SÃO PAULO DA CRUZ (28/04)

SÃO PAULO DA CRUZ, Confessor – 3ª classe
Fundador dos Clérigos Descalços da Santa Cruz e Paixão (1775)
São Paulo da Cruz, fundador dos Passionistas, nasceu em Ovada, na República de Gênova, em 1604, quase ao mesmo tempo que Voltaire. Paulo Francisco era o filho mais velho de Lucas Danei, empresário de boa família. Tanto ele como sua esposa eram excelentes cristãos. Sempre que Paulo começava a chorar por qualquer motivo, sua mãe lhe mostrava o crucifixo e lhe contava sobre os sofrimentos de Cristo. Assim, aos poucos, foi-se formando no menino a grande devoção à Paixão, que o distinguiria ao longo da vida.
O pai de Francisco lia a vida dos Santos em família e exortava os filhos a se protegerem dos perigos do jogo e das brigas. Embora Paulo fosse um daqueles homens seletos que se entregaram a Deus desde a infância, aos quinze anos, um sermão que ouviu deixou-o convencido de que não correspondia suficientemente à graça. Assim, depois de fazer uma confissão geral, ele começou uma vida de austeridade: dormia no chão, passava várias horas da noite em oração e recebia severas disciplinas. Nessas práticas seu irmão, João Batista, dois anos mais novo que ele, o imitava. Ele também fundou uma espécie de sociedade de santificação mútua com seus amigos, vários dos quais mais tarde ingressaram na vida religiosa.
Em 1714, Paulo partiu para Veneza para responder ao apelo do Papa Clemente XI, que havia pedido voluntários para a guerra contra os turcos; mas um ano depois ele foi dispensado, convencido de que não estava preparado para a vida militar. Sentindo que Deus não o estava chamando para uma vida comum no mundo, ele rejeitou uma grande herança e um casamento brilhante. Mas antes que ele ou seus diretores conseguissem descobrir sua verdadeira devoção, viveu vários anos na casa de seus pais, em Castellazzo, na Lombardia, onde, através da prática constante da oração, alcançou um alto grau de contemplação.
Em três visões extraordinárias que teve, em 1720, observou um hábito preto no qual estava gravado o nome de Jesus, em caracteres brancos, sob uma cruz, na altura do peito. Na terceira dessas visões, a Santíssima Virgem, vestida com o hábito preto, ordenou-lhe que fundasse uma congregação cujos membros usariam esse hábito e sofreriam constantemente pela paixão e morte de Cristo.
Paulo apresentou um relato escrito de suas visões ao bispo de Alexandria, que consultou diversas pessoas de autoridade, incluindo o capuchinho Columbano de Gênova, ex-diretor espiritual de Paulo. Conhecendo a vida heróica de virtude e oração que o jovem levava desde criança, todos declararam que se tratava verdadeiramente de uma vocação designada por Deus. O bispo então autorizou Paulo a seguir o chamado divino e conferiu-lhe o hábito preto. Ele reservou a insígnia da cruz até que o Papa aprovasse a nova fundação. Paulo imediatamente começou a escrever as regras da futura congregação.
Durante quarenta dias retirou-se para uma cela triangular escura e húmida, adjacente à sacristia da igreja de San Carlos de Castellazzo, onde vivia a pão e água e dormia numa cama de palha. As regras que ele elaborou então, sem consultar nenhum livro, são substancialmente as mesmas que hoje são observadas pelos Passionistas.
Depois daquele retiro, permaneceu algum tempo com João Batista e outro discípulo, nas proximidades de Castellazzo, ajudando o clero na catequese e entregando missões com grande sucesso. Mas logo percebeu que, para cumprir plenamente a sua missão, precisava da aprovação de Roma. Assim, descalço, com a cabeça descoberta e sem um centavo na bolsa, iniciou a viagem até a Cidade Eterna.
Ele deixou seu irmão João Batista em Gênova. Assim que chegou a Roma, apareceu no Vaticano; mas, como não tinha credenciais, não pode entrar. Paulo viu nisso um sinal de que a hora de Deus ainda não havia chegado e iniciou calmamente a viagem de regresso. Passou pelas encostas solitárias do Monte Argentaro, que o mar separa quase totalmente da península.
O local impressionou-o tanto que pouco depois regressou com João Batista, decidido a levar uma vida tão austera como a dos padres do deserto numa das ermidas abandonadas daquele lugar. Mais tarde, passaram algum tempo em Roma, onde receberam ordens sagradas; mas em 1727 regressaram a Monte Argentaro, com a intenção de fundar o primeiro noviciado, para o qual já haviam recebido autorização pontifícia.
Na empresa eles tiveram que enfrentar inúmeras dificuldades. Todos os primeiros candidatos acharam o regime de vida muito duro e voltaram atrás. Por outro lado, devido à ameaça de guerra, os benfeitores não puderam cumprir as suas promessas. Finalmente, uma grave epidemia eclodiu nas cidades vizinhas.
Paulo e João Batista, que receberam poderes missionários em Roma, dedicaram-se a dar os últimos sacramentos aos moribundos, a cuidar dos enfermos e a reconciliar os pecadores com Deus. As missões que pregaram naquela época tiveram tanto sucesso que logo começaram a ser chamados de outras cidades. Da mesma forma, vários novos noviços solicitaram admissão (nem todos perseveraram) e, em 1737, foi concluído o primeiro “retiro” ou mosteiro passionista. A partir de então, a congregação começou a florescer, embora não faltassem provações e decepções.
Em 1741, Bento XIV aprovou as regras um tanto flexibilizadas e aumentou imediatamente o número de vocações para a congregação. Seis anos depois, quando os Passionistas já tinham três casas, reuniram-se em capítulo geral. A essa altura, a fama das suas missões e a austeridade da sua vida já se espalharam por toda a Itália. São Paulo evangelizou pessoalmente quase todas as cidades dos Estados Pontifícios e da região da Toscana. O tema constante de sua pregação foi a Paixão de Cristo.
Com uma cruz na mão e os braços estendidos, o santo falou dos sofrimentos do Senhor, de uma forma que comoveu até os mais difíceis. Quando ele se disciplinou violentamente em público pelos pecados do povo, ele fez até soldados e bandidos chorarem. Um oficial que atendeu uma das missões confessou ao santo: “Padre, já estive em muitas batalhas, sem nem piscar diante do estrondo do canhão, mas a voz de vossa reverência me faz tremer da cabeça aos pés”. O apóstolo tratou com ternura os penitentes no confessionário, confirmando-os nas suas boas intenções, exortando-os a mudar de vida e sugerindo meios práticos para perseverar no caminho certo.
Deus encheu São Paulo da Cruz de dons extraordinários. O santo previu o futuro, curou muitos enfermos e, ainda em sua vida mortal, apareceu diversas vezes para pessoas que estavam muito distantes de onde ele estava. Nas cidades, as pessoas aglomeravam-se à sua volta, tentando tocá-lo e arrancar um fragmento do seu hábito para guardar como relíquia, embora ele rejeitasse todos os sinais de veneração.
Em 1765, São Paulo teve a dor de perder o irmão João Batista, de quem nunca se separou e com quem tinha um carinho extraordinário. Com temperamentos muito diferentes, os dois irmãos se completavam e lutavam juntos para adquirir a perfeição. Desde que receberam a ordenação sacerdotal, confessaram-se mutuamente, exercendo por sua vez o cargo de juízes. A única vez em que discordaram foi no dia em que João Batista ousou elogiar seu irmão em sua presença. Isto feriu tão profundamente a humildade de São Paulo que proibiu o irmão de falar com ele, o que acabou sendo uma penitência tão difícil para um como para o outro. A nuvem de desacordo finalmente desapareceu no terceiro dia, quando João Batista pediu perdão ao irmão de joelhos. Nunca mais houve dificuldade entre eles. Em memória da amizade que os uniu, o Papa Clemente XIV confiou, muitos anos depois, a São Paulo da Cruz, a basílica romana de São João e São Paulo.
Em 1769, Clemente XIV aprovou definitivamente a nova congregação. São Paulo teria gostado de se retirar então para a solidão, pois a sua saúde estava muito debilitada e o servo de Deus considerava a sua tarefa terminada. Mas os seus filhos resistiram a mudar de superiores, e o Papa, que tinha grande carinho pelo santo, quis que ele passasse uma temporada em Roma.
Durante os seus últimos anos, São Paulo da Cruz dedicou-se à fundação das religiosas passionistas. Depois de muitas dificuldades, o primeiro convento foi inaugurado em 1771, em Corneto; mas a saúde precária do fundador impediu-o de comparecer à cerimônia e nunca viu as suas filhas espirituais vestidas com o hábito.
Já se sentindo muito mal, pediu a bênção do Papa, mas o Pontífice respondeu que a Igreja precisava dele para viver mais alguns anos. São Paulo melhorou um pouco e viveu três anos. Sua morte ocorreu em 18 de outubro de 1775, quando tinha oitenta anos. Sua canonização ocorreu em 1867, quando foi instituída a data de 28 de abril para sua festa.
(BUTLER Alban de, Vida de los Santos: vol. II, ano 1965, pp. 169-172)

