Oratório São José

A SEXTA-FEIRA DA I SEMANA DA PAIXÃO

Ano Litúrgico - Dom Próspero Gueranger

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A SEXTA-FEIRA DA I SEMANA DA PAIXÃO

Ano Litúrgico – Dom Próspero Gueranger

 

Em Roma a Estação é celebrada na Igreja de Santo Estevão, no Monte Célio. Neste dia que foi dedicado a Maria Rainha dos Mártires, é curioso lembrar que para uma espécie de pressentimento profético, esta Igreja dedicada ao primeiro mártir já era designada desde a antiguidade mais remota, para a reunião dos fiéis.

COLETA – INFUNDI, Senhor, Vos rogamos, a vossa graça em nossos corações, a fim de que, reprimindo os nossos pecados pela mortificação voluntária, soframos antes as penas temporais, do que a condenação aos suplícios eternos. Por Nosso Senhor.

 

Ó DEUS, em cuja Paixão segundo a profecia de Simeão, uma espada de dor traspassou o terníssimo Coração da gloriosa Virgem Maria, vossa Mãe, concedei-nos, propício, que, celebrando com veneração a lembrança de sua Transfíxão e de suas Dores, por seus gloriosos méritos e pelas preces de todos os Santos que estavam fielmente ao pé da Cruz, possamos alcançar o feliz efeito de vossa Paixão. Vós, que sendo Deus, viveis e reinais.

EPÍSTOLA – Leitura do livro do profeta Jeremias.

NAQUELES dias, Jeremias disse ao Senhor: Todos aqueles que te abandonam serão cobertos de vergonha, e aqueles que se desviam de ti serão eliminados da terra, porque abandonaram as fontes de água viva. Cura-me, Senhor, e eu serei curado; salva-me, e eu serei salvo; porque tu és a minha glória! Eis que eles me dizem: “Onde está a ameaça do Senhor? Que ela se cumpra então!” Quanto a mim, não me perturbo, tendo-te por pastor, e não desejei o dia da desgraça. Tu bem o sabes; tu conheces as minhas palavras, elas estão diante de ti. Não me lances no terror, tu, meu refúgio no dia da desgraça. Sejam confundidos os meus perseguidores, mas eu não seja confundido; que eles estremeçam, mas eu não estremeça. Faze vir sobre eles o dia da desgraça. Esmaga-os duas vezes, ó Senhor nosso Deus.

 

Jeremias, figura do Messias – Jeremias é uma das principais figuras de Jesus Cristo no Antigo Testamento, onde representa de maneira especial o Messias perseguido pelos judeus. Isso levou a Igreja a escolher suas profecias como o tema das leituras do Ofício da Noite, nas duas semanas dedicadas à Paixão do Salvador. Aqui ouvimos um dos gemidos que este justo dirige a Deus, contra seus inimigos; e fala em nome de Cristo. Escutemos estes acentos que revelam tanto a malícia dos judeus como a dos pecadores que perseguem Jesus Cristo no próprio seio do cristianismo. “Eles abandonaram, diz o profeta, a fonte das águas vivas”. Judá esqueceu a rocha do deserto da qual brotaram as águas que saciam a sua sede; ou se ainda se lembra dela, ignora que essa rocha misteriosa representava o Messias.

Jerusalém, imagem dos pecadores – Apesar de tudo, Jesus está em Jerusalém e clama: “Todo aquele que tem sede, venha a mim e será saciado”. Sua bondade, sua doutrina, suas maravilhosas obras, as profecias cumpridas nele claramente dizem que devemos acreditar em sua palavra, mas Judá permanece surdo ao seu convite, imitando-lhe mais de um cristão. Há alguns que provaram da “fonte das águas vivas” e que se voltaram para as correntes lamacentas do mundo; mas sua sede só tem aumentado. Que estes tais tremam diante do castigo dos judeus; porque, se não voltarem para o seu Deus, cairão nas chamas devoradoras e eternas, nas quais até mesmo a menor gota de água é recusada àqueles que a solicitam. O Salvador, pela boca de Jeremias, anuncia que chegará aos judeus “um dia de maldição”; algum tempo depois, quando veio pessoalmente, anunciou aos judeus que a tribulação que cairia sobre Jerusalém na punição de seu deicídio seria tão terrível “como não foi vista desde o começo do mundo, nem será vista novamente no decorrer dos séculos.” Mas se o Senhor vingou com tanto rigor o sangue do seu Filho contra uma cidade que há muito tempo estava pisando e contra um povo preferido a todos os outros, perdoará, porém, o pecador que despreza os convites da Igreja e insiste em continuar impenitente? Judá teve a infelicidade de completar o número de suas iniquidades; também todos nós temos um número de maldade, que a justiça divina não nos permitirá ultrapassar. Apressemo-nos, então, a pisotear o pecado; pensemos em completar a medida com boas obras e roguemos pelos pecadores que não querem se converter. Peçamos para que este sangue divino que eles desprezam não caia sobre eles novamente.

EVANGELHO – Continuação do santo Evangelho segundo São João.

NAQUELE tempo, os chefes dos sacerdotes e os fariseus reuniram-se em conselho contra Jesus, e diziam: “Que iremos fazer? Esse homem realiza inúmeros milagres. Se nós o deixarmos, todos crerão nele, e virão os romanos, e destruírão nosso templo e nossa nação.” Um deles, Caifás, que era sumo sacerdote aquele ano, lhes disse: “Não compreendeis coisa alguma; nem percebeis que é do vosso interesse que um só homem morra pelo povo, em vez de perecer toda a nação!” Ele não disse aquilo por si mesmo; mas, como era sumo sacerdote aquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação; e não apenas pela nação, mas também para reunir na unidade os filhos de Deus dispersos. A partir desse dia, eles tomaram a decisão de fazê-lo morrer. Assim, Jesus já não circulava abertamente entre os judeus, mas retirou-se para a região vizinha do deserto, numa cidade chamada Efraim, e permaneceu ali com seus discípulos.

 

O Conselho do Sinédrio – A vida do Salvador está agora mais do que nunca em perigo. O conselho da nação reuniu-se para tentar livrar-se Dele. Escutai a estes homens dominados pela mais vil das paixões, a inveja. Não negam os milagres de Jesus, são, portanto, capazes de dar um juízo sobre a sua missão e esse julgamento deveria ser favorável. Mas não se reuniram com este fim, mas para encontrar os meios para fazê-lo perecer. O que eles pensarão para si mesmos: Que sentimentos eles manifestarão em comum para legitimar essa resolução sangrenta? Eles ousarão colocar o interesse da nação através da política. Se Jesus continuar a manifestar e realizar essas maravilhas, a Judéia se levantará para proclamá-lO como seu rei e os romanos logo virão para vingar a honra do Capitólio indignado com as nações mais fracas do império. Insensatos que não entendem que se o Messias fosse rei, da maneira deste mundo, todos os poderes da terra teriam sido impotentes contra Ele! Eles não se lembram da predição de Daniel que anunciou que no decorrer de 70 semanas de anos a partir do decreto para a reconstrução do templo, Cristo deveria ser condenado à morte, e que o povo que O renegou já não será mais daí em diante Seu povo (Dn 9,25) e que após essa perversidade um povo comandado por um chefe militar virá e destruirá a cidade e o templo; que a abominação da desolação penetrará no santuário; e que a desolação sentará seus reais em Jerusalém para permanecer ali até o fim do mundo (Dn 9,26,27). Dando morte ao Messias eles aniquilarão com o mesmo ato a sua pátria.

 

A profecia do sumo sacerdote – Enquanto isso, o indigno sacerdote que preside os últimos dias da religião mosaica, reveste o efod, e profetiza, sendo sua profecia verdadeira. Não nos admiremos. O véu do templo ainda não foi rasgado; a aliança entre Deus e Judá ainda não foi quebrada. Caifás é um criminoso, um covarde, um sacrílego, mas é um pontífice: Deus fala pela boca dele. Escutemos este novo Balaão: “Jesus morrerá pela nação e não só pela nação, mas também para juntar e reunir os filhos de Deus que estão dispersos”. Assim, a sinagoga moribunda é forçada a profetizar o nascimento da Igreja pelo derramamento do sangue de Jesus. Em todas as partes da terra há filhos de Deus, que o servem no meio da gentilidade, como o centurião Cornélio; mas eles não se encontram em nenhum lugar visível. O tempo está se aproximando quando a grande e única Cidade de Deus aparecerá na montanha e “todas as pessoas se dirigirão a ela” (Is 11,2). Depois que o sangue da Aliança universal for derramado, depois que o sepulcro devolver o vencedor da morte, apenas passados cinquenta dias, o Pentecostes convocará, já não mais aos judeus no templo de Jerusalém, mas a todas as nações do mundo na Igreja de Jesus Cristo. Caifás não se lembra mais do oráculo que ele mesmo pronunciou; restabeleceu o véu do Santo dos Santos que se dividiu em dois no momento em que Jesus expirou na cruz; mas esse véu cobre apenas um reduzido deserto. O Santo dos Santos não está mais lá; “no entanto, uma oferta pura é oferecida em todos os lugares” (Ml 1,11) e as águias dos vingadores do Deicídio ainda não apareceram no Monte das Oliveiras, quando já os sacrificadores ouviram que uma voz ressoa no fundo do santuário repudiado que diz: “Vamos sair daqui”.

 

ORAÇÃO SOBRE O POVO – Oremos. Humilhai as vossas cabeças diante de Deus.

NÓS Vos imploramos, ó Deus onipotente, que procurando a graça de vossa proteção, livres de todos os males, Vos sirvamos sem temor. Por Nosso Senhor.

 

 

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