Oratório São José

A SEXTA-FEIRA DA III SEMANA DA QUARESMA

Ano Litúrgico - Dom Próspero Gueranger

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A SEXTA-FEIRA DA III SEMANA DA QUARESMA

Ano Litúrgico – Dom Próspero Gueranger

A Estação é comemorada na igreja de São Lourenço, em Lucina, um santuário antigo e famoso, onde é conservada a grelha sobre a qual o santo arcediácono da Igreja romana consumiu seu martírio.

COLETA – NÓS Vos pedimos, Senhor, acompanhai os nossos jejuns com a vossa benigna graça, a fim de que, assim como o nosso corpo se privou de alimentos, assim também as nossas almas se abstenham do pecado. Por Nosso Senhor.

EPÍSTOLA – Leitura do livro dos Números.

NAQUELES dias, os filhos de Israel se reuniram, e revoltaram-se contra Moisés e contra Aarão. Eles disseram: “Dai-nos água! Nós queremos beber!” Deixando a assembleia, Moisés e Aarão vieram à entrada da Tenda de reunião, prostraram-se de face em terra, e clamaram ao Senhor, dizendo: “Ouvi, Senhor Deus, o clamor deste povo, e abri-lhe o vosso tesouro, a fonte de água viva, a fim de que, saciados, parem de murmurar!” Então a Glória do Senhor apareceu por sobre eles. O Senhor dirigiu a palavra a Moisés e lhe disse: “Empunha o bastão. Reúne, a comunidade, tu e teu irmão Aarão. Diante deles ordenareis ao rochedo que dê água. Quando tiverdes feito brotar a água do rochedo, fareis beber ao povo e seus rebanhos.” Moisés tomou o bastão que estava diante do Senhor, segundo lhe fora ordenado. Moisés e Aarão convocaram a assembleia diante do rochedo, e disseram: “Escutai, pois, rebeldes! Será que faremos brotar água para vós deste rochedo?” Moisés ergueu a mão, e bateu com seu bastão no rochedo duas vezes. A água brotou com abundância. O povo matou a sede com todos os seus rebanhos. O Senhor disse a Moisés e a Aarão: “Porque vós não acreditastes que eu revelaria a minha santidade perante os filhos de Israel, não conduzireis esta assembleia à terra que eu lhe dou? Eis o que se passou nas águas de Meriba: os filhos de Israel se revoltaram contra o Senhor, mas ele revelou-lhes a sua santidade.

 

A rocha espiritual – Aqui temos uma das figuras mais veneráveis do Antigo Testamento: simboliza o Sacramento do Batismo, para o qual nossos Catecúmenos estão agora se preparando. Um povo inteiro pede água, se lhes for negado, perecerão no deserto. São Paulo, o sublime intérprete das figuras do Antigo Testamento, nos diz que a Rocha era Cristo (2 Cor 10, 4) de quem saiu a fonte da Água viva, que mata a sede e purifica nossas almas. Os Santos Padres comentavam que a Rocha não cedeu sua água até ser atingida com o bastão que significa a Paixão de nosso Redentor. O próprio bastão, como nos dizem alguns dos primeiros comentadores das Escrituras, é o símbolo da cruz; e os dois golpes com os quais a Rocha foi atingida, representam as duas madeiras com as quais a Cruz foi formada.

 

O novo Moisés – As pinturas que a Igreja primitiva nos deixou nas Catacumbas de Roma, frequentemente representam Moisés no ato de golpear a Rocha, da qual flui uma corrente de água; e num vaso, encontrado nas mesmas Catacumbas, berço de nossa fé, existe uma inscrição dizendo que os primeiros cristãos consideravam Moisés como figura de São Pedro que, na Nova Aliança, abriu ao povo de Deus a verdadeira fonte da graça com sua pregação no dia de Pentecostes, a mesma que também deu aos gentios na pessoa de Cornélio, o Centurião. Este símbolo de Moisés atingindo a Rocha, e as figuras do Antigo Testamento com as quais já nos deparamos, ou ainda encontraremos, nas Lições dadas pela Igreja aos Catecúmenos, não são encontradas apenas nos afrescos mais antigos das catacumbas romanas, mas temos numerosas provas de que foram representadas em todas as Igrejas do Oriente e do Ocidente. Até o século XIII, e mesmo mais tarde, as encontramos nas janelas de nossas catedrais e na forma hierática que lhes foi dada nos primeiros tempos. É de lamentar que esses símbolos cristãos, tão caros aos nossos ​​católicos antepassados, estejam agora tão esquecidos a ponto de serem quase tratados com desprezo. Voltemos, pela meditação da sagrada Liturgia, a essas tradições sagradas que inspiraram nossos antepassados com fé heroica e sua admirável entrega a Deus e à posteridade.

EVANGELHO – Continuação do santo Evangelho segundo são João.

NAQUELE tempo, chegou Jesus a uma cidade da Samaria chamada Sicar, perto do campo que Jacó havia dado a seu filho José. Lá é que se encontrava o poço de Jacó. Jesus, cansado da caminhada, sentara-se junto ao poço. Era por volta da sexta hora. Certa mulher da Samaria chega em busca de água; Jesus lhe disse: “Dá-me de beber.” (Seus discípulos tinham ido à cidade para comprar provisões.) A samaritana lhe disse: “Como tu, sendo judeu, me pedes de beber, a mim, que sou uma samaritana?” Os judeus, com efeito, não se dão com os samaritanos. Jesus lhe respondeu: “Se tu conhecesses o dom de Deus, e quem é aquele que te diz: Dá-me de beber, tu é que lhe terias feito este pedido, e ele te daria uma água viva.” Ela lhe disse: “Senhor, não tens nada para tirá-la, e o poço é profundo; onde irias buscar esta água viva? Serás acaso maior que nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual ele próprio bebeu, assim como seus filhos e rebanhos?” Jesus lhe respondeu: “Todo aquele que beber desta água terá sede de novo; mas aquele que beber da água que eu lhe darei, nunca mais terá sede: a água que eu lhe darei tornar-se-á dentro dele uma fonte de água que borbulha para a vida eterna.” A mulher lhe disse: “Senhor, dá-me desta água, a fim de que eu não tenha mais sede, e não precise mais vir aqui.” Jesus lhe disse: “Vai, chama o teu marido e volta.” A mulher respondeu: “Eu não tenho marido.” Jesus prosseguiu: “Tens razão em dizer: Eu não tenho marido; porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens, não é teu marido; neste ponto disseste a verdade.” A mulher lhe disse: “Senhor, vejo que és um profeta. Nossos pais adoraram nesta montanha; e, no entanto, dizeis: é em Jerusalém que se deve adorar.” Jesus lhe disse: “Crê em mim, ó mulher: chega a hora em que não é nesta montanha, nem em Jerusalém, que adorareis o Pai. Vós adorais aquilo que não conheceis; nós adoramos aquilo que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas chega a hora – e é esta – em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, porque são estes os adoradores que o Pai procura: Deus é espírito, e aqueles que adoram, em espírito e verdade é que devem adorar.” A mulher lhe disse: “Eu sei que o Messias deve vir, aquele a quem chamam Cristo. Quando ele vier, ele nos anunciará todas as coisas.” Jesus lhe disse: “Sou eu, aquele que te fala.” Neste momento seus discípulos chegaram. Ficaram surpresos por vê-lo falar com uma mulher. Todavia nenhum deles disse: “Que pretendes?” ou: “Por que falas com ela?” A mulher, então, deixando ali seu cântaro, correu à cidade e disse ao povo: “Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será acaso o Messias?” Eles saíram da cidade e foram a Jesus. Enquanto isso, os discípulos insistiam, dizendo: “Rabi, come.” Mas ele respondeu-lhes: “Tenho para comer outro alimento que vós não conheceis.” Os discípulos perguntavam uns aos outros: “Alguém lhe terá trazido comida?” Jesus lhes disse: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra. Vós não dizeis: Mais quatro meses, e será a colheita?  Pois bem! Eu vos digo: Erguei os olhos e vede os campos que branquejam para a colheita. Já o ceifador recebe o seu salário: ele recolhe o grão para a vida eterna, de modo que o semeador partilha também a alegria do que colhe. É assim que o provérbio diz a verdade: “Um é o que semeia, outro o que colhe: eu vos mandei semear onde não trabalhastes; outros trabalharam e vós entrais em seus trabalhos.” Inúmeros samaritanos daquela cidade creram em Jesus por causa da palavra da mulher, que dava este testemunho: “Ele me disse tudo o que eu fiz.” Assim, quando chegaram perto dele, os samaritanos convidaram-no a ficar entre eles, e ficou ali por dois dias. Foram ainda mais numerosos os que creram nele por causa da sua própria palavra; e diziam à mulher: “Não é mais por causa do que nos contaste que nós cremos; ouvimo-lo nós próprios, e sabemos que ele é mesmo o salvador do mundo.”

 

Jesus no poço de Jacó – Nosso Evangelho nos mostra o Filho de Deus continuando o ministério de Moisés, revelando à mulher samaritana, que representa os gentios, o mistério da água que dá vida eterna. Encontramos este assunto pintado nas paredes das Catacumbas e esculpido nos túmulos dos cristãos já no século V e mesmo no século IV. Vamos, então, meditar sobre este evento da vida de nosso Senhor, pois nos fala de sua maravilhosa misericórdia. Jesus está cansado de sua jornada; Ele, o Filho de Deus, que teve apenas que falar e o mundo foi criado, está fatigado em busca de suas ovelhas perdidas. Ele é obrigado a descansar seus membros cansados, senta-se à beira de um poço. Lá Ele encontra uma mulher samaritana, é uma pagã, uma idólatra, que vem tirar água do poço e nunca ouviu falar que existia uma Água que dá a vida eterna. Jesus pretende revelar o mistério para ela. Começa dizendo que está cansado e com sede. Daqui a alguns dias, quando expirar em sua cruz, Ele dirá “tenho sede”, e agora diz a essa mulher: Dá-me de beber. Para chegar a compreender bem esta graça de nosso Redentor devemos primeiro conhecê-lo em suas enfermidades e sofrimentos.

A água viva – Mas antes que a mulher tivesse tempo de dar a Jesus o que pedia, Ele lhe fala de uma água da qual quem bebe nunca mais terá sede, convida-a a buscar uma fonte que jorra para a vida eterna. A mulher deseja beber desta Água; ela não sabe quem é Aquele que está falando com ela, e ainda assim ela tem fé no que Ele diz. Esta idólatra mostra uma docilidade de coração como os judeus nunca mostraram ao Messias; ela é dócil, apesar de saber que Aquele homem pertence a uma nação que despreza todos os samaritanos. A confiança com que ela ouve a Jesus é recompensada por maiores graças. Ele começa colocando-a em teste. Vá, diz Ele, chama teu marido e volta aqui. Ela estava vivendo em pecado, e Jesus queria que ela confessasse isso. Ela faz isso sem a menor hesitação, sua humildade será recompensada, por reconhecer imediatamente que Jesus é um Profeta se saciará na fonte das Águas Vivas. Do mesmo modo aconteceu com os gentios, os apóstolos lhes pregaram o Evangelho, os repreendiam por causa de seus crimes e mostravam a santidade do Deus que haviam ofendido; e os gentios, longe de rejeitarem seu ensinamento, pelo contrário, eram dóceis e só queriam saber o que deveriam fazer para se tornarem agradáveis ​​ao seu Criador. A fé de Jesus Cristo precisava de mártires, e eles foram encontrados em abundância entre esses convertidos do paganismo e suas abominações. Jesus, vendo tanta simplicidade na samaritana, misericordiosamente revela a ela quem Ele é. Diz Ele a essa pobre pecadora que chegou a hora em que todos os homens devem adorar a Deus, que o Messias já veio sobre a terra e que ele mesmo é o Messias. É assim que Cristo trata a alma que é simples e obediente. Ele se mostra sem reservas. Entretanto, os discípulos chegam, mas ainda tinham muito do nacionalismo israelita para compreenderem a misericórdia que seu Mestre mostrava para com esta samaritana. Mas logo virá o tempo em que eles dirão com o grande apóstolo São Paulo: “Já não há nem judeu nem grego; não há servo nem livre; não há homem ou mulher, porque todos são um em Cristo Jesus” (Gl 3,28).

Apóstolo e Mártir – Enquanto isso, a samaritana se torna uma apóstola, pois está cheia de ardor celestial: deixa seu cântaro no poço, como se preocupar com essa água, agora que Jesus a deu para beber da Água Viva? Ela volta para a cidade, mas agora é para anunciar a Jesus e levar para Ele, se possível, todos os habitantes da Samaria. Em sua humildade, ela prova que Ele é um grande profeta, pois Ele revelou todos os pecados de sua vida! Esses pagãos, que os judeus desprezavam, fixam-se no poço, onde Jesus ficou, falando aos seus discípulos sobre a colheita vindoura. Eles reconhecem que Ele é o Messias, o Salvador do mundo; e Jesus se permite permanecer dois dias nesta cidade, onde não havia outra religião além da idolatria, com um fragmento aqui e aqui de alguma prática judaica. A tradição nos diz que o nome da mulher samaritana era Fotina. Ela e os Magos foram os primeiros frutos do novo povo de Deus. Ela sofreu o martírio por aquele que se revelou a ela no poço de Jacó. A Igreja honra sua memória a cada ano, no martirológio romano, no dia 20 de março.

ORAÇÃO SOBRE O POVO – Oremos. Humilhai as vossas cabeças diante de Deus.

NÓS Vos imploramos, ó Deus onipotente, concedei aos que confiamos em vossa proteção, podermos vencer com o auxílio de vossa graça todas as adversidades. Por Nosso Senhor.

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