Oratório São José

A QUINTA-FEIRA DA I SEMANA DA PAIXÃO

Ano Litúrgico - Dom Próspero Gueranger

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A QUINTA-FEIRA DA I SEMANA DA PAIXÃO

Ano Litúrgico – Dom Próspero Gueranger

Em Roma, a estação é celebrada na Igreja de Santo Apolinário, que foi o primeiro bispo de Ravena e mártir.

 

COLETA – CONCEDEI, Vos pedimos, ó Deus onipotente, que a dignidade da natureza humana, corrompida pela intemperança, seja restaurada pela prática dessa abstinência salutar. Por Nosso Senhor.

EPÍSTOLA – Leitura do livro do profeta Daniel.

NAQUELES dias, Azarias dirigiu ao Senhor esta oração: “Senhor nosso Deus, por causa do teu nome, não nos abandones para sempre, e não destruas a tua aliança! Não nos prives da tua misericórdia, por causa de Abraão, teu amigo, de Isaac, teu servo, e de Israel, que tu santificaste; e aos quais prometeste multiplicar a descendência como as estrelas do céu e as areias da praia; Senhor, nós somos a menor de todas as nações, somos hoje humilhados pelo mundo inteiro, por causa de nossos pecados. Não há mais chefe, agora, nem profeta, nem príncipe; nem mais holocausto, sacrifício, oferenda ou incenso; nem mesmo lugar onde levar-te as primícias, e conseguir tua graça. Mas digna-te receber-nos, de coração partido e espírito humilhado. Qual os holocaustos de carneiros e touros, de milhares de cordeiros gordos, assim nosso sacrifício se eleve hoje diante de ti, e possa agradar-te, pois aqueles que têm confiança em ti não haverão de envergonhar-se! Agora nos apegamos a ti, de todo o coração; nós te tememos e buscamos a tua face. Não nos deixes na vergonha, mas trata-nos com misericórdia e segundo tua grande bondade. Liberta-nos por tuas maravilhas e glorifica, Senhor, o teu nome! Sejam cobertos de vergonha todos aqueles que fazem mal aos teus servos; sejam cobertos de vergonha, sem poder e sem força. Aprendam que tu és o Senhor e único Deus, glorioso sobre toda a terra, ó Senhor nosso Deus.”

 

A idolatria – Assim, Judá, cativo na Babilônia, desafogava o seu coração no Senhor, pela boca de Azarias. Sião, privada do seu templo e das suas solenidades, a desolação atingiu o limite: os seus filhos, exilados num país estrangeiro, tiveram que morrer sucessivamente até o ano 70 do exílio; então Deus se lembraria deles e os devolveria a Jerusalém pela mão de Ciro. Então teria lugar a construção do segundo templo que veria o Messias. Que crime Judá cometeu para ser submetido a tal expiação? Ele tinha sido dedicado à idolatria, tinha quebrado o pacto que o ligava ao Senhor, no entanto, seu crime foi reparado por este cativeiro de um número limitado de anos; e Judá, voltando para a terra de seus pais, não voltou ao culto dos falsos deuses. Quando o Filho de Deus veio morar com ele, estava puro de idolatria.

O deicida – Quarenta anos ainda não haviam transcorrido desde a Ascensão de Jesus, quando Judá embarcou novamente no caminho do exílio. Ele não foi levado de volta à Babilônia, mas foi disperso em grandes massas por todas as nações. E não somente 70 anos, mas 20 séculos passou “sem um chefe, sem um profeta, sem um holocausto, sem sacrifício e sem um templo”. O crime cometido por Judá é mais grave do que a idolatria, já que depois de tantos infortúnios e humilhações, a justiça do Pai não foi apaziguada até poucos anos atrás! É que o Sangue derramado no Calvário pelo povo judeu não é apenas o sangue de um homem: é o Sangue de um Deus.

Castigo e conversão – É necessário que toda a terra o conheça e compreenda apenas vendo a punição dos executores. Essa terrível expiação de um crime infinito deve continuar até os últimos dias do mundo, então o Senhor se lembrará de Abraão, Isaque e Jacó: uma graça extraordinária descerá sobre Judá e seu retorno confortará a Igreja, afligida pela deserção de tantos filhos. O espetáculo de toda uma cidade carregada da maldição por todas as suas gerações, por ter crucificado o Filho de Deus, faz o cristão refletir. Isso nos ensina que a justiça de Deus é terrível e que o Pai pede contas até da última gota do sangue de seu Filho para aqueles que o derramaram. Apressemo-nos em lavar neste sangue precioso o pecado de cumplicidade que temos com os judeus, e com uma conversão sincera, imitemos dentre estes, aqueles que de tempos em tempos, se afastam de seu povo e se voltam para o divino Messias, cujos braços estão estendidos na Cruz para receber todos os que querem vir a Ele.

 

EVANGELHO – Continuação do santo Evangelho segundo São Lucas.

NAQUELE tempo, um fariseu convidou Jesus, para comer com ele; ele entrou na casa do fariseu e pôs-se à mesa. Ora, certa mulher, que era uma pecadora da cidade, tendo sabido que ele estava à mesa na casa do fariseu, trouxe um vaso de perfume; colocou-se atrás de Jesus, a seus pés, e pôs-se a banhá-los com suas lágrimas, e os enxugava com seus cabelos; e beijava-lhe os pés e os cobria de perfume. Vendo aquilo, o fariseu que havia convidado Jesus, disse consigo mesmo: “Se este homem fosse um profeta, saberia quem é esta mulher que o toca, e o que ela é: uma pecadora!” Jesus tomou a palavra e lhe disse: “Simão, tenho alguma coisa a dizer-te.” Ele respondeu-lhe: “Fala, mestre.” “Um credor tinha dois devedores; um devia-lhe quinhentos denários, e o outro cinquenta. Como não tivessem com que pagar, perdoou a ambos. Qual dos dois lhe terá mais amor?” Simão respondeu: “Suponho que aquele a quem mais perdoou.” Jesus lhe disse: “Tu julgaste bem.” E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: “Vês esta mulher? Eu entrei na tua casa, e não me ofereceste água para os pés. Ela, porém, com suas lágrimas, regou-me os pés, e com seus cabelos enxugou-os. Tu não me beijaste; ela, porém, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés. Tu não derramaste óleo sobre a minha cabeça; ela, porém, cobriu meus pés de perfume. Por isso, eu te digo: se ela muito pecou, seus pecados lhe são perdoados, porque muito amou. Aquele a quem pouco se perdoa, pouco se ama.” E ele disse à mulher: “Teus pecados te são perdoados.” Os convivas começaram a dizer uns aos outros: “Quem é este homem que perdoa os pecados?” Mas ele disse à mulher: “Tua fé te salvou. Vai em paz!”

 

Maria Madalena – Para as ideias sombrias sugeridas pelo espetáculo da reprovação do povo deicida, a Igreja se apressa em propor diante de nossos olhos pensamentos consoladores que devem produzir em nossas almas a história do pecador do Evangelho. Esse aspecto da vida do Salvador não se refere ao tempo da Paixão, mas aos dias em que nos encontramos: não são dias de misericórdia, e não nos convém glorificar neles a mansidão e ternura do coração de nosso Redentor, que se prepara, para obter o perdão a um número tão grande de pecadores na Terra? Por outro lado, não é Madalena a companheira inseparável de seu mestre crucificado? Em breve, a veremos ao pé da Cruz; estudemos este modelo de amor, fiel até a morte, e para isso, consideremos seu ponto de partida.

Seu arrependimento – Madalena levara uma vida pecaminosa. Sete demônios, diz o Evangelho em outro lugar, fizeram nela a sua morada. Foi suficiente para essa mulher ver e ouvir o Senhor, então, o horror do pecado tomou posse dela, um santo horror inunda seu coração, ela não quer mais que um desejo, para consertar sua vida passada. Ela pecou publicamente, precisa de uma retratação pública de suas misérias, viveu no luxo: doravante seus perfumes serão para seu Libertador; com sua cabeleira, da qual era tão orgulhosa, enxugará os pés divinos; em seu rosto não mais aparecerão sorrisos; seus olhos, sedutores de almas, estão inundados de lágrimas. Pelo movimento do Espírito divino que a anima, começa a contemplar novamente Jesus que se encontra na casa do fariseu, celebrando uma festa, e ela se torna a causa de sorrisos maliciosos e sussurros. O que importa? Ela avança com seu precioso vaso e em alguns momentos cai diante dos pés do Salvador. Ali ela se senta e derrama seu coração e suas lágrimas. Quem poderá descrever os pensamentos que inundam essa alma? O próprio Jesus irá manifestá-las a nós a seu tempo com uma única palavra. Com clareza pode-se ver sua comoção quando se considera suas lágrimas, no uso de seus perfumes e cabelos, sua grande gratidão, e em sua predileção de seu Salvador sua grande humildade.

O perdão – O fariseu está escandalizado. Por causa do movimento do orgulho judeu que em breve crucificará o Messias, ele aproveita a oportunidade para duvidar da missão de Jesus. “Se este fosse o Profeta, dizia, certamente saberia quem é a mulher que O toca.” Se tivesse o espírito de Deus saberia por esta condescendência para com a criatura arrependida que este é o Salvador prometido. Mesmo com sua reputação de virtude, “quão abaixo desta mulher pecadora se encontra!” Jesus se dá ao trabalho de dar isso a entender ao fazer o paralelo entre Madalena e Simão, o fariseu, e nesse paralelo foi decidida a vitória por Madalena. Qual é a causa que transformou assim a pecadora, de tal forma que não merece apenas o perdão, mas também o elogio de Jesus? Seu amor: “Amava a seu Redentor; muito O amou” e o perdão que recebeu está relacionado a esse amor. Alguns momentos atrás, seu único amor era o mundo e a vida sensual; o arrependimento criou nela um novo ser: sua única busca, seu único olhar, seu único amor, é Jesus. No futuro seguirá os seus passos, quer remediar suas necessidades, quer, acima de tudo, vê-lO e ouvi-lO; e no momento da provação, quando os Apóstolos tiverem fugido, ela permanecerá ali aos pés da Cruz para receber o último suspiro daquele a quem sua alma devia sua vida. “Que exemplo de esperança para o pecador.” Jesus acaba de dizer: “Aquele que mais ama, mais é perdoado”. Pecadores, pensai em vossos pecados, mas acima de tudo, pensai em aumentar o vosso amor: Que se ache em relação com a graça do perdão que recebereis, e “vossos pecados serão perdoados”.

ORAÇÃO SOBRE O POVO – Oremos. Humilhai as vossas cabeças diante de Deus.

SENHOR, nós Vos suplicamos, sede propício a vosso povo a fim, de que, repelindo tudo o que Vos desagrada, sintamos as delícias de vossos mandamentos. Por Nosso Senhor.

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