Oratório São José

A SEXTA-FEIRA DEPOIS DAS CINZAS

Ano Litúrgico - Dom Próspero Gueranger

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A SEXTA-FEIRA DEPOIS DAS CINZAS

Ano Litúrgico, Dom Próspero Gueranger

 

A Estação de hoje se celebra na igreja dos Santos Mártires João e Paulo.

 

COMENTÁRIOS SOBRE OS TEXTOS DA MISSA

COLETA – NÓS Vos suplicamos, Senhor, acompanhai com benigno favor os jejuns começados, a fim de que ofereçamos com o coração sincero a penitência que praticamos corporalmente. Por Nosso Senhor.

EPÍSTOLA – Leitura do Profeta Isaías. – EIS o que disse o Senhor Deus: Clama, não cesses; faze ressoar tua voz, qual trombeta, e anuncia a meu povo as suas iniquidades e à casa de Jacó, os seus pecados. Porque, de dia em dia me procuram e querem conhecer as minhas veredas, como um povo que houvesse feito justiça e não houvesse abandonado a lei do seu Deus. Pedem-me justos juízos, pois querem se aproximar de Deus. Por que jejuamos, dizem eles, se não olhastes para nós? Humilhamos as nossas almas e não o reparastes? É porque no dia de vosso jejum [diz o Senhor], fazeis prevalecer a própria vontade e perseguis todos os vossos devedores. Para fazerdes litígios e contendas é que jejuais e bateis com o punho, sem piedade alguma. Não jejueis mais, como o tendes feito até este dia para fazerdes chegar ao alto o vosso clamor. É este, porventura, o jejum de que gosto e que faz, que por um dia, o homem aflija sua alma? Porventura é esse, que lhe faz dobrar a cabeça como em círculo, ou deitar-se sobre um saco e sobre cinza? Acaso é a isto que chamais jejum e dia agradável ao Senhor? Não é antes melhor jejum, assim como eu o quero? Desprende as cadeias da impiedade, alivia os fardos que acabrunham, deixa livres aqueles que estão oprimidos e quebra toda sorte de jugo. Partilha com o faminto o teu pão e acolhe sob teu teto os pobres e os peregrinos. Quando vires um homem nu, veste-o e não desprezes tua própria carne. Então irromperá tua luz, como a aurora, e tua saúde logo voltará. Diante de ti caminhará tua justiça e a glória do Senhor te acompanhará. Então invocarás o Senho, e Ele te ouvirá. Clamarás a Ele e dir-te-á: Eis-me aqui, porque sou misericordioso, eu o Senhor, teu Deus.

O JEJUM AGRADÁVEL A DEUS – Nos é dito, nesta lição do profeta Isaías, quais são as disposições que devem acompanhar o nosso jejum. É o próprio Deus que aqui nos fala, aquele mesmo Deus que mandou seu povo jejuar. Ele nos diz que o jejum da comida material é um mero nada a seus olhos se aqueles que a praticam não se absterem também do pecado. Ele exige o sacrifício do corpo, mas isso não é aceito por ele a menos que a alma se sacrifique igualmente. O Deus vivo nunca consentiu em ser tratado como eram os deuses sem sentidos, de madeira e de pedra, que os gentios adoravam e que eram incapazes de receber qualquer outra coisa além de uma mera homenagem externa. Os filhos da Igreja jejuam porque o jejum é recomendado em quase todas as páginas tanto do Antigo como do Novo Testamento, e porque o próprio Jesus Cristo jejuou por quarenta dias; mas eles estão plenamente conscientes de que esta prática, que é assim recomendada e instada, é então meritória, quando é enobrecida e completada pela homenagem de um coração que está decidido a reformar suas inclinações cruéis. E, afinal de contas, seria uma injustiça, se o corpo, que foi levado à culpa apenas pela malícia da alma, sofresse, e a própria alma fosse autorizada a continuar em seu proceder pecaminoso.

EVANGELHO – Continuação do santo Evangelho segundo São Mateus. – NAQUELE tempo, disse Jesus a seus discípulos: Ouvistes o que foi dito: Amarás ao teu próximo e terás ódio a teu inimigo. Eu vos digo, porém: Amai a vossos inimigos; fazei bem àqueles que vos odeiam, rezai por vossos perseguidores e caluniadores, para que sejais filhos de vosso Pai que está nos céus. Este que faz o sol levantar-se sobre os bons e os maus, e faz chover sobre os justos e os injustos. Se amais apenas aqueles que vos amam, que recompensa mereceis? Não o fazem também assim os publicamos? E se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem assim os pagãos? Sede, pois, perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito. Evitai praticar vossas obras de justiça perante os homens para serdes vistos por eles, pois de outra forma não recebereis recompensa de vosso Pai que está nos céus. Quando deres esmolas, não mandes tocar trombeta adiante de ti, como os hipócritas o fazem nas sinagogas e nas ruas, para serem exaltados pelos homens. Em verdade, eu vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, a fim de que tua esmola fique em segredo. E teu Pai, que vê o que está escondido, te recompensará.

A ESMOLA – A esmola é a terceira das grandes obras penitenciais: é a virtude-irmã da oração e do jejum. Por isso, a Igreja põe diante de nós, hoje, as instruções dadas por nosso Salvador sobre a maneira pela qual devemos fazer as obras de misericórdia. Ele coloca em nós o dever de amar nossos semelhantes, sem distinção de amigos ou inimigos. Deus que criou a todos ama a todos, e isso é motivo suficiente para nos fazer mostrar misericórdia a todos. Quando, portanto, fazemos um ato de bondade ou misericórdia para com aqueles que têm Deus como seu Pai, oferecemos-lhe uma homenagem muito aceitável. A caridade, a rainha das virtudes, exige absolutamente de nós o amor ao próximo, como parte de nosso amor para com Deus; e esta Caridade, ao mesmo tempo em que é uma obrigação sagrada que incumbe a cada membro da família humana, é, nos atos que nos inspira fazer uns para os outros, uma obra de penitência, porque nos impõe certas privações e requer que superemos toda repugnância que a natureza desperta dentro de nós, quando temos que mostrar essa caridade a certos indivíduos. E finalmente, devemos, em nossas esmolas, seguir o conselho que nosso Abençoado Salvador nos dá: devemos fazê-la em segredo e evitar a ostentação. A penitência ama a humildade e o silêncio, tem medo de ser notado pelos homens.

ORAÇÃO – Oremos. – Humilhai as vossas cabeças diante de Deus.

PROTEGEI, Senhor, vosso povo, e clemente, purificai-o de todos os pecados, porque nenhuma adversidade o prejudicará, se nenhuma iniquidade o dominar. Por Nosso Senhor.

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