Oratório São José

O SEGUNDO DOMINGO DA PAIXÃO OU DE RAMOS

Ano Litúrgico - Dom Próspero Gueranger

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O SEGUNDO DOMINGO DA PAIXÃO OU DE RAMOS

Ano Litúrgico – Dom Próspero Gueranger

Saída de Betânia – Jesus, deixando em Betânia sua mãe Maria, Marta e Maria Madalena com seu irmão Lázaro, vai neste dia, muito cedo, a Jerusalém acompanhado por seus discípulos. Maria estremece quando seu filho se aproxima de seus inimigos que pretendem derramar seu sangue, com tudo isso, Jesus não vai a Jerusalém hoje para buscar a morte, mas para triunfar. É necessário que o povo proclame o Messias rei antes de ser crucificado, que, diante das águias romanas, na presença dos pontífices e fariseus, mudos de raiva e estupor, as vozes das crianças ressoem misturadas com os clamores dos cidadãos em louvor do Filho de Davi.

Cumprimento do vaticínio – O Profeta Zacarias havia previsto esta ovação preparada na eternidade para o Filho do homem nas vésperas de sua humilhação. “Alegra-te com grande alegria, ó filha de Sião, salto de alegria, ó filha de Jerusalém, vê que o teu Rei vem a ti, justo e humilde, montado num jumento, num jumentinho, o potro de uma jumenta”. Quando chega a hora de cumprir este oráculo envia dois de seus discípulos para ir e trazer-lhe um burro e um jumentinho que encontrará não muito longe de lá. O Salvador estava em Betifagé, localizado no Monte das Oliveiras. Os discípulos imediatamente executam o mandato do seu Mestre.

Dos povos – Os Santos Padres nos forneceram a chave para o mistério desses dois animais. O burro representa o povo judeu submetido ao jugo da lei; “o potro em que, segundo o Evangelho, ninguém ainda havia montado” (Mc 11,2), representa a gentilidade que ninguém ainda subjugou. O destino de ambos os povos será decidido dentro de alguns dias. O povo judeu será rejeitado por não ter recebido o Messias, em seu lugar, Deus escolherá o povo gentio, até então indomável, mas que se tornará dócil e fiel.

Cortejo triunfal – Dois discípulos cobrem o jumentinho com seus mantos. Jesus, então, querendo realizar a previsão do profeta, cavalga no animal (Mc 11,7) e se prepara para entrar na cidade. Enquanto isso, em Jerusalém, o boato é que Jesus está se aproximando. Inspirada pelo Espírito divino, a multidão de judeus reunidos na cidade de toda a Palestina para celebrar a Páscoa, sai para recebê-lo com palmas e gritos clamorosos. A procissão que acompanhava Jesus de Betânia confunde-se com essa fervorosa multidão de entusiasmo; alguns estendem seus mantos ao longo do caminho, outros erguem ramos de palmeiras no caminho. O clamor de “Hosana” ressoa e as notícias circulam pela cidade de que Jesus, filho de David, entra como rei.

O Reino messiânico – Assim foi que Deus, exercendo seu poder sobre os corações, preparou, na cidade em que alguns dias depois seu sangue seria pedido, um triunfo para seu Filho. Neste dia, Jesus teve um momento de glória e a Igreja quer que renovemos todos os anos a memória deste triunfo do Filho do homem.

Quando o Emanuel nasceu, vimos os Magos vindo do extremo oriente a Jerusalém em busca do Rei dos Judeus, para adorá-lo e oferecer-lhe seus presentes; hoje é a própria Jerusalém que sai para recebê-lo. Ambos os eventos têm o mesmo objetivo: reconhecer Jesus Cristo como Rei; o primeiro da parte dos gentios, o segundo da parte dos judeus. Era necessário que o Filho de Deus recebesse ambos os tributos antes de sua Paixão.

A inscrição que Pilatos em breve colocará na cabeça do Redentor: Jesus Nazareno, Rei dos Judeus, será o caráter indispensável de seu messianismo. Os esforços dos inimigos de Jesus para mudar os termos da escrita serão inúteis, eles não vão conseguir seu fim. “O que escrevi está escrito”, respondeu o governador romano. Sua mão confirmou, sem saber, as profecias. Israel proclama hoje a Jesus como seu rei, logo ele será dispersado em punição de seu perjúrio, mas aquele Jesus, a quem proclamou, permanecerá sempre Rei.

Foi assim que se cumpriu a mensagem do Anjo que disse a Maria anunciando-lhe a grandeza do Filho que conceberia: “O Senhor lhe dará o trono de Davi, seu pai, e reinará eternamente na casa de Jacó” (Lc 1,32). Jesus começa neste dia seu reinado na terra, e como o primeiro Israel vai se retirar de seu cetro, um novo Israel, nascido do grupo fiel do antigo, nascerá, composto de pessoas de todo o mundo, e oferecerá a Cristo o mais extenso império que já procurou conquistador.

Tal é o mistério glorioso deste dia no meio do duelo da Semana da Paixão. O Igreja quer que num momento de alegria saudemos a Jesus como rei. Ela organizou a liturgia deste dia de tal forma que traz consigo alegria e tristeza: a alegria ao unir-se as aclamações com que a cidade de David ressoou; a tristeza retornando imediatamente ao curso de seus gemidos pelas dores de seu divino Esposo. Todo o drama é dividido como que em três atos diferentes, cujos mistérios e intenções vamos explicar um após o outro.

A BÊNÇÃO DOS RAMOS

A bênção das palmas ou dos ramos, como é vulgarmente chamada, é o primeiro ritual que acontece diante de nossos olhos, e podemos julgar sua importância pela solenidade que a Igreja usa em sua celebração.

Por muitos séculos, foi dito que a Santa Missa seria celebrada sem outra intenção senão celebrar o aniversário da entrada de Jesus em Jerusalém: Introdução, Coleta, Epístola, Gradual, Evangelho, até mesmo o Prefácio, sucederam um ao outro na preparação da imolação do Cordeiro sem defeito; mas depois do triplo Sanctus a Igreja suspendeu estas fórmulas solenes e seu ministro procedia à santificação dos ramos diante de si.

Agora, após a recente reforma, após o canto da antífona Hosana, esses ramos, objeto da primeira parte da função, recebem com uma única oração, acompanhada pela incensação e aspersão da água benta, uma virtude que os eleva à ordem sobrenatural e os faz de propósito para ajudar a santificação de nossas almas e a proteção de nossos corpos e de nossos lares. Os fiéis devem ter esses ramos em suas mãos durante a procissão e colocá-los com honra em suas casas, como um sinal de sua fé e uma esperança na ajuda divina.

Antiguidade do rito – Não é necessário explicar ao leitor que as palmas e ramos de oliveira, que neste momento recebem a bênção da Igreja, são levados em memória daqueles com quem o povo de Jerusalém honrou a marcha triunfal do Salvador, mas não será em vão dizer algumas palavras sobre a antiguidade desse costume.

Começou logo no Oriente e provavelmente em Jerusalém, desde que a Igreja desfrutou da paz. No quarto século, São Cirilo, bispo desta cidade, acreditava que a palmeira que fornecera seus ramos às pessoas que vieram ao encontro de Cristo, ainda existia no Vale do Cedron; nada mais natural que tomar ocasião para instituir um aniversário comemorativo deste evento. No século seguinte, esta cerimónia foi estabelecida, não só nas Igrejas Orientais, mas também nos mosteiros dos quais os desertos do Egito e da Síria estavam cheios.

No início da Quaresma, muitos santos monges obtiveram permissão do Abade para ir às profundezas do deserto para passar esse tempo em profundo retiro; mas eles deviam retornar ao mosteiro no Domingo de Ramos, como é sugerido pela vida de São Eutímio escrita por seu discípulo Cirilo. No Ocidente, levou muito tempo para estabelecer esse rito, o primeiro traço que encontramos é encontrado no sacramentário gregoriano que remonta ao final do século VI ou início do século VII. Como a fé penetrou no norte, não foi possível solenizar esta cerimônia em toda a sua integridade, porque a palmeira e a oliveira não criavam raízes nesse clima.

Era necessário substituí-los por ramos de outras árvores, mas a Igreja não permitiu mudar qualquer coisa das orações prescritas para a bênção destes ramos, porque os mistérios expostos nestas belas orações, tem como referência na oliveira e na palma da história do Evangelho, representada por nossos ramos.

A PROCISSÃO

O segundo rito deste dia é a famosa procissão que segue a bênção dos ramos. Sua finalidade é representar a marcha do Salvador a Jerusalém e sua entrada nesta cidade; e, para que nada falte na imitação da história do Santo Evangelho, os ramos que acabaram de ser abençoados são levados por todos que participam dessa procissão. Entre os judeus, era um sinal de alegria levar ramos de árvores na mão, e a lei divina autorizou esse costume.

Deus havia dito em Levítico para estabelecer a festa dos Tabernáculos: “No primeiro dia colherás ramos de lindas árvores frutíferas, ramos de palmeiras, ramos de árvores frondosas, salgueiros da margem do rio, e te alegrarás perante o Senhor, teu Deus.” O entusiasmo pela chegada de Jesus aos muros da cidade, os habitantes de Jerusalém, incluindo as crianças, recorreram a esta alegre manifestação. Vamos também ao nosso rei e cantar o Hosana a este vingador da morte e libertador do seu povo.

Durante a Idade Média, em muitas igrejas, o livro do Evangelho representando Jesus Cristo, cujas palavras continham, foi carregado nessa procissão. Designada antecipadamente e preparada para a estação, a Procissão parava: o diácono abria o livro sagrado e cantava a história da entrada de Jesus em Jerusalém. Imediatamente ele descobria a cruz que permaneceu velada até aquele momento; todo o clero se prostrava diante dela solenemente e cada um depositava a seus pés um pedaço do ramo que tinha em suas mãos.

A procissão precedida pela Cruz, descoberta, era retomada até que a procissão entrasse na igreja. Na Inglaterra e na Normandia, a partir do século XI, foi praticado um rito altamente representativo da cena que ocorreu neste dia em Jerusalém. Na procissão, a Santa Eucaristia levada triunfantemente. A heresia de Berengário que negou a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia acabara de se manifestar nessa época. E este triunfo da Forma Sagrada foi um prelúdio distante da instituição da festa e da procissão do Santíssimo Sacramento.

Sempre com a mesma intenção de renovar o costume evangélico, há outro costume na procissão de Ramos em Jerusalém. Toda a comunidade franciscana que guarda os lugares sagrados marcha para Betfagé pela manhã. Lá o Padre Guardião da Terra Santa, vestido pontificalmente, monta numa mula coberta com mantos, acompanhado pelos religiosos e católicos de Jerusalém, que carregam as palmas das mãos, entram na cidade e descem até a porta da igreja do Santo Sepulcro onde a Missa será celebrada com toda a pompa.

Reunimos aqui, como de costume, os diferentes fatos com os quais a mente dos fiéis pode ser elevada aos vários mistérios litúrgicos; essas manifestações de fé os ajudarão a entender por que a Igreja quer que, na procissão de Ramos, Jesus Cristo seja honrado como se estivesse presente no triunfo que ela lhe rende neste dia. Procuremos por meio do amor “a este humilde e doce Salvador que vem visitar a filha de Sião”, como diz o profeta. Aqui está em nosso meio, para ele o tributo de nossos ramos é dirigido, unamos a Ele também os nossos corações. Ele se apresenta para ser nosso rei, recebamo-lO e digamos: Hosana ao filho de Davi.

A entrada na igreja – Antigamente, até a última reforma, o fim da procissão foi acompanhado por uma cerimônia cheia de um profundo simbolismo. Quando a procissão chegava à igreja as portas estavam fechadas. A marcha triunfal parava, mas as canções de alegria não eram suspensas. Um hino especial para Cristo Rei ressoava na porta da igreja, com seu refrão alegre, até que o subdiácono, golpeando as portas com a haste da cruz, conseguia que abrissem, e o povo, precedido pelo clero, entrava aclamando o único que é a Ressurreição e a Vida. O objetivo dessa cena era lembrar a entrada do Salvador em outra Jerusalém, da qual a terra era apenas uma figura. Esta Jerusalém é o lar celestial cuja entrada Jesus Cristo nos deu. O pecado do primeiro homem fechou as portas, mas Jesus, o Rei da Glória, abriu-os em virtude de sua cruz, diante da qual eles não puderam resistir.

Este mesmo hino em honra de Cristo, o Rei, foi preservado, mas a parada junto à porta da igreja foi suprimida. Vamos continuar, então, nos passos do Filho de Davi, visto que ele é o Filho de Deus e nos convida a participar de seu reino. É assim que a Igreja, na procissão dos Ramos, que nada mais é do que a comemoração dos acontecimentos daquele dia, eleva nossa mente para o mistério da Ascensão, pela qual a missão do Filho termina no céu, põe fim à missão do Filho de Deus na terra. Mas ai de mim! os dias intermediários entre os dois triunfos não são todos dias de alegria, e antes que a procissão termine, a Igreja, que se levantou por alguns momentos de sua tristeza, volta a gemer continuamente.

A MISSA

A terceira parte da função de hoje é o Santo Sacrifício. Todas as suas melodias estão transbordando de desalento, a leitura da Paixão, que ocorrerá imediatamente, marca o ponto culminante do dia. Nos séculos V ou VI, a Igreja adotou uma recitação especial para a história que se tornou um verdadeiro drama.

Primeiro o cronista que relata os fatos de maneira séria e grave; Cristo, por outro lado, tem um som nobre e gentil que contrasta vividamente com o tom elevado dos outros interlocutores e com os gritos do povo judeu. No momento em que Ele se deixa ser pisoteado pelos pecadores, nascido do amor que Ele tem por nós, então é quando devemos gritar que Ele é nosso Deus e nosso Rei soberano. Estes são os ritos gerais deste grande dia, para a inteligência completa das orações e leituras, inserimos, como geralmente fazemos, todos os detalhes necessários.

Nomes dados a este dia – Este domingo, além de seu nome litúrgico e popular de Domingo de Ramos ou Palmas, tem o de Domingo do Hosanna, por causa do grito triunfante que os judeus saudaram a chegada de Jesus.

Nossos pais o chamavam de Domingo de Páscoa, porque a Páscoa, que será celebrada em oito dias, está florescendo e os fiéis podem começar o cumprimento pascal da comunhão anual a partir deste momento. Os espanhóis, ao descobrir o Domingo de Ramos de 1513 o vasto território vizinho do México, deram-lhe o nome de Flórida em memória desta denominação.

Este domingo é também chamado de Capitilavium, isto é, lava-cabeças porque nos séculos medievais, os pais lavavam as cabeças de seus filhos nascidos nos meses anteriores, cujo batismo poderia com segurança atrasar até o Sábado Santo, com o fim de que neste dia estivessem decentes para serem ungidos com o Santo Crisma.

Nos primeiros tempos este domingo, em algumas igrejas, recebeu o nome de Páscoa dos Competentes. Os catecúmenos admitidos no batismo eram chamados competentes. Eles se encontraram hoje na Igreja e foram cuidadosamente explicados o símbolo que lhes havia sido explicado no escrutínio anterior. Na igreja moçárabe espanhola eles foram explicados apenas neste dia. Finalmente, os gregos o designaram com o nome de Baiphore, isto é, Porta-Palma.

A Estação, em Roma, foi celebrada na Basílica do Latrão, mãe e mestra de todas as outras igrejas; No entanto, hoje, a função papal é realizada em São Pedro.

Esta derrogação não prejudica os direitos da Arqui-Basílica, que anteriormente recebeu a honra da presença do Sumo Pontífice, e que preservou as indulgências concedidas aos que a visitam hoje.

INTRÓITO (Na Missa Solene o Padre se aproxima do altar e, omitindo o salmo Judica me, Deus, e o Confiteor, sobe imediatamente ao altar, oscula-o no meio e o incensa)

SENHOR, não afasteis de mim o vosso auxilio; atendei à minha defesa; livrai-me da boca do leão, e do chifre do unicórnio salvai a minha humildade. SL. Ó Deus, Deus meu,  olhai para mim. Por que me desamparastes? O clamor de meus delitos afasta de mim a salvação. – Senhor, não afasteis.

Na Coleta a Igreja pede para todos a graça de imitar a paciência e humildade do Salvador. Jesus Cristo sofre e se abaixa para o homem pecador; é justo que o homem se aproveite deste exemplo e busque sua salvação pelos meios que lhe dá a conhecer a conduta do Salvador.

COLETA – ONIPOTENTE e eterno Deus, que quisestes assumisse o nosso Salvador a nossa carne e sofresse o suplicio da Cruz, para que o gênero humano imitasse o exemplo ‘de sua humildade, concedei-nos, propício, pratiquemos as lições de sua paciência e mereçamos participar de sua. Ressurreição. Pelo mesmo Senhor.

 

EPÍSTOLA – Leitura da Epístola de São Paulo Apóstolo aos Filipenses.

IRMÃOS, tende em vós os sentimentos de Jesus Cristo. Sendo de condição divina, não reteve ciosamente sua igualdade com Deus; mas despojou-se a si próprio, tomando a forma de escravo, fazendo-se igual aos homens; e tido na sua aparência como um homem, abaixou-se fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. Foi por isso que Deus o elevou soberanamente, e lhe deu o Nome que está acima de todo nome, (ajoelha-se voltado para o altar, e continua) a fim de que ao nome de Jesus todo joelho se dobre, no céu, na terra e nos infernos, e toda língua confesse: para a glória de Deus Pai, “Jesus Cristo é o Senhor.”

 

Humilhação e glória de Jesus – A Igreja prescreve que dobremos o joelho num trecho desta Epístola na qual o Apóstolo diz que todo ser criado deve humilhar-se pronunciando o nome de Jesus. Cumpramos com piedade essa prescrição. Compreendamos que se há algum tempo no ano em que o Filho de Deus tem direito às nossas mais profundas adorações, é precisamente neste em que a sua Majestade é violada e que o vemos ser pisoteado pelos pecadores. Nossos corações devem necessariamente ser ternos e compassivos ao contemplar as dores que sofre por nós. Mas não devemos sentir menos os ultrajes e as indignidades de que aquele que é igual ao Pai e Deus como ele. Vamos dar-lhe, pelo menos enquanto nos unimos a ele, através de nossas humilhações, a glória que foi despojada para reparar nosso orgulho e nossa rebelião e nos unirmos aos santos anjos que, testemunhas de tudo que ele aceitou por amor ao homem, são profundamente aniquilados ainda mais quando veem a ignomínia à qual foi reduzida.

No Gradual a Igreja usa as palavras do Profeta Real que prediz a grandeza futura da Vítima do Calvário, mas, ao mesmo tempo, confessa como tinha rasgado sua alma a segurança de que os judeus cometeriam o deicídio.

GRADUAL – VÓS me tomastes pela mão direita, pela vossa vontade me guiastes, e me erguestes, Senhor, à vossa glória. V. Como o Senhor é bom para Israel, como o Senhor é bom para o que é puro! Meus pés já iam quase resvalando, meus passos deslizando no caminho, pois dos ímpios cheguei a ter inveja, ao ver o bem-estar dos pecadores.

 

O Tracto constitui uma parte considerável do salmo 21, cujas primeiras palavras Jesus Cristo se serviu na cruz e que é mais uma história da paixão do que uma profecia; tão claras e evidentes são suas alusões.

TRACTO – MEU Deus, meu Deus, por que me abandonastes? Olhai-me, pois meus brados não me salvam! Clamei por vós de dia, e não me ouvistes; e de noite também, não sem motivo. No entanto, vós morais no santuário, e sois do vosso povo toda a glória. Em vós os nossos pais hão confiado; em vós hão confiado, e os libertastes. Sua esperança em vós eles puseram, e não foram por vós desiludidos. Quanto a mim, sou um verme, e não um homem; a vergonha do povo, motivo de riso entre os vizinhos. Aqueles que me veem, me escarnecem, balançam a cabeça com desprezo: “Confiou no Senhor, então que o salve, se na verdade o ama, que o libertei” Eis que eles me encaram e me contemplam, dividem entre si as minhas vestes e lançam sorte sobre a minha túnica. Libertai-me da boca do leão; arrancai minha vida ao unicórnio! Vós, que temeis a Deus, louvai-o todos; louvai-o, descendentes de Jacó! Eu dele falarei aos que hão de vir, anunciarão os céus sua justiça. O povo que virá, vai conhecer, o que fez o Senhor para salvá-lo.

É hora de ouvir a história da paixão de nosso Salvador. A Igreja lê a narrativa dos quatro evangelhos em quatro dias diferentes desta semana. Começa hoje com a de São Mateus, o primeiro a escrever a narrativa da vida e da morte do Salvador.

Por causa de sua extensão não colocaremos aqui o texto dos quatro Evangelhos que todos podem encontrar em seu missal.

O Ofertório é uma nova profecia de Davi. Ele anuncia o abandono do Messias no meio de sua angústia e a ferocidade de seus inimigos que para saciar sua fome lhe darão para beber fel e vinagre. Deste modo foi tratado aquele que nos deu seu Corpo para comer e seu Sangue para beber.

OFERTÓRIO – MEU coração só aguarda impropérios e miséria; esperei que alguém se entristecesse comigo, e não houve ninguém; procurei quem me consolasse e não encontrei; por alimento eles me deram fel, e em minha sede, me deram vinagre.

Na Secreta se pede a Deus o duplo fruto da Paixão para seus servos: a graça nesta vida e a glória no Céu.

SECRETA – CONCEDEI, Senhor, Vos pedimos, que o dom oferecido aos olhos de vossa Majestade nos obtenha a graça da submissão e a recompensa de uma feliz eternidade. Por Nosso Senhor.

Na antífona da Comunhão, a Igreja, que acaba de consumir o Cálice da salvação, a vida de Cristo, refere-se ao outro cálice que Cristo bebeu [o sofrimento] para nos tornar participantes da bebida da imortalidade.

COMUNHÃO – PAI, se este cálice não pode passar de mim sem que eu o beba, faça-se a tua vontade.

A Igreja encerra as súplicas do Sacrifício que ela acaba de oferecer, implorando o perdão dos pecados para todos os seus filhos e a realização do desejo de participar da gloriosa ressurreição do Deus-Homem.

PÓSCOMUNHÃO – FAZEI, Senhor, que pela ação deste Mistério, sejam expiados os nossos vícios e cumpridos os nossos justos desejos. Por Nosso Senhor.

As lágrimas de Jesus – Encerremos este dia do Redentor na cidade de Jerusalém, lembrando alguns outros eventos importantes. São Lucas nos ensina que, durante a marcha triunfal de Jesus em direção à cidade, aconteceu que antes de entrar nela, Cristo começou a chorar sobre Jerusalém, e manifestou sua dor nos seguintes termos: “Oh! Se também tu, ao menos neste dia que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz!… Mas não, isso está oculto aos teus olhos. 43.Virão sobre ti dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados; 44.eles destruirão a ti e a teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo em que foste visitada” (Lc 19,42-44). Alguns dias atrás, o santo Evangelho nos mostrou Jesus chorando no túmulo de Lázaro; hoje derrama lágrimas novamente quando olha para Jerusalém. Em Betânia, ele chorou ao pensar na morte do corpo, um castigo pelo pecado; mas esta morte tem um remédio. Jesus é “a ressurreição e a vida, e quem nele crer não morrerá para sempre” (Jo 11,25). O estado de Jerusalém, por outro lado, é uma figura da morte espiritual; e esta morte não tem remédio, se a alma não chegar a tempo ao autor da vida. É por isso que as lágrimas que Jesus derrama hoje se tornam tão amargas. No meio das aclamações a que ele é submetido ao entrar na cidade de Davi, seu coração é oprimido pela tristeza; porque ele sabe melhor do que ninguém “que eles não reconheceram a hora da sua visita”. Consolemos o coração do Redentor e nos tornemos sua cidade fiel.

De volta a Betânia – Sabemos por São Mateus que o Salvador terminou este dia em Betânia. Sua presença suspende as preocupações de sua Mãe e tranquiliza a família de Lázaro. Em Jerusalém não havia ninguém para hospedá-lo; pelo menos o Evangelho não menciona isso. Todos os que meditam na vida de Nosso Senhor podem fazer esta consideração: Jesus honrado pela manhã com magnífico triunfo, à tarde é forçado a procurar hospedagem fora da cidade que o recebeu com tanto fervor. Entre as carmelitas descalças existe uma tradição de oferecer ao Salvador uma reparação pelo abandono sofrido pelos habitantes de Jerusalém. Uma mesa é preparada no meio do refeitório, colocando uma porção da comida sobre ela; depois da refeição da comunidade se oferece essa parte a Jesus e é distribuída entre seus membros, os pobres.

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