A QUARTA-FEIRA DA II SEMANA DA QUARESMA

A QUARTA-FEIRA DA II SEMANA DA QUARESMA
Ano Litúrgico – Dom Próspero Gueranger
A Estação é comemorada na Basílica de Santa Cecília. Este templo era anteriormente o lar da ilustre Virgem e Mártir, cujo nome ele mantém. O corpo de Santa Cecília repousa embaixo do altar principal com os dos santos mártires Valeriano, Tibúrcio, Máximo, Urbano e Lúcio.
COLETA – NÓS Vos rogamos, Senhor, olhai propício para o vosso povo, e ordenando abster-nos do alimento carnal, concedei-nos a graça de evitarmos os vícios que nos prejudicam. Por Nosso Senhor.
EPÍSTOLA – Leitura do livro de Ester.
NAQUELES dias, Mardoqueu rezou ao Senhor nestes termos: “Senhor, Senhor Rei todo-poderoso, tudo está submetido ao teu poder. Ninguém pode se opor à tua vontade quando queres salvar Israel. Tu fizeste o céu e a terra, e todas as maravilhas que estão debaixo do céu. Tu és o Senhor de todas as coisas, e nada te pode resistir, Senhor. E agora, Senhor, Rei, Deus de Abraão, poupa o teu povo, pois os nossos inimigos querem perder-nos e destruir tua herança. Não desprezes os teus, aqueles que remiste do país do Egito. Escuta a minha súplica, seja favorável àqueles que te pertencem, transforma o nosso luto em festa; então nós viveremos, e poderemos, Senhor, celebrar o teu nome! Mas não feches a boca daqueles que te aclamam, ó Senhor, nosso Deus!”
A Igreja é a nova Ester – Este pedido que Mardoqueu apresentou a Deus em favor de toda uma nação que estava condenada à destruição, representa as orações que os santos do Antigo Testamento ofereceram pela salvação do mundo. A raça humana estava, em grande parte, no poder de Satanás, que é figurado por Aman. O todo-poderoso rei dera sentença contra a humanidade: Vós morrereis! Quem estava lá, que poderia induzi-lo a revogar a sentença? Ester intercedeu com Assuero, seu senhor, e ela foi ouvida. Maria apresentou-se diante do trono do Deus Eterno: e ela que, pelo seu Divino Filho, esmaga a cabeça da serpente, que nos atormentaria para sempre. A sentença, então, deve ser anulada, todos viverão esse desejo de viver. Hoje, temos a Igreja orando por seus filhos que estão em estado de pecado. Ela treme ao vê-los em perigo de se perderem eternamente. Ela intercede por eles tomando para si a oração de Mardoqueu. Ela humildemente lembra seu Esposo Divino que Ele os salvou do Egito; e, pelo batismo, fez deles seus membros, sua herança. Ela suplica que Ele mude seu luto para a alegria, especialmente para a grande alegria pascal. A Igreja diz a Jesus: Oh! não cale a boca dos que Te cantam. É verdade que esses pobres pecadores, em tempos passados, ofenderam o seu Deus pela palavra, bem como pela ação e pelo pensamento; mas agora só abrem para pedir perdão e que, quando este lhes for concedido, exultarão em cânticos de agradecimento ao divino Libertador.
EVANGELHO – Continuação do santo Evangelho segundo São Mateus.
NAQUELE tempo, como Jesus subisse a Jerusalém, tomou os Doze à parte e, em caminho, lhes disse: “Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e aos escribas: eles o condenarão à morte, e o entregarão aos pagãos, para ser escarnecido, flagelado e crucificado; mas ele ressuscitará no terceiro dia.” Então a mãe dos filhos de Zebedeu aproximou-se de Jesus com seus filhos, e prostrou-se para fazer-lhe um pedido. Ele lhe disse: “Que desejas?” Ela respondeu-lhe: “Ordena que estes meus dois filhos assentem-se um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu Reino.” Jesus lhe respondeu: “Não sabeis o que pedis! Podeis acaso beber o cálice que eu vou beber?” Eles disseram: “Podemos.” Ele disse: “Meu cálice, vós o bebereis. Mas sentar-vos à minha direita e à minha esquerda, não cabe a mim concedê-lo: será para aqueles a quem meu Pai o preparou.” Ouvindo isto, os outros dez se indignaram contra os dois irmãos. Jesus chamou-os e lhes disse: “Sabeis que os chefes das nações as tiranizam e os grandes as oprimem com sua autoridade. Não será assim entre vós; ao contrário: aquele que quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo; e aquele que quiser ser o primeiro entre vós, seja o vosso escravo, a exemplo do Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir, e dar a sua vida em resgate por muitos.”
O anúncio da Paixão – Hoje diante de nossos olhos se apresenta Aquele que deu a própria vida para apaziguar a ira do Todo-Poderoso Rei dos reis e salvar o seu povo da morte. Jesus é o Filho da verdadeira Ester e Filho de Deus que se aproxima para humilhar o orgulho de Aman, no mesmo momento em que este nosso inimigo traiçoeiro se certifica de sua vitória. Ele sobe a Jerusalém, pois é aí que a grande batalha deve ser travada. Ele anuncia aos discípulos tudo o que deve acontecer. Ele será entregue aos chefes dos sacerdotes que o condenarão à morte e o entregará ao governador romano e aos soldados. Ele será escarnecido, açoitado e crucificado; mas ressuscitará no terceiro dia. Os Apóstolos ouviram esta profecia, pois o Evangelho diz que Jesus separou os doze para lhes dizer estas coisas. Judas, consequentemente, estava presente; assim foram Pedro, Tiago e João os três que haviam testemunhado a Transfiguração de seu Mestre no Tabor e tinham um conhecimento mais claro de sua Divindade. E, no entanto, todos o abandonaram. Judas o traiu, Pedro o negou, e todo o rebanho fugiu de medo quando o Pastor estava no poder de seus inimigos. Nenhum deles recordou como Ele havia dito que, no terceiro dia, Ele ressuscitaria, com a exceção de Judas que talvez fosse encorajado a cometer seu crime pela reflexão de que Jesus logo triunfaria sobre seus inimigos e estaria novamente livre. O resto não podia ver além do escândalo da cruz que pôs fim a toda a sua fé e abandonaram o seu Mestre. Que lição para todas as futuras gerações de cristãos! Quão poucos existem que olham para a cruz, seja para si mesmos ou para outros, como o sinal do amor especial de Deus! Somos homens de pouca fé, não podemos entender as provações que Deus envia a nossos irmãos, e muitas vezes somos tentados a acreditar que Ele nos abandonou por enviar a cruz. Somos homens de pouco amor também, pois a tribulação mundana nos parece um mal, e achamos que dificilmente somos lembrados por Deus, justamente no momento em que nosso Deus está nos mostrando a maior misericórdia. Somos como a mãe dos filhos de Zebedeu, capazes de nos colocarmos num lugar alto e visível perto do Filho de Deus, esquecendo que devemos primeiro merecer isto bebendo do cálice que Ele bebeu, isto é, o cálice do Sofrimento. Também nos esquecemos da afirmação do Apóstolo: “Para sermos glorificados com Jesus, precisamos sofrer com Ele!” (Rm 8,17). Ele, o justo por excelência, não entrou em seu descanso por meio de honras e prazeres, por isso o pecador não pode segui-Lo, a não ser trilhando o caminho da penitência.
ORAÇÃO SOBRE O POVO – Oremos. Humilhai as vossas cabeças diante de Deus.
Ó DEUS, que amais e restituís a inocência, dirigi para Vós os corações de vossos servos, a fim de que no fervor do vosso Espírito, sejam firmes na fé e férteis em boas obras. Por Nosso Senhor.

