas, vosso escudo; levantai-vos, Senhor, em meu socorro!
A Paixão segundo São Marcos é cantada após o Gradual com os mesmos ritos que foram observados na de São Mateus.
No Ofertório o Messias pede ajuda ao Pai contra as emboscadas de seus inimigos que estão se preparando para fazê-lo morrer.
OFERTÓRIO – PRESERVAI-ME, Senhor, da mão do pecador, e livrai-me dos homens iníquos.
Na Secreta a Igreja apresenta à Divina Majestade o tributo de nossos jejuns com com a hóstia santa da qual eles tiram seu mérito e eficácia.
SECRETA – NÓS Vos suplicamos, Senhor, que estes sacrifícios por serem acompanhados de jejuns salutares, tanto mais eficazmente restaurem as nossas almas. Por Nosso Senhor.
As palavras do salmista que a Igreja toma para a antífona da comunhão, mostram-nos a audácia crescente dos inimigos do Salvador e as disposições de sua alma nos dias que precederam seu sacrifício.
COMUNHÃO – FALAM contra mim os que se sentam a porta e enquanto bebem vinho, entoam canções contra mim. Eu, porém, Senhor, Vos dirijo a minha oração. Ó Deus, o tempo da graça chegou agora, pela abundância de vossa misericórdia.
Na pós-comunhão, a Igreja pede os méritos do Sacrifício que ela acaba de renovar, o completo perdão de todos os nossos males, cujo remédio é o Sangue do divino Cordeiro.
PÓSCOMUNHÃO – Ó DEUS onipotente, por, vossos santos Mistérios sejamos purificados de nossos vícios e nos venham os remédios da salvação eterna. Por Nosso Senhor.
ORAÇÃO SOBRE O POVO – Oremos. Humilhai as vossas cabeças diante de Deus.
VOSSA misericórdia, ó Deus, nos purifique de todas as tendências más do homem velho, e nos torne capazes de recebermos a Vida nova da santidade. Por Nosso Senhor.

