Oratório São José

O Sábado das Têmporas da Quaresma

Ano Litúrgico - Dom Próspero Gueranger

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O SÁBADO DAS TÊMPORAS DA QUARESMA

Ano Litúrgico – Dom Próspero Gueranger

 

A Estação é celebrada na Basílica de São Pedro do Vaticano, onde o povo se congregava pela tarde para assistir à ordenação dos sacerdotes e ministros sagrados. Chamava-se este dia “Sábado das doze lições” porque se liam doze trechos das Sagradas Escrituras como no Sábado Santo[1]. A Missa das ordenações era celebrada à noite, já começado o Domingo. Posteriormente se antecipou para o sábado esta Missa da ordenação; mas em recordação do uso antigo não foi marcado um Evangelho diferente para o Domingo, repetindo-se o mesmo nos dois dias. Já comentamos sobre a mesma particularidade no Sábado das Têmporas do Advento, porque a Missa da ordenação se adiantou do mesmo modo para esse dia.

COLETA – Oremos. Ajoelhemo-nos. Levantemo-nos. – NÓS, Vos rogamos, Senhor, olhai propício para o vosso povo, e afastai dele, benignamente, os flagelos de vossa ira. Por Nosso Senhor.

LEITURA – Leitura do livro do Deuteronômio – NAQUELES dias, falou Moisés ao povo, nestes termos: Quando tiveres acabado de pagar o dízimo de todos os teus frutos, dirás na presença do Senhor, teu Deus: Eu tirei de minha casa o que Vos é consagrado, e dei-o ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva como me ordenastes; não transgredi os vossos mandamentos, nem me esqueci de vosso preceito. Obedeci à voz do Senhor, meu Deus, e fiz tudo como me ordenastes. Olhai de vosso santuário, da excelsa morada dos céus e abençoai Israel, vosso povo, e a terra que nos destes, como jurastes a nossos país, terra de onde mana leite e mel. O Senhor, teu Deus, ordenou-te hoje, observes estes mandamentos e leis; guarda-os e cumpre-os de  todo o teu coração e de toda a tua alma. Tu escolheste hoje o Senhor para ser o teu Deus, para andares por seus caminhos, observares as suas cerimônias, as suas ordenações e leis, e para obedeceres ao seu mando. O Senhor te escolheu hoje para que sejas o seu povo como Ele te declarou, e guardes todos os seus preceitos; e Ele te faça ilustre entre todas as nações que Ele criou, para seu louvor, honra e glória sua, a fim de que sejas o povo santo do Senhor, teu Deus, como Ele disse.

OBEDIÊNCIA ÀS LEIS DA IGREJA – O Senhor nos ensina neste passo de Moisés que uma nação que cumprir todas as proposições do serviço divino será abençoada entre todas as outras. Testemunha abonada é a história para confirmar a verdade deste oráculo. De quantas nações pereceram, não existe uma que não a tenha merecido por ter esquecido a lei de Deus; e assim deve acontecer. Às vezes o Senhor espera antes de dar o golpe, mas é para que o castigo seja mais solene e exemplar. Queremos perceber a firmeza dos destinos de uma cidade? Observemos o seu grau de fidelidade às leis da Igreja. Se o seu direito público é baseado nos princípios e instituições do cristianismo, essa nação pode abrigar alguns germes de doenças, mas seu temperamento é robusto; as revoluções o agitarão, mas sem dissolvê-lo. Se a massa dos cidadãos é fiel na observância dos preceitos exteriores, se ela guarda, por exemplo, o dia do Senhor, as prescrições da Quaresma, há nisso um fundo moral que preservará as pessoas dos perigos da ruína. Talvez os economistas vejam nisso uma superstição pueril e tradicional, útil apenas para mantê-la fora de todo progresso; não importa. Que essa nação, até agora dócil e fiel aos mandatos divinos, tenha o infortúnio de dar ouvidos a essas teorias soberbas e tolas; um século não passará sem ter que lamentar que, emancipando-se da lei de Cristo, diminua o nível de moralidade pública e privada e seus destinos começam a oscilar. Pode o homem dizer, pode escrever o que quiser; Deus quer ser servido e honrado por seu povo e deseja dar suas normas de serviço e adoração. Qualquer tentativa contra o culto externo, que é o verdadeiro elo social, recairá com a massa de seu peso na construção dos interesses humanos. E embora a palavra do Senhor não tenha sido comprometida com ela, é de rigorosa justiça que seja assim.

EVANGELHO – Continuação do santo Evangelho segundo são Mateus. – NAQUELE tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João seu irmão, e os conduziu à parte, numa alta montanha. E se transfigurou diante deles: seu rosto resplandecia como o sol, suas vestes tornaram-se brancas como a neve. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, que falavam com ele. Pedro, então, tomando a palavra, disse a Jesus: “Senhor, como é bom para nós estar aqui! Se queres, fazemos aqui três tendas: uma será tua, outra de Moisés, outra de Elias.” Ele ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os envolveu na sua sombra; eis que, da nuvem, uma voz dizia: “Este é o meu Filho bem-amado, no qual eu pus a minha complacência, ouvi-o!” Ouvindo aquilo, tomaram os discípulos de rosto em terra, e foram tomados de grande medo. Então Jesus se aproximou, tocou-os e disse: “Levantai-vos, não tenhais medo.” E eles, erguendo os olhos, não viram mais ninguém, senão Jesus sozinho. E, descendo da montanha, Jesus lhes deu esta ordem:  “Não faleis a ninguém desta visão antes que o Filho do homem ressuscite dos mortos!”

DIGNIDADE DO SACERDÓCIO – Este Evangelho, que, como já explicamos, deve ser repetido amanhã, é aquele que é lido na Missa das Ordenações de hoje. Os antigos liturgistas, entre os quais podemos mencionar especialmente o sábio abade Ruperto, nos dão uma interpretação. A Igreja nos faz pensar na sublime dignidade conferida aos sacerdotes recém ordenados. Eles são representados pelos três Apóstolos que foram levados por Jesus para o alto da montanha e favorecidos com a visão de Sua glória. O restante dos Discípulos foi deixado ao pé da montanha. Pedro, Tiago e João foram os únicos autorizados a subir o Tabor e, quando chegasse a hora, deveriam contar aos seus companheiros Apóstolos e ao mundo inteiro como tinham visto a glória de seu Mestre e ouviram as palavras do Pai declarando a Divindade do Filho do Homem. Diz São Pedro, “porque ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando do seio da glória magnífica lhe foi dirigida esta voz: ‘Este é o meu Filho muito amado, em quem tenho posto todo o meu afeto’. Essa mesma voz que vinha do Céu nós a ouvimos, quando estávamos com ele no monte santo” (II Pd 1,17-18). De igual maneira, esses sacerdotes, que acabaram de ser ordenados e por quem os fiéis tem oferecido suas orações e jejum, entrarão na nuvem com o Senhor. Oferecerão o sacrifício de sua salvação no silêncio do cânon sagrado. Deus descerá em suas mãos, por sua causa, e apesar de serem mortais e pecadores, eles estarão, cada dia, em comunicação mais próxima com a Divindade. O perdão que esperais receber de Deus neste tempo de reconciliação passará por suas mãos, seu poder sobre-humano trará do Céu graças para vós. É assim que Deus curou nosso orgulho. A Serpente nos disse, através dos nossos Primeiros Pais: “Coma deste fruto e sereis como deuses”. Tivemos a infelicidade consentir a tão pérfida sugestão e o fruto de nossa prevaricação foi a morte. Deus, entretanto, queria nos salvar, mas para humilhar nossas pretensões nos possibilita a salvação por intermédio de homens. Seu Filho eterno Se fez homem e deixou depois de Si outros homens aos quais disse: “Como meu Pai Me enviou assim também Eu vos envio” (Jo 20,21). Honremos, pois, a Deus nesses homens que hoje foram objeto de tal distinção e entendamos bem que o respeito ao sacerdócio é parte integrante da Religião de Jesus Cristo.

ORAÇÃO – Oremos. Humilhai as vossas cabeças diante de Deus.

Ó DEUS, fortalecei os vossos fiéis com a bênção que desejam; por efeito dela nunca se desviem de vossa vontade e sempre se alegrem com os vossos benefícios. Por Nosso Senhor.

 


[1] O Papa Gelásio (492-496) organizou a Liturgia do Sábado das Têmporas e fixou neste dia as ordenações.

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